Um dos crimes mais chocantes da história do Brasil completou 22 anos nesta quarta-feira, 30. Em 2002, a então estudante de Direito Suzane Louise von Richthofen, com apenas 18 anos, abriu a porta de sua casa para que os assassinos de seus pais, Manfred e Marísia von Richthofen, entrassem.
Os responsáveis pelo assassinato foram seu namorado, Daniel Cravinhos de Paula e Silva, de 21 anos, e o irmão dele, Cristian Cravinhos de Paula e Silva, de 26. Os dois executaram o crime a golpes de porrete, enquanto as vítimas dormiam.
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O boletim de ocorrência foi registrado no Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) nas primeiras horas do dia 31 de outubro daquele ano. Inicialmente, Suzane von Richthofen tentou culpar a empregada doméstica.
As investigações, no entanto, rapidamente apontaram para ela e os irmãos Cravinhos. Cristian confessou ter matado Marísia a pedido de Daniel, que preparou as armas do crime.
Suzane von Richthofen e Daniel Cravinhos confessaram o assassinato
Com o avanço das investigações, Suzane e Daniel admitiram que o assassinato foi premeditado para que pudessem dividir a herança da família Richthofen.
Durante o julgamento, em 2004, os irmãos Cravinhos trocaram acusações com a filha do casal. A Justiça, contudo, condenou Suzane e Daniel a 39 anos de prisão. Cristian, por sua vez, recebeu uma pena de 38 anos. Todos cumpriram a maior parte no Complexo Penitenciário de Tremembé, no Vale do Paraíba, em São Paulo.
Suzane von Richthofen nos presídios
Ela começou a cumprir a pena na Penitenciária Feminina da Capital (PFC), em 2002, de acordo com reportagem do jornalista Ullisses Campbell, do jornal O Globo. No local, ela enfrentou uma rebelião liderada por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), que tentaram matá-la por serem contrárias a presas que assassinassem os pais. Ela, contudo, sobreviveu ao ataque com a ajuda de um médico e de uma policial penal.
Posteriormente, Suzane foi transferida para outros presídios do interior de São Paulo. Na unidade de Ribeirão Preto, relatou ter sido assediada por um promotor de Justiça.
Depois de denunciar o caso, Suzane von Richthofen foi transferida novamente para Tremembé, em 2007. No local, por temer a morte, “casou-se” com Sandra Ruiz, uma sequestradora condenada que havia matado um refém e era líder da penitenciária.
Em janeiro de 2023, Suzane foi liberada para cumprir pena em liberdade. De lá para cá, ela reestruturou sua vida, montou um ateliê de costura e começou um relacionamento com um médico que conheceu pelo Instagram.
Suzane excluiu o sobrenome von Richthofen
Os dois se casaram e tiveram um filho. Durante esse processo, ela excluiu o sobrenome von Richthofen e retomou o curso de Direito em uma universidade privada de Bragança Paulista. Recentemente, fez concurso público para o cargo de escrevente do Tribunal de Justiça de São Paulo e aguarda o resultado.
Durante o tempo que ficou na prisão, Suzane nunca demonstrou arrependimento em testes projetivos, como o Rorschach. Além disso, até onde se sabe, nunca visitou o túmulo de seus pais, no Cemitério do Redentor, em São Paulo.
Daniel Cravinhos
Daniel, que era aeromodelista à época do crime, trabalhou como marceneiro profissional durante a prisão. No trabalho, ele aprimorou suas habilidades manuais e dedicou-se à musculação. Tornou-se instrutor e foi acusado de traficar anabolizantes a outros presos.
Além disso, se envolveu em uma sindicância para apurar como uma moto de corrida foi parar na penitenciária, que pertencia a um funcionário da cadeia.
Assediado por mulheres que visitavam outros presos, casou-se com a filha de uma policial penal. Em 2018, cinco anos antes de Suzane, conseguiu migrar para o regime aberto ao demonstrar arrependimento.
Daniel também mudou o sobrenome
Depois de sua saída, mudou de sobrenome e tentou deixar para trás o estigma do passado. Nas rua, procurou Andreas von Richthofen, irmão de Suzane, para pedir perdão, mas foi rejeitado.
Recentemente, Daniel teve seu primeiro filho. Atualmente, pratica motovelocidade e trabalha em um ateliê que customiza aviões de brinquedo, aviões reais e motos esportivas.
Em entrevista, afirmou que não enfrenta preconceito nas ruas, embora já tenha sido expulso de restaurantes em virtude do crime que cometeu.
Cristian é o único que continua preso
Cristian, por sua vez, é o único que ainda permanece encarcerado em Tremembé. Ele foi preso novamente em 2018 por violar as condições do regime aberto. Na ocasião, ele tentou subornar dois policiais depois de ser detido em um bar, em Sorocaba (SP).
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Atualmente, Cristian usufrui do benefício das saídas temporárias. Ele pode ficar em liberdade por uma semana até cinco vezes por ano. Cristian usa esses períodos para usar as redes sociais, em que busca se tornar influenciador. O criminoso compartilha fotos de atividades físicas, relacionamentos e motovelocidade com seu irmão, Daniel.
Nos stories do Instagram, Cristian frequentemente se dirige a seus seguidores com mensagens de “bom dia” e felicitações. Durante o tempo em Tremembé, teve um relacionamento com um cabeleireiro chamado Duda; entretanto, afirma que agora se relaciona apenas com mulheres.
Recentemente, solicitou progressão para o regime aberto, mas o Ministério Público (MP) recomendou que ele realize novos exames criminológicos para avaliar sua propensão à reincidência criminosa.