Um pouco de como a salsicha é feita: durante a elaboração das análises da temporada da NBA, evitamos ao máximo colocar eventuais lesões em questão. Afinal, mesmo o campeão Oklahoma City Thunder sofreria muito caso perdesse Shai Gilgeous-Alexander, por exemplo.
Mas quando se trata de New Orleans Pelicans não há saída – e também com o Philadelphia 76ers, que terá sua própria análise. A equipe espera há anos uma temporada saudável, tanto do astro Zion Williamson, quanto dos seus companheiros de time. Não foi o que aconteceu nos últimos meses, e as soluções encontradas para 2025-26 são, no mínimo, arriscadas.
Como foram os Pelicans na última temporada
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Campanha: 21 vitórias e 61 derrotas
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Classificação: 14° lugar na Conferência Oeste
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O que aconteceu: A temporada já começou sem Trey Murphy. Num intervalo de semanas, Zion Williamson, Herb Jones, Dejounte Murray, Brandon Ingram e Jose Alvarado também viraram desfalques. O que se viu em seguida foram longas sequências de derrotas, culminando em um dos anos mais melancólicos da franquia. Para piorar, ficaram apenas com a 7ª escolha no Draft.
O elenco dos Pelicans para a temporada 2025/26
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Escolhas de Draft: Jeremiah Fears (armador, 7ª escolha), Derik Queen (pivô, 13ª escolha) e Micah Peavy (ala-armador, 40ª escolha)
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Quem mais chegou: Jordan Poole (armador, Washington Wizards), Jaden Springer (ala, Utah Jazz), Trey Alexander (ala-armador, Denver Nuggets), Saddiq Bey (ala, Washington Wizards), Garrison Brooks (ala), Jalen McDaniels (ala-Washington Wizards), Hunter Dickinson (pivô) e Kevon Looney (pivô, Golden State Warriors)
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Quem foi embora: Elfrid Payton (armador), CJ McCollum (armador, Washington Wizards), Antonio Reeves (armador, Charlotte Hornets), Bruce Brown (ala, Denver Nuggets), Lester Quiñones (ala, Orlando Magic), Jeremiah Robinson-Earl (pivô) e Kelly Olynyk (pivô, Washington Wizards)
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Provável time titular: Jordan Poole, Dejounte Murray, Trey Murphy III, Zion Williamson e Yves Missi
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Reservas: Jose Alvarado, Jeremiah Fears e Jordan Hawkins (armadores), Micah Peavy e Trey Alexander (alas-armadores), Saddiq Bey, Brandon Boston Jr. Jaden Springer, Jalen McDaniels e Garrison Brooks (alas), Karlo Matkovic (ala-pivô), Derik Queen, Kevon Looney e Hunter Dickinson (pivôs)
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Técnico: Willie Green
O clima para a temporada
2025-26 começou ainda em abril para os Pelicans. A franquia trocou o comando: David Griffin deu lugar a Joe Dumars como vice-presidente de operações. Campeão em 2003-04 com o Detroit Pistons, franquia que defendeu por 15 anos como jogador até 1999, Dumars não apresentou grandes resultados desde então, incluindo o período no Sacramento Kings.
Os rumores davam conta que o novo executivo chegaria para instituir uma nova era nos Pelicans, começando por uma troca de Zion Williamson. Mas o ‘ex-bad boy’ resolveu apostar em Zion, garantindo que o craque do time estará saudável.
No Draft, porém, fez a movimentação mais contestada de toda a offseason. Em troca da escolha 13, que virou o pivô Derik Queen, enviou para o Atlanta Hawks a escolha 23 e a primeira rodada de 2026, que poderá ser em uma posição bem alta caso os Pelicans tenham novamente um ano ruim.
A troca mostrou confiança de que o ano será bom e a pick será baixa, de qualquer maneira. Mas ainda na pré-temporada, Derik Queen sofreu uma grave lesão no punho e será desfalque nos primeiros meses da NBA.
Além disso, trocou CJ McCollum por Jordan Poole e Saddiq Bey e contratou Kevon Looney, tentando aumentar a profundidade do elenco. O que pouco muda a perspectiva para mais uma temporada em que os holofotes estarão novamente voltados para Zion e o departamento médico.
Abre aspas
“A primeira coisa que eu diria sobre Zion é que ele é um cara incrivelmente legal. É realmente uma boa pessoa. E obviamente é muito talentoso. Temos tido algumas conversas incríveis, estamos constantemente em contato. Falei com ele sobre a responsabilidade de ser um grande jogador e de exercer liderança em um time, de ser o capitão, o melhor jogador, o rosto de uma franquia. Falei também sobre como todas essas coisas vêm acompanhadas de muita responsabilidade e como agora é hora de ele, aos 25 anos, abraçar essas responsabilidades.”
