RIO DE JANEIRO (Reuters) -O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) referendou recomendação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para a retomada do horário de verão no Brasil, mas a medida ainda requer mais análises, disse nesta quinta-feira o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
A medida, que depende de uma decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode entrar em vigor ainda em 2024, em momento em que o país busca otimizar a geração de energia diante de uma condição mais seca do parque hidrelétrico.
O ministro citou que há um ‘estresse’ no sistema no final da tarde e começo da noite, quando os parques solares deixem de gerar, para justificar a eventual volta do horário de verão, que adianta os relógios em uma hora, mas reafirmou que, apesar da seca que afeta as hidrelétricas — que respondem por mais de 50% da geração no país — não há risco de crise energética.
‘O horário (de verão) tem grau de economicidade, mais confiança na ponta (do consumo de energia). Mas, considerando a tranquilidade de que não faltará energia no país, diria que não estou convencido, e quero buscar outros instrumentos de maior resiliência’, afirmou o ministro em entrevista a jornalistas.
Silveira parece ter baixado o tom sobre o assunto após a reunião nesta quinta-feira do CMSE, órgão formado por integrantes do ONS, Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), entre outros.
Mais cedo nesta semana, ele havia dito que, com a severa seca reduzindo os reservatórios das hidrelétricas, a volta do horário de verão no Brasil passaria a ser uma ‘realidade muito premente’.
Na entrevista desta quinta-feira, Silveira afirmou: ‘Minhas decisões são pautadas na ciência e técnicos, mas ouvindo as recomendações eu ainda não me convenci da necessidade da decretação do horário de verão’.
O ministro citou ainda que o horário de verão poderia gerar uma economia de 400 milhões de reais — um valor que ele considerou pouco relevante, ressaltando que o mais importante é a segurança para o setor elétrico.
ADAPTAÇÃO
O ministro também admitiu a necessidade que de que o horário de verão precisa ser definido com previsibilidade.
‘Se tiver horário, vamos dar tempo para que os setores possam se adaptar porque mexe com a vida de todos brasileiros’, afirmou.
O possível retorno do horário de verão no Brasil deve provocar efeitos distintos sobre atividades econômicas, devendo agradar o setor de bares e restaurantes, mas causar um problema logístico para companhias aéreas, ao forçar uma reprogramação principalmente de voos internacionais, conforme reportagem da Reuters publicada na véspera.
No setor de energia, a percepção é de que o adiantamento dos relógios em uma hora pode ajudar a reduzir a pressão sobre o sistema elétrico no fim da tarde, quando as usinas solares deixam de gerar ao mesmo tempo em que o consumo está no pico, conforme o ministro.
É essa dificuldade de ‘atendimento de ponta’ que tem levado o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a acionar mais termelétricas, aumentando os custos na conta de luz.
O ministro destacou que o governo sempre se pauta por medidas com foco na ‘modicidade tarifária’.
Os ganhos ao sistema elétrico com o retorno do horário de verão, no entanto, podem não ser tão relevantes assim, uma vez que ele garante uma hora a mais de geração solar no momento do dia em que os níveis de insolação já são menores.
Antes, o horário de verão deslocava o consumo em momento de pico, mas agora a avaliação é de que o total demandado de energia não se altera de forma significativa ao longo do dia — um dos argumentos para acabar com a política em 2019.
(Por Rodrigo Viga Gaier; texto de Roberto Samora; edição de Pedro Fonseca)