Todo Estado dá relevo à história nacional, inclusive nos campos de batalha onde se lutou por uma vida mais justa. No Rio Grande do Sul, a Revolução Farroupilha é motivo de orgulho. Na Bahia, Maria Quitéria é símbolo de bravura: a mulher que virou soldado para libertar o Brasil. E, em São Paulo, o dia 9 de Julho marca a memória de uma guerra contra a opressão — é a lembrança de quem não quis se curvar aos caprichos de um ditador.
“Essa história mostra que os paulistas estavam certíssimos ao se oporem ao golpe de Getúlio Vargas”, comenta Leandro Narloch, jornalista especializado em história. “Deve ser comemorada sempre. É motivo de orgulho.”
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A insurreição aconteceu em 1932. O Estado levantou armas para combater os desmandos de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil. Ele chegou ao comando em 1930, depois de um golpe.


O chefe autoritário queria mandar sem regra alguma que limitasse sua sede por poder. A revolta entrou para a história como a Revolução Constitucionalista de 1932. Os paulistas queriam impedir que o país continuasse sem uma Constituição — algo indispensável até para repúblicas de bananas, e ainda mais fundamental a um grande país que deseja ser levado a sério como nação.
MMDC: o estopim do levante
As batalhas começaram depois que soldados do governo federal abriram fogo contra um protesto civil na capital paulista. Os disparos aconteceram em 23 de maio de 1932. De acordo com a Assembleia Legislativa do Estado, os disparos mataram quatro estudantes: Mário Martins de Almeida (24 anos), Euclides Miragaia (21 anos), Dráusio Marcondes de Souza (21 anos) e Antônio Américo Camargo de Andrade (18 anos).
A morte dos jovens deu início ao movimento clandestino MMDC. Em homenagem aos mártires, leva a primeira letra de parte dos nomes: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo.


Por meio do MMDC, houve a conspiração contra a ditadura. Nos meses seguintes, a tensão deu lugar às batalhas armadas. A resistência foi além das ruas.
Aviões das tropas leais a Getúlio Vargas despejaram bombas sobre as cabeças dos brasileiros que moravam no Estado. Entre os alvos, Campinas — uma das principais cidades paulistas. Embora tenha causado pânico à população, o ato não encerrou o embate. A guerra ainda se estendeu.
A resistência se manteve e terminou em 2 de outubro, quando houve a deposição de Pedro de Toledo, chefe do governo paulista. Em seguida à queda, todos os 77 cabeças da revolução foram enviados para uma prisão no Rio de Janeiro — sede do governo brasileiro na época.


Depois, a pena dos líderes se converteu em exílio na Europa. Não se sabe ao certo o número de vítimas. Algumas estimativas arriscam 2 mil mortos, contando todos os lados do conflito. Um número, porém, é certeiro: no mesmo túmulo onde repousam os restos mortais dos estudantes do MMDC, também estão os corpos de outros 713 soldados de São Paulo que morreram na guerra contra a opressão.
Por que 9 de Julho?
Embora 23 de maio seja simbólico para o início da revolta, o 9 de julho marca a virada oficial do governo estadual contra o governo Vargas. Os comandantes das forças militares do Estado publicaram um manifesto. “Neste momento, assumimos as supremas responsabilidades do comando das forças revolucionárias, empenhadas na luta pela imediata constitucionalização do país”, declararam o general Isidoro Dias Lopes e seu imediato, o coronel Euclydes Figueiredo.


Na madrugada de 9 para 10 de julho, Pedro de Toledo, maior aliado do ditador no Estado, mudou de lado. Ele renunciou ao cargo de interventor de Getúlio Vargas. Na mesma hora, as lideranças paulistas o elegeram governador para liderar a resistência.
São Paulo recua, mas vence contra a opressão
De fato, as forças federais conseguiram se sobrepor aos soldados paulistas. Porém, a vitória na linha de frente não se repetiu na batalha política. Em 1933, o ditador teve de ceder e convocar eleições para formar a assembleia constituinte. Em 16 de julho de 1934, o Brasil amanheceu sob uma nova Constituição — uma vitória de São Paulo contra a opressão.