Foi isso o que disse Joe Dumars, novo vice-presidente de operações de basquete dos Pelicans, sobre o início da relação com Zion Williamson, principal jogador da equipe. A julgar pelo o que fez na offseason, quando mandou para Atlanta a escolha de primeira rodada que teria no Draft de 2026, parece que Dumars e os Pelicans estão confiando bastante que Williamson permanecerá saudável e irá liderar um time competitivo nesta próxima temporada.
Uma esperança
Superadas as lesões, os Pelicans têm material humano o suficiente para se tornarem uma das grandes defesas da liga. Herb Jones, Jose Alvarado, Yves Missi e o próprio Zion Williamson podem garantir uma boa cobertura em todos os pontos da quadra.
E o técnico Willie Green já mostrou que tem capacidade para montar bons esquemas em New Orleans. Tanto em 2022-23, quanto em 2023-24, seus melhores anos à frente da franquia, os Pelicans tiveram o sexto melhor defensive rating (pontos sofridos a cada 100 posses de bola), com 113 pontos em ambos os anos. Mas se para ter um bom ataque já é preciso de consistência e presença dos principais nomes do time em quadra com frequência, na defesa a necessidade é ainda maior.
Um medo
Novamente, além do temor das lesões, os Pelicans precisam de um melhor aproveitamento no perímetro. É bem verdade que não é muito preciso utilizar uma temporada tão desfalcada como parâmetro, mas em 2024-25 a equipe foi a quarta que menos acertou chutes para três pontos, com apenas 12 por jogo. O aproveitamento foi o sétimo pior da liga, com 34,7%.
Para piorar, dos cinco jogadores com maior aproveitamento no último ano, apenas Trey Murphy, com 36%, permaneceu na equipe. Por mais que Jordan Poole venha da melhor temporada da carreira, com quase 38% em quase nove tentativas por jogo, Saddiq Bey e Jeremiah Fears não são confiáveis do perímetro.
Por fim, a mudança praticamente completa na armação, com Poole e Fears ao lado dos remanescentes Jose Alvarado e Jordan Hawkins, que são carregadores de bola secundários, Willie Green pode ter dificuldades em acertar o novo estilo ofensivo da equipe a tempo de começar bem a temporada.
O cara
Das seis temporadas desde que chegou à NBA, Zion só jogou mais da metade em duas. Em 2020-21, foram 29 vitórias em 61 jogos (47% de aproveitamento). Sem ele, apenas duas vitórias em dez jogos (20%). Já em 2023-24, foram 42 vitórias em 70 jogos (60% de aproveitamento), 7° lugar no Oeste e classificação aos playoffs.
É nítido que os Pelicans se tornam uma equipe competitiva quando Zion está em quadra. Dominante tanto no ataque, quanto na defesa, é uma ameaça até longe do garrafão, com os cortes em direção à cesta.
Muitos rumores tratavam de uma possível troca do astro e início de uma nova era em New Orleans. Mas Joe Dumars parece confiar que esta possa, enfim, ser a grande temporada de Zion, que na época do Draft era tratado como o melhor calouro desde LeBron James. Nas entrevistas de pré-temporada, o ala-pivô apareceu visivelmente mais magro do que nas vezes que entrou em quadra no último ano, o que animou a torcida.
Também vale a pena ficar de olho
Quase dois roubos de média por partida, uma proteção confiável próximo ao aro e uma leitura de qualidade ímpar. Herb Jones tem tudo para ser um dos pilares defensivos dos Pelicans em 2024-25. Eleito o 5° melhor defensor e presente no time ideal de defesa de 2023-24, o ala foi apontado por Luka Doncic como um dos jogadores que mais lhe dão dor de cabeça.
Além disso, também em 2023-24, teve 41,8% de aproveitamento nos chutes de três pontos, melhor marca da carreira. Mas atuou em apenas 20 jogos na temporada passada, quando precisou fazer uma cirurgia no ombro. Se estiver recuperado, pode elevar o nível da equipe ao melhor patamar da década.
Grau de apelo para o telespectador – de 1 a 5
2 (baixo) – Zion Williamson é um jogador muito legal de se ver quando está em quadra, mas parece que nunca dá para saber com que frequência isso vai acontecer. Se isso acontecer, essa nota dos Pelicans aumenta ao longo da temporada. Mas diante do histórico que se apresenta, não é recomendável depositar tanta esperança nisso.
Palpite para a temporada 2025/26 dos Pelicans
No cenário mais otimista: com todos saudáveis, os Pelicans são um bom time. Conseguem vitórias contra times mais fortes, Yves Missi e Jeremiah Fears se tornam atletas de presença confiável na NBA e, quem sabe, a equipe pode até sonhar com o play-in.
No cenário mais pessimista: ninguém fica saudável novamente, a paciência com Zion se esgota, e os Pelicans nem poderão torcer por uma boa posição no Draft para iniciar uma reconstrução, já que não têm a própria pick em 2026.
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