Imagine acordar do seu pior pesadelo e, quase numa compensação da ‘justiça divina’, receber um super presente inesperado. Foi mais ou menos essa a vida dos torcedores do Dallas Mavericks na última temporada. Em tese, ganharam rapidamente um substituto para Luka Doncic na figura de Cooper Flagg, primeira escolha no Draft da NBA.
Mas passado o período de sonhos, chegou a hora de ver se em quadra o time irá corresponder. Com Anthony Davis ‘mentor’ de Flagg, a equipe tem um elenco qualificado, mas uma enorme carência na armação enquanto Kyrie Irving segue se recuperando de uma grave lesão.
O grande desafio é desenvolver Flagg e manter a competitividade enquanto o grande armador não volta às quadras. As expectativas são altas, e os torcedores de Dallas não querem relembrar o peso do pesadelo recente.
Como foram os Mavs na última temporada
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Campanha: 39 vitórias e 43 derrotas
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Classificação: 10° lugar na Conferência Oeste; derrotado no play-in para o Memphis Grizzlies
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O que aconteceu: Luka Doncic foi trocado. Muita coisa ocorreu antes e depois disso, mas é impossível contar a temporada dos Mavs sem iniciar com a saída do ídolo esloveno. Antes da troca, a campanha era de 26 vitórias e 23 derrotas. Após, 13 vitórias e 20 derrotas. No meio do caminho, mais uma notícia devastadora: Kyrie Irving rompeu o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo e ficou fora da temporada a partir de março. Mas no apagar das luzes, a sorte sorriu para os texanos com a improvável primeira escolha do Draft.
O elenco dos Bulls para a temporada 2025/26
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Escolhas de Draft: Cooper Flagg (ala, 1ª escolha)
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Quem mais chegou: D’Angelo Russell (armador, Brooklyn Nets), Ryan Nembhard (armador), Miles Kelly (armador), Matthew Cleveland (ala-armador), e Moussa Cisse (pivô)
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Quem foi embora: Spencer Dinwiddie (armador, Charlotte Hornets), Olivier-Maxence Prosper (ala-pivô, Memphis Grizzlies), Kessler Edwards (ala-pivô, Denver Nuggets), Moses Brown (pivô) e Kai Jones (pivô)
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Provável time titular: D’Angelo Russell (Kyrie Irving), Cooper Flagg, PJ Washington, Anthony Davis e Daniel Gafford
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Reservas: Dante Exum, Brandon Williams, Ryan Nembhard, Miles Kelly (armadores), Max Christie, Jaden Hardy, Matthew Cleveland (alas-armadores), Klay Thompson, Caleb Martin (alas), Naji Marshall (ala-pivô), Dwight Powell, Dereck Lively II e Moussa Cisse (pivôs)
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Técnico: Jason Kidd
O clima para a temporada
Não fossem os deuses da loteria do Draft, o clima em Dallas seria de muita tensão para saber se o risco de trocar Luka Doncic se pagaria. Mas diante das circunstâncias, há uma boa expectativa para o que os Mavs poderão fazer na temporada.
No garrafão há segurança: Anthony Davis, Dereck Lively, Daniel Gafford e até PJ Washington e Naji Marshall dão profundidade, variedade e qualidade nos dois lados da quadra.
O problema é o restante do elenco. A chegada de Cooper Flagg, naturalmente, foi extremamente festejada. O calouro, primeira escolha do Draft de 2025, é considerado como um dos melhores novatos americanos desde LeBron James. Mas sua função ainda é uma incógnita. Em algumas entrevistas a comissão técnica dos Mavs já declarou que ele deve ter grande papel na organização da equipe, mesmo sem ser sua função primária no universitário.
Após Kyrie Irving voltar, é claro, a armação deve voltar para as mãos do Uncle Drew. Mas a recuperação do armador só deve acontecer em meados de janeiro. Até lá, os Mavs terão que contar com D’Angelo Russell, melhor armador disponível para segurar as pontas enquanto Kyrie se recupera.
Ofensivamente até faz sentido. Mas considerando os problemas defensivos de Russell, e uma das principais justificativas para a troca de Doncic ser a melhora na defesa trazida por Anthony Davis, é uma movimentação, no mínimo, peculiar.
O restante do elenco, com Klay Thompson, Jaden Hardy, Max Christie, Dennis Smith Jr., Caleb Martin e Dante Exum é qualificado, mas precisam de uma organização maior que a vista na segunda metade da última temporada para poderem de fato contribuir.
Abre aspas
“A partir do momento em que tivermos a volta do Kyrie Irving, não consigo enxergar por que nós não seríamos capazes de vencer o título.”
A opinião cheia de otimismo pertence a Klay Thompson. Se tiver razão lá na frente e os Mavericks acabarem sendo os próximos campeões da NBA, será ainda mais curioso ver o que terá a dizer Nico Harrison, o homem que achou que ficaria mais perto de um título no curto prazo se trocasse Luka Doncic por Anthony Davis.
Uma esperança
Nem sempre a primeira escolha de um Draft é óbvia. Não são raros os exemplos de times que vencem a loteria e conquistam o direito de selecionar antes do resto, mas se veem perdidos em meio a uma safra que não ajuda tanto. Não existe um consenso, uma escolha óbvia, aquele jogador que todo mundo sabia que sobrava em relação aos demais prospectos, que vai chegar à NBA e não vai demorar muito par virar estrela.
