Por muito tempo o Sacramento Kings foi a franquia há mais tempo sem disputar os playoffs da NBA. O tabu foi quebrado em 2022/23, mas de lá pra cá uma série de mudanças transformaram aos poucos a cara da equipe. Sem grande sucesso. A franquia nunca mais voltou ao mesmo nível de competição e, agora, aposta em uma combinação que não empolga à primeira vista.
Mas no papel há qualidade. E na quadra, há mudanças no comando técnico e na armação. E considerando que a temporada passada, mesmo sendo considerada ruim, terminou muito perto dos 50% de aproveitamento, há espaço para se animar mais uma vez com Sabonis e companhia para, quem sabe, vermos novamente o raio roxo no céu de Sacramento.
Como foram os Kings na última temporada
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Campanha: 40 vitórias e 42 derrotas
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Classificação: 9° lugar na Conferência Oeste; eliminado no play-in pelo Dallas Mavericks
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O que aconteceu: o início de campanha muito ruim e que colocou os Kings na parte de baixo da classificação do Oeste culminou na demissão de Mike Brown, que tinha ganhado o prêmio de melhor técnico da NBA em 2023. Logo em seguida, veio a recuperação. Foram dez vitórias em um intervalo de 11 jogos, lideradas por algumas atuações monstruosas de Domantas Sabonis, que recolocaram a equipe na briga por vaga nos playoffs. As mudanças não ficaram apenas no treinador: uma troca tripla culminou na saída de De’Aaron Fox e chegada de Zach LaVine. Não deu tão certo assim. Os Kings ficaram pouco abaixo dos 50% de aproveitamento, disputaram o play-in e não conseguiram passar do Dallas Mavericks no primeiro jogo.
O elenco dos Kings para a temporada 2025/26
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Escolhas de Draft: Nique Clifford (ala-armador, 24ª escolha) e Maxime Raynaud (pivô, 42ª escolha)
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Quem mais chegou: Dennis Schroder (armador, Detroit Pistons), Isaiah Stevens (armador, Miami Heat), Daeqwon Plowden (ala-pivô, Atlanta Hawks), Drew Eubanks (pivô, Los Angeles Clippers), Dario Saric (pivô, Denver Nuggets) e Dylan Cardwell (pivô)
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Quem foi embora: Terence Davis (ala), Jake LaRavia (ala-pivô, Los Angeles Lakers), Trey Lyles (ala-pivô, Real Madrid/Espanha) e Jonas Valanciunas (pivô, Denver Nuggets)
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Provável time titular: Dennis Schroder, Zach LaVine, DeMar DeRozan, Keegan Murray e Domantas Sabonis
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Reservas: Devin Carter, Isaiah Stevens (armadores), Malik Monk, Keon Ellis, Nique Clifford (alas-armadores), Doug McDermott (ala), Isaac Jones, Daeqwon Plowden (alas-pivôs), Dario Saric, Drew Eubanks, Maxime Raynaud e Dylan Cardwell (pivôs)
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Técnico: Doug Christie
O clima para a temporada
Depois de uma temporada extremamente conturbada, o primeiro passo dos Kings em uma tentativa de estabilizar as coisas foi a definição do novo treinador. Na verdade, nem tão novo assim: Doug Christie, que já tinha assumido de forma interina depois da demissão de Mike Brown, foi efetivado no cargo.
A grande novidade no elenco foi a contratação de Dennis Schroder, que atuava como reserva no Detroit Pistons, mas que agora deverá assumir a titularidade na armação dos Kings. O alemão afirmou que o fator determinante para ter escolhido se mudar para Sacramento foi a mentalidade “durona” de Christie e de Scott Perry, gerente-geral da franquia.
Mas o que parece ter marcado mesmo a offseason dos Kings, ao menos na reta final, foi o interesse em Jonathan Kuminga. A esperança foi sendo alimentada ao mesmo tempo em que a renovação do ala com o Golden State Warriors se arrastava. Mas o sonho acabou, pelo menos por agora, já que Kuminga resolveu assinar um novo contrato com os Warriors.
Mesmo sem essa mudança, Christie terá muito trabalho pela frente. Ainda é preciso aprimorar o encaixe de Zach LaVine neste ataque e conseguir o que os Bulls falharam: combiná-lo com DeMar Derozan. Fazer ajustes no comportamento de Domantas Sabonis e acomodar Dennis Schroder em meio a tanta gente que gosta de ter a bola nas mãos são outras missões importantes para o treinador resolver no sistema ofensivo.
Do outro lado da quadra, a defesa precisa ser mais eficiente. O que só mostra o tamanho da lista de coisas a serem resolvidas nesta equipe se o plano ainda for o de competir por vaga nos playoffs do Oeste.
De qualquer maneira, saberemos rapidamente qual será o plano dos Kings. Afinal, o futuro está em jogo. A equipe só terá sua escolha de Draft em 2026 se ela for sorteada no top 10. Caso contrário, irá para o Atlanta Hawks. Ou seja, se os Kings perceberem rapidamente que não irão competir por uma vaga nos playoffs, talvez a melhor alternativa seja ‘abandonar’ a temporada, num movimento semelhante ao do Dallas Mavericks em 2023/24, para garantir seu espaço entre as dez primeiras escolhas do próximo ano, que promete levar bons jogadores à liga.
Abre aspas
“Vamos ser o time mais bem condicionado da NBA. Ou um dos melhores, pelo menos isso. Desde que assumi o cargo de treinador, tentei pensar na melhor maneira de chegar a esse objetivo e de fazer os jogadores comprarem essa ideia. É questão de se doar. Não é algo fácil, condicionamento físico já não é para todo mundo, e estar no topo de condicionamento físico em uma liga como a nossa definitivamente não é para todo mundo também. Mas é isso que fazer parte do Sacramento Kings representa.”
A declaração é do técnico Doug Christie, deixando bem claro o que espera dos seus jogadores para conseguirem competir em alto nível ao longo da temporada.
Uma esperança
Quando os Kings encantaram a NBA em 2022/23, chegaram a ter o melhor ataque da história da liga. Nos dois últimos anos, embora superados, ainda tinham uma força ofensiva considerável. No ano passado a equipe esteve entre os dez ataques mais eficientes, apesar de uma queda após a saída de De’Aaron Fox.
Com Schroder, LaVine e Sabonis, tudo indica que há espaço para os Kings manterem seu espaço no topo das estatísticas ofensivas. Mas alguns desafios precisam ser superados.
O primeiro é não cair o ritmo com DeMar DeRozan, que gosta de desacelerar o jogo e manter a bola em suas mãos. Depois, esquentar novamente as mãos de Keegan Murray. O ala-pivô ainda é jovem, tem apenas 24 anos, e vai para seu quarto ano na NBA. Mas o ótimo aproveitamento de 41% nos chutes longos em seu ano de calouro deram lugar a modestos 35% nas duas últimas temporadas. Em um elenco com poucos chutadores natos, é vital que Murray volte a ser o grande gatilho da equipe.
A volta de Malik Monk para a segunda unidade também pode ser muito bem aproveitada. Não como um ‘rebaixamento’ do armador, mas sim por manter o nível e a intensidade ofensiva mesmo quando o elenco rodar. Na última temporada, Monk precisou ser titular em boa parte do ano, ‘desfalcando’ a segunda unidade.
Um medo
Em 2024/25 os Kings foram o time que permitiu o maior aproveitamento do perímetro aos adversários: 38,1% de acerto. Um índice péssimo, ainda mais na era dos três pontos na NBA, o que acaba anulando as qualidades ofensivas do time.
É bem verdade que não era exatamente uma falha, mas uma aposta num sistema mal executado: os Kings privilegiaram a defesa de garrafão, essa sim, efetiva. Só que isso não significa que está tudo bem ser a pior no perímetro. Pelo contrário: além de levar muitos pontos, os acertos adversários também minam as oportunidades de contra-ataque e a velocidade de nomes importantes do elenco, como Schroder, Malik Monk, LaVine, e o calouro Nique Clifford.
O que mais causa apreensão é que os nomes que chegaram a Sacramento não inspiram uma grande mudança no âmago defensivo do time. ‘Apenas’ a mudança no comando técnico pode ser suficiente? É a pergunta de um milhão de reais na California.
Pelo menos, pior que isso não deve ficar. E mesmo com este gargalo defensivo, o time teve uma campanha de quase 50% de aproveitamento e chegou ao play-in. Uma leve melhora, por tanto, já pode ser suficiente para melhorar consideravelmente o desempenho do time.
O cara
Domantas Sabonis não foi o cestinha dos Kings na temporada passada, mas foi quase. E mesmo que não tenha sido, não é exagero apontá-lo como o coração deste time e dizer que a melhor fase na campanha ao longo do último ano coincide com momentos em que ele teve maior impacto dentro de quadra. Não à toa, o time venceu mais do que perdeu nos jogos em que o pivô atuou — coisa que não aconteceu com os outros grandes pontuadores do elenco.
Foram 19,1 pontos, 13,9 rebotes e 6,0 assistências por jogo para Sabonis na última temporada, com um ótimo aproveitamento de 41,7% nas bolas de três pontos, o que influenciou bastante no índice alto de 62,7% em eficiência nos arremessos (estatística que dá um peso maior a esse tipo de chute por eles terem maior valor).
Vale observar que esse número de assistências por partida pode até chamar a atenção por se tratar de um pivô, mas é consideravelmente mais baixo do que Sabonis tinha registrado nas duas temporadas anteriores.
O pivô chegou a admitir que não se sentiu totalmente à vontade no ataque nos últimos meses, mas afirmou estar confiante de que o sistema ofensivo que o técnico Doug Christie pretende implementar vai o permitir voltar a fazer o que sabe de melhor. É algo interessante para se prestar atenção nos Kings daqui para frente.
Também vale a pena ficar de olho
Campeão e MVP do Eurobasket, o alemão Dennis Schroder encantou os olhos do mundo do basquete antes do início da NBA. Mas na principal liga do mundo ele nunca conseguiu ter regularidade no mais alto nível. Só que além do excelente desempenho com a seleção germânica, seus momentos no Detroit Pistons também encheram os olhos na última temporada.
Mas os Kings têm muitos jogadores que gostam de ficar muito tempo com a bola nas mãos. Como será sua distribuição com DeRozan, LaVine e até com Sabonis? E mais: De’Aaron Fox nunca foi conhecido por sua defesa, pelo contrário, mas tampouco Schroder. Ainda assim, o alemão é mais alto e mais físico que seu antecessor e espera-se que haja um incremento defesa com ele em quadra.
No final das contas, será mais uma grande oportunidade, talvez a melhor de sua carreira, para Schroder mostrar que não é ‘apenas’ um craque do mundo FIBA.
Grau de apelo para o telespectador – de 1 a 5
3,5 (médio para alto) – Os Kings têm peças valiosas no ataque, mas ainda não dá para saber se elas vão se encaixar da melhor maneira. A defesa é outra incógnita. Tudo isso pode até fazer com que esse time nem seja tão competitivo assim, mas as chances de proporcionarem jogos que conquistem a atenção do fã de NBA não são pequenas.
Palpite para a temporada 2025/26 dos Kings
No cenário mais otimista: Sabonis tem a melhor temporada da vida, o sistema ofensivo dá um jeito de ficar entre os cinco mais eficientes da liga e os Kings conseguem beliscar uma vaga no play-in, talvez até chegando à primeira rodada dos playoffs se os cruzamentos forem favoráveis.
No cenário mais pessimista: mais derrotas do que vitórias em uma Conferência Oeste tão recheada de times fortes, mas provavelmente com uma campanha um ou dois degraus acima das piores da liga, o que jogaria contra as chances de acabar com a primeira escolha do próximo Draft, ou até mesmo faria com que a equipe perdesse sua pick, caso ela não seja uma das dez primeiras.
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