Aliados antigos ligados ao presidente nacional do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) e articuladores informais da legenda de Pablo Marçal, estão sob investigação por trocar carros de luxo por cocaína para o Primeiro Comando da Capital (PCC), segundo a Polícia Civil. As informações são do jornal Estadão.
Tarcísio Escobar de Almeida, ex-presidente estadual do PRTB, e Júlio César Pereira, conhecido como Gordão, estão entre os acusados pelo financiamento ao tráfico de drogas e compartilhamento de lucros com o PCC. Escobar e Gordão eram próximos de Leonardo Alves Araújo, o Leonardo Avalanche, presidente nacional do PRTB, que apoiava Pablo Marçal.
Em março, Avalanche nomeou Escobar presidente estadual do partido em São Paulo, mas ele foi afastado depois de três dias por “não ter título de eleitor”. Mesmo assim, Escobar continuou a se apresentar como presidente até a revelação do caso envolvendo o PCC em maio. Pablo Marçal, que se filiou ao PRTB em abril, teve sua pré-candidatura à prefeitura da capital paulista confirmada em maio.
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Embora estivessem ativos nos bastidores, Escobar e Gordão não apareceram em eventos públicos da campanha de Marçal. Ambos negaram envolvimento com o PCC. Avalanche afirmou ter rompido com Escobar depois das primeiras denúncias. Marçal comentou nas redes sociais que não pede “certidão negativa de ninguém” e que já tirou “20 mil fotos nessa campanha”. Ele afirmou que Avalanche é quem deveria dar explicações.
Escobar e Gordão foram indiciados em 2023. A investigação começou em 6 de agosto de 2020, quando Francisco Chagas de Sousa, o Coringa, foi preso com drogas e um pendrive contendo informações sobre a organização criminosa.
A 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores autorizou a continuidade das investigações, que revelaram o envolvimento de Coringa no tráfico interestadual. Conversas telefônicas de Coringa mostraram ligações para Gordão.
Detalhes das negociações ilícitas com o PCC
Em 30 de julho de 2020, Gordão pediu a Coringa ajuda para vender uma BMW X5, mencionando que Escobar explicaria o negócio. Os investigadores afirmam que o lucro do tráfico de drogas com o PCC seria dividido entre Coringa, Gordão e Escobar.
“Nos diálogos mantidos entre ambos (Coringa e Gordão), ficou evidente tratar-se de negociação de veículos com o fim de que sejam trocados por drogas”, escreveram os investigadores da Polícia Civil.
Os policiais dizem que, embora a droga não passasse diretamente pelas mãos dos acusados, eles saberiam que os valores entregues a Coringa seriam usados para comprar drogas, gerando lucros altos. Segundo a polícia, Escobar e Gordão entregavam veículos a Coringa, que os trocava por drogas no Paraná. Os entorpecentes eram revendidos, e os lucros divididos entre os três.
Atividades públicas e afastamento de escobar
Apesar de ter sido presidente estadual do PRTB por apenas três dias, Escobar participou de diversos eventos depois do seu afastamento. Ele esteve em reuniões na Assembleia Legislativa de São Paulo ao lado de Avalanche e em encontros políticos no interior paulista. O advogado Joaquim Pereira de Paulo Neto, novo presidente do PRTB em São Paulo, afirmou que Escobar ainda comandava o partido até a revelação do caso.
Uma semana depois de deixar a presidência, Escobar encontrou-se com o vice-prefeito de Santo André, Luiz Zacarias (PL), e participou de um evento de apoio ao pré-candidato Marcelo Lima (Podemos) em São Bernardo do Campo. Escobar também se apresentou como presidente do partido em reuniões no interior paulista, incluindo Marília, São José do Rio Preto, Olímpia e Catanduva.
Ruptura e divergências no partido
Gordão teve uma atuação mais discreta no partido, aparecendo apenas em uma reunião em Pindamonhangaba (SP). Em nota, o então pré-candidato Ricardo Piorino (PL) declarou não haver relação entre os integrantes do PRTB local e os investigados. Em junho, depois do indiciamento de Escobar ser revelado, houve uma ruptura entre Escobar e Avalanche. Divergências partidárias aumentaram com acusações de ex-aliados de Avalanche.
Em vídeo, Joaquim Pereira de Paulo Neto e Tarcísio Escobar acusaram Avalanche de não cumprir acordos e afirmaram que se sentiram traídos. Michel Winter, do PRTB de Minas Gerais, também acusou Avalanche. Em resposta, Avalanche disse que a responsabilidade era de Joaquim Neto, que insistiu na nomeação de Escobar, apesar de seu histórico criminal.
Em buscas na casa de Gordão, policiais encontraram conversas relacionadas ao PCC. Em um áudio, Gordão conversa com Rafael Silva Peixoto, o Buchecha, sobre a inclusão e exclusão de membros da facção. Em outra conversa, discutem a “disciplina” de um integrante do grupo. Gordão também é sócio de Escobar na TJ Consultoria e Intermediação de Negócios, envolvida na venda irregular de lotes.
A investigação mostrou que Bruna Couto Almeida, dona da boate Lua de Mel, foi ameaçada de morte por Escobar em 2021, em uma disputa pelo controle de uma casa de prostituição. Escobar entrou na boate com dez pessoas, ameaçou Bruna e substituiu as máquinas de cartão. A boate passou a constar na Junta Comercial como propriedade de Buchecha, membro do PCC.