Não é o caso dos Mavs. Cooper Flagg sempre foi essa escolha óbvia. E quando se tem um calouro nessas condições, fica muito difícil pensar em qualquer outra esperança. Porque o que esse time recebeu foi a oportunidade de construir o futuro em torno de um jovem extremamente talentoso. Então enquanto o ala de 18 anos estiver saudável e correspondendo minimamente às expectativas criadas, o fã de basquete em Dallas terá motivos para ficar esperançoso.
Para não ficar apenas na escolha número 1 do Draft e apontar algo mais imediato em uma equipe que foi finalista da NBA duas semanas atrás, a esperança é que Flagg cause um impacto imediato e, como consequência, ajude a destravar o ataque abrindo espaços para todas as peças que estiverem em volta.
Pode até parecer otimismo, mas também não chega a ser um absurdo pensar na ideia de ele permitir que Klay Thompson e D’Angelo Russell, por exemplo, tenham melhores condições para pontuar a partir do desequilíbrio que o calouro causar. Especialmente se Anthony Davis, outro jogador capaz de atrair dobras e bagunçar defesas rivais, também estiver em quadra.
Um medo
Exceto em 2021/22, quando Jason Kidd assumiu o comando dos Mavs, a equipe sempre ficou na metade de baixo do ranking das defesas. Em 2024/25 foram 116,05 pontos sofridos a cada 100 posses de bola, apenas a 21ª da liga. Os aproveitamentos eram satisfatórios, mas o volume de arremessos adversários foi alarmante.
Muito disso por conta da dificuldade da equipe nas disputas de rebotes. Os Mavs foram os segundos que mais cederam rebotes ofensivos, e os sextos que mais cederam rebotes totais.
Enquanto Luka estava em quadra, os números ofensivos compensavam. Mas sem o esloveno, Jason Kidd vai precisar reestruturar mais uma vez a defesa da equipe e construir o sistema ao redor de Flagg e Anthony Davis. Considerando o material humano, não parece ser uma tarefa impossível.
Mas dessa vez não basta ser apenas uma defesa ‘ok’. O sistema precisará compensar a ausência de um dos principais jogadores da seleção ao mesmo tempo que lida com a lesão de Kyrie Irving. E uma dupla de armação formada por D’Angelo Russell e um Klay Thompson envelhecido e sem a mobilidade de outros tempos só colabora para toda essa preocupação.
O cara
‘Os Lakers precisam trazer outro pivô. Me sinto muito mais efetivo como ala/pivô.’ A fatídica frase de Anthony Davis dias antes de ser trocado para os Mavs ganhou até um tom cômico. De certa forma, o astro teve seu pedido atendido, mas por outra franquia.
Um dos melhores defensores da NBA na posição, AD terá a companhia de Gafford e Lively em quadra, permitindo que jogue na posição que, de fato, teve os melhores anos da carreira.
No ataque, Davis também é uma potência. Exceto na temporada de calouro, ainda em 2012/13, teve 20 ou mais pontos por partida em todas as temporadas. O problema é que em muitas delas ele não conseguiu se manter saudável por muito tempo. Em quatro das últimas cinco, atuou por 56 jogos ou menos.
Também vale a pena ficar de olho
Não tem como não citar Cooper Flagg aqui. Mesmo alguns bons meses antes do Draft, não era segredo para ninguém que o ala de 18 anos seria selecionado na primeira escolha. A única dúvida que existia era qual time teria mais sorte que o resto na loteria e ficaria em posição de recrutá-lo. E quem levou a melhor nessa história foram os Mavs.
Algumas comparações otimistas o remetem a Scottie Pippen e Jayson Tatum. Muito por causa da combinação de tamanho, envergadura, conforto para iniciar as jogadas de ataque, habilidade como passador e capacidade de pontuar com naturalidade. Há quem diga que mesmo se as coisas não funcionarem tanto assim para ele, Flagg se mostrará na NBA um jogador parecido com Lamar Odom ou Andrei Kirilenko – o que estaria longe de ser uma tragédia, convenhamos.
Grau de apelo para o telespectador – de 1 a 5
(3,5) médio para alto – Todos os times que não se importaram muito em acumular derrotas na temporada passada, na verdade, não estavam simplesmente sonhando com a primeira escolha do Draft. Estavam sonhando era com Cooper Flagg. O projeto tinha nome. É natural, portanto, a curiosidade sobre como essa história na NBA vai começar. Claro que o elenco tem também Anthony Davis e um dia voltará a contar com Kyrie Irving. Mas a simples presença de Flagg já basta para uma nota acima da média por aqui.
Palpite para a temporada 2025/26 dos Bulls
No cenário mais otimista: Cooper Flagg tem um grande impacto logo de cara, Anthony Davis se mantém saudável e Kyrie Irving volta em alto nível. Os Mavs mantêm a regularidade ao longo de toda a temporada e garantem vaga direta aos playoffs.
No cenário mais pessimista: A instabilidade toma conta desde o início da temporada, Flagg não decola, a defesa dos Mavs não torna a encaixar. Numa Conferência Oeste disputada, mesmo se apenas alguns desses fatores ocorrerem, talvez seja o suficiente para relegar Dallas ao play-in por mais uma temporada.
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