Pelo menos 1,4 milhão de famílias brasileiras podem ter omitido a existência do cônjuge para receber o Bolsa Família. A estimativa foi elaborada pela empresa DataBrasil, a pedido do Poder360, com base em dados do Ministério do Desenvolvimento Social e do IBGE.
O método mais comum consiste em registrar apenas a mãe como responsável, deixando o pai de fora por possuir vínculo empregatício ou renda incompatível com os critérios do programa. Dessa forma, o grupo familiar aparece como elegível, mesmo sem atender às exigências legais.
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Vídeos no YouTube que ensinam como burlar o sistema acumulam milhares de visualizações. Neles, usuários relatam práticas semelhantes, reforçando a ideia de que essa fraude se tornou rotina em algumas regiões.
Municípios como Guaribas, no Piauí, apresentam distorções evidentes. O Censo identificou 151 domicílios monoparentais, mas o Bolsa Família registra 617 famílias nessa mesma configuração. Isso representa 466 cadastros suspeitos de falsificação.


Os dados utilizados referem-se a março de 2025 e foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. Pela legislação atual, famílias só têm direito ao benefício se a renda per capita não ultrapassar R$ 218.
A ocultação de informações no Cadastro Único configura fraude ideológica
A ocultação de informações no Cadastro Único configura fraude ideológica. Mesmo assim, milhares de beneficiários permanecem recebendo os valores por longos períodos sem nenhuma checagem.
Em muitos casos, o pai e a mãe vivem juntos, mas cada um declara uma situação diferente ao governo. Ela aparece como mãe solo. Ele, como morador sozinho em situação de vulnerabilidade. Ambos, então, recebem o valor indevidamente.
Em 2,1 mil das 5,6 mil localidades brasileiras, foi identificado ao menos um caso de omissão de cônjuge. Manaus lidera em números absolutos, com mais de 15 mil registros suspeitos. Pracuúba, no Amapá, encabeça o ranking proporcional.


A cidade registra 157 domicílios monoparentais, mas apresenta 840 famílias cadastradas nesse perfil. O número chama atenção, já que o município tem mais de 300 trabalhadores com carteira assinada, além de aposentados e pensionistas.
Essas possíveis fraudes custam R$ 926 milhões por mês aos cofres públicos. Em um ano, o prejuízo chega a R$ 11,1 bilhões. Os valores poderiam atender famílias em situação real de miséria ou sustentar outros programas sociais.
Cruzamentos entre bases do Bolsa Família, BPC e Pé-de-Meia poderiam revelar irregularidades
O governo possui tecnologia suficiente para detectar inconsistências. Cruzamentos entre bases do Bolsa Família, BPC e Pé-de-Meia poderiam revelar irregularidades. Visitas presenciais também são recomendadas nas cidades com maior distorção.


De janeiro de 2024 a março de 2025, apenas 1,19 milhão de famílias passaram por verificação presencial. O número é baixo ante o universo de beneficiários.
Alguns dados reforçam as distorções. Existem 7 milhões de famílias no programa há mais de dez anos. Em dez cidades, o número de beneficiários supera a quantidade de casas registradas.
Desde o início do governo Lula, houve um corte tímido nas famílias unipessoais. Esse grupo cresceu durante a pandemia e permaneceu elevado mesmo depois do fim da emergência sanitária.