Se a edição 2025 do Fórum Santa Catarina e o Agro 5.0, realizada em São Francisco do Sul/SC, na última semana (14/10), colocou o Porto como palco das discussões sobre logística, os debates realizados no evento transcenderam o cais para abordar um desafio maior: como Santa Catarina pode manter e ampliar sua liderança no agronegócio em um cenário de competitividade crescente e demandas por sustentabilidade. A iniciativa do Canal Rural, que mobilizou o setor produtivo e o governo catarinense, mostrou que a solução passa por uma visão integrada de infraestrutura, mercado e inovação.
A ferrovia como peça-chave
Apesar da importância do Porto de São Francisco do Sul, a visita dos participantes à indústria da Fecoagro e ao terminal portuário reforçou uma reflexão profunda sobre a dependência rodoviária do agronegócio catarinense. Em um dos painéis, feito por Arene Trevisan, membro do grupo de logística da ABPA,foi destacado que a falta de ferrovias eficientes compromete a competitividade do estado. Trevisan destacou que o milho vindo do Centro-Oeste brasileiro, por exemplo, pode ser mais competitivo na China, devido à malha ferroviária e hidroviária daquela região, do que o milho que chega aos portos catarinenses, que enfrentam longas distâncias rodoviárias. Essa dependência encarece a importação de grãos, matéria-prima essencial para a produção de carnes, uma das principais forças do agro local.
Carlos Chiodini, secretário de Agricultura e Pecuária de Santa Catarina, ressalta a importância do investimento em ferrovias: “Nós precisamos ter uma ferrovia que conecte o oeste de Santa Catarina o grande produtor nacional de proteína animal com os polos produtores de proteína vegetal”.
Já o secretário de Portos e Aeroportos do estado, Beto Martins, destacou que muita coisa está sendo feita neste setor: “Está aí a Bahia da Babitonga, já com obra de alargamento do canal de acesso, que vai assegurar que aqui seja o primeiro porto a receber um navio de container de 366 metros full”. Martins cita outras obras, defende que Santa Catarina está crescendo, mas admite que o tempo que se perdeu ainda deixa um estado de muita gravidade, sendo urgente a retomada.

O desafio do milho e a oportunidade da inovação
A dependência de importação de milho é um ponto delicado para o estado, já que 50% do cereal para o setor de carnes precisa vir de fora. A discussão no Fórum revelou que a solução não está apenas em produzir mais internamente, mas em criar uma infraestrutura que facilite o abastecimento de forma competitiva. A logística ineficiente atinge diretamente o bolso do produtor e a balança comercial, comprometendo a capacidade de Santa Catarina de se manter como um dos maiores produtores de carnes do Brasil.
Sustentabilidade: da prática à vanguarda
O evento também ressaltou um diferencial catarinense: a produção sustentável em pequenas propriedades. O presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, Mauro de Nadal, destacou que os produtores catarinenses já atuam com uma visão de sustentabilidade. Essa expertise pode se tornar um ativo estratégico para o estado, especialmente com a proximidade da COP30, servindo de modelo para outros eventos e regiões do país.
“Precisa ter um incentivo fiscal para quem está investindo nessas fontes renováveis de geração de energia. (…) Além disso, nós vamos trabalhar fortemente na indenização para o agricultor que está preservando, que ele seja indenizado pelo tamanho da área que ele preserva, como uma forma de incentivo”, explicou Nadal. O Fórum demonstrou que a sustentabilidade não é apenas uma exigência de mercado, mas uma oportunidade para o agro catarinense se posicionar como referência global.
A sinergia para um futuro mais forte
O Movimento Pró-Ferrovias, criados por diversas entidades representativas do setor produtivo do estado, trouxe ao Fórum um panorama geral das ferrovias hoje existentes no país e projetos em andamento. Lenoir Broch, do movimento, explicou que nenhum deles contemplam o Sul do país. “Em 1930 o Brasil tinha 30 mil quilômetros de ferrovia. Hoje são menos de 20 mil quilômetros. Estamos indo no sentido contrário ao desenvolvimento”, declarou.
O Fórum SC e o Agro 5.0 reforçou a necessidade de uma atuação conjunta entre o poder público, setor privado e entidades representativas do agro. A visão de futuro apresentada no evento aponta para a necessidade de políticas públicas que incentivem a inovação, melhorem a infraestrutura e valorizem a produção sustentável. Mais do que debater, o Fórum serviu para costurar parcerias e alinhar estratégias que impulsionem o agronegócio catarinense, garantindo que o sucesso do setor continue sendo a força motriz da economia do estado.
A 8ª edição do projeto Santa Catarina e o Agro 5.0 teve a realização do Canal Rural, Fecoagro (Federação das Cooperativas Agropecuárias de Santa Catarina), Ocesc (Organização das Cooperativas de Santa Catarina), Sistema Faesc (Federação da Agricultura de Santa Catarina), Acav, Sindicarne e Aincadesc, do setor de proteína animal, Sicoob (cooperativa de crédito), e Icasa (Instituto Catarinense de Sanidade Agropecuária; e ainda, com o apoio institucional da Secretaria Estadual de Agricultura, e o apoio dos