Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

‘A esquerda defender o Irã não é contradição, é convicção’

Nada como um conflito armado para tirar as cobras de seus buracos. Durante a Segunda Guerra Mundial, e a Guerra Fria, assistimos a um baile de intelectuais, jornalistas e artistas deixando jorrar de seus interiores os mais nojentos chorumes totalitários. Não foram poucos os que, num contexto de polarização e guerra, deixaram sair do armário suas opiniões mais sinceras e vergonhosas, expondo-as ao grande público com o mesmo louvor que os vermes têm ao devorar cadáveres.

Jean-Paul Sartre defendeu abertamente Stálin e a URSS, e também a revolução de Mao Tsé-Tung, na China, e após uma visita à União Soviética, teve a pachorra de deixar gravada a seguinte declaração: “Existe uma liberdade total de crítica na URSS”. É verdade que, mais tarde, talvez após um aperto social de amigos mais sensatos, ou por uma simples crise de consciência, ele se afastou da URSS ‒ principalmente após os crimes de Stálin começarem a pulular nos noticiários do mundo todo, com imagem e tudo. Em seus escritos e posicionamentos da época, Sartre argumentava que o uso do terror e da violência (como os gulags) eram meios justificados para alcançar o fim nobre do comunismo — uma visão, aliás, que o levou a um forte rompimento com Albert Camus. Até hoje Sartre é uma espécie de herói da esquerda global.

+ Leia notícias de Cultura em Oeste

George Bernard Shaw foi outro que fez uma defesa marcante após sua visita à União Soviética em 1931. Acompanhado por figuras como Lady Astor, ele foi levado em uma turnê cuidadosamente organizada que apresentava uma visão idealizada do regime soviético. Shaw retornou com uma impressão extremamente favorável, descrevendo a URSS como uma “terra de esperança” e contrastando-a com os “países ocidentais de desespero”. Ele até chegou a descrever os gulags (campos de trabalho forçado) como “destinos de férias populares”. Sim, inacreditável, e não se trata de anacronismo, um poeta que dizia cuidar da tolerância e da liberdade vangloriou um campo de prisão totalitário.

Além do Irã: outros intelectuais que elogiaram países totalitários

Ezra Pound, o famoso poeta modernista norte-americano, demonstrou apoio e defendeu o fascismo e o nazismo principalmente durante as décadas de 1930 e 1940, enquanto vivia na Itália. Ele se mudou para a Itália em 1924 e, ao longo dos anos 1930, abraçou o fascismo de Benito Mussolini e expressou apoio a Adolf Hitler. Seu envolvimento mais notório e condenável veio durante a Segunda Guerra Mundial. Pound gravou centenas de transmissões de propaganda pagas para o governo fascista italiano e, posteriormente, para o Estado fantoche alemão conhecido como República Social Italiana. Nessas transmissões, ele atacava o governo dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, a Grã-Bretanha, as finanças internacionais, a indústria de armas e os judeus, culpando-os pela guerra. Ele também elogiava a eugenia e, em alguns momentos, o Holocausto na Itália, enquanto incitava soldados americanos a deporem suas armas e se renderem.

YouTube videoYouTube video

Haveria mais exemplos a serem citados, como o Nobel de literatura Knut Hamsun, que defendeu publicamente Hitler e o nazismo; o amado Pablo Neruda, que, durante boa parte de sua vida, defendeu Stálin e viu na União Soviética um futuro de liberdade existencial; ou, como o jornalista Edgar Snow, que apresentou ao Ocidente Mao Tsé-Tung como um revolucionário amigável e humanista, escondendo os morticínios que os grupos liderados pelo ditador chinês deixavam a cada passo que Mao dava no interior de seu país.

Defender o Irã é irracional

Hoje, assistimos no mundo artistas, jornalistas e intelectuais se levantarem quase que unissonamente para defender o Irã. Isso mesmo, aquele país que enforca mulheres por mostrarem seus cabelos em público, que mata gays por… serem gays e que prende e tortura adúlteros. E, se eu falar, vocês não acreditam, pelo menos em minhas redes sociais, as mais engajadas nessa defesa são as mulheres da esquerda, as terrivelmente feministas. Não entrarei aqui no mérito da contradição, pois é banal demais. Estupra nossos olhos tal coisa, qualquer consideração não passa de explicar quão molhada é a água.

Nosso presidente, por exemplo, é um claro amigo do Irã. Em 2009, durante uma entrevista, o petista disse ser favorável à ideia do enriquecimento de urânio pelo país persa. Quanto aos ataques de Israel e o revide do Irã, parece ter abertamente comprado o lado iraniano. Assim como Celso Amorim, assessor especial para Assunto Internacionais do governo brasileiro, acredita que o Irã tenha soberania para enriquecer urânio para fins não especificados… porém, se você tem um cérebro funcional…

Quando o cheiro de pólvora está no ar, as cobras saem dançantes de seus buracos. Aquela pompa de casca, em defesa de liberdade, igualdade e direitos humanos, vai toda às favas, e surge uma bizarra retórica de defesa do indefensável. Artistas condenam piadas, mas aprovam um país que mata mulheres por tirar o hijab. Intelectuais montam uma estrutura acadêmica intrincada para defender gêneros múltiplos, enquanto aplaudem um país que assassina gays em praças públicas. É muito mais que contradição, é uma convicção suprema que aflora nesses momentos. É nesse instante em que as máscaras caem, que o véu se rompe e vemos a coisa tal como ela é. A esquerda é isto: te oferece uma teoria de arco-íris enquanto entrega uma realidade de submissão.

YouTube videoYouTube video

Compartilhe:

Veja também: