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atletas fazem gesto antirracista nas Olimpíadas

No dia 17 de outubro de 1968, durante os Jogos Olímpicos da Cidade do México, Tommie Smith e John Carlos fizeram um gesto antirracista que se tornou um dos momentos mais marcantes da história do esporte.

No pódio, depois de Smith conquistar a medalha de ouro nos 200 metros, e Carlos a medalha de bronze, ambos levantaram seus punhos durante a execução do hino nacional dos Estados Unidos.

A cena, amplamente conhecida como a “saudação do black power” (“poder negro” ou “poder dos negros”), tornou-se um símbolo de resistência nos Estados Unidos.

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O gesto de Smith e Carlos não foi uma ação espontânea. Na verdade, ele foi resultado de uma longa preparação e de um processo de conscientização que se desenvolvia entre os atletas negros desde meados da década de 1960.

Sob a liderança do sociólogo Dr. Harry Edwards, foi criado o Projeto Olímpico pelos Direitos Humanos (OPHR, na sigla em inglês), que visava a organizar um boicote dos atletas afro-americanos aos Jogos Olímpicos, como forma de denunciar as injustiças raciais nos Estados Unidos.

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Entre as principais demandas do OPHR estavam a remoção da África do Sul e da Rodésia das Olimpíadas, por causa do regime de apartheid, e a devolução do título mundial de boxe de Muhammad Ali, que havia sido cassado depois de recusar a participação na Guerra do Vietnã.

Embora o boicote total não tenha se concretizado, o gesto de Smith e Carlos no pódio representou o espírito do OPHR. Além dos punhos cerrados e das luvas pretas, eles apareceram descalços no pódio, o que simboliza a pobreza enfrentada pelos negros nos Estados Unidos. Carlos usava uma jaqueta desabotoada, em solidariedade aos operários norte-americanos, e ambos exibiam colares de contas em memória daqueles que foram linchados.

Gesto antirracista teve repercussão negativa

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O protesto não foi bem recebido pelos organizadores dos Jogos Olímpicos e pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Avery Brundage, então presidente do COI, foi uma das vozes mais contundentes na condenação do gesto, ao afirmar que os atletas haviam “politizado” os Jogos, o que ia contra os princípios olímpicos.

Sob a liderança de Avery Brundage, o Comitê Olímpico dos Estados Unidos foi forçado a expulsar Smith e Carlos da Vila Olímpica e dos Jogos, uma decisão que reverberou em todo o mundo. No entanto, ao contrário do que foi popularizado pela imprensa da época, eles não tiveram de devolver suas medalhas.

A mídia também não poupou críticas. O Los Angeles Times descreveu o ato como uma “saudação nazista”, e o Chicago Tribune o classificou como “um insulto aos seus compatriotas”. No entanto, foi a cobertura do jovem jornalista Brent Musburger, do Chicago American, que mais feriu Carlos, ao descrever os atletas como “policiais de choque de pele negra” — comentário que continua a ser motivo de dor para ele, segundo biografia publicada em 2011.

Manifestantes levam a pauta do racismo ao evento de leitura de carta a favor da democracia, na faculdade de Direito da USP | Foto: Cristyan Costa

Apesar das duras críticas ao gesto antirracista, houve manifestações de apoio, inclusive de colegas de equipe. O time de remo dos Estados Unidos, composto inteiramente por atletas brancos de Harvard, emitiu uma nota de solidariedade: “Como membros da equipe olímpica dos EUA, cada um de nós sente o compromisso moral de apoiar nossos companheiros negros em seus esforços para dramatizar as injustiças e desigualdades que permeiam nossa sociedade”.

O legado do protesto

O impacto do protesto de Smith e Carlos se estendeu muito além dos Jogos Olímpicos de 1968. Ao longo dos anos, a importância de sua manifestação só aumentou, à medida que suas demandas e críticas ao racismo se tornaram cada vez mais evidentes e reconhecidas como justas. Hoje, o gesto é lembrado como um dos atos mais poderosos de resistência na história dos esportes e dos direitos civis.

Anos depois, tanto Smith quanto Carlos continuaram a pagar um preço alto por suas ações, como dificuldades financeiras e a fama de párias no mundo esportivo. No entanto, o reconhecimento de sua coragem e sacrifício veio com o tempo. Estátuas em sua homenagem foram erguidas, e suas histórias são contadas como exemplo de resiliência e bravura diante da opressão.

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O protesto de Smith e Carlos permanece relevante porque levanta questões que ainda não foram resolvidas. O racismo, a pobreza e as desigualdades sociais, contra os quais eles se levantaram em 1968, continuam a ser desafios globais. Como afirmou Carlos: “Mesmo que você ganhe uma medalha, isso não vai salvar sua mãe, sua irmã ou seus filhos. Pode te dar 15 minutos de fama, mas o que acontece com o restante da sua vida?”.

Leia também: “Racismo reverso”, artigo de Rodrigo Constantino publicado na Edição 201 da Revista Oeste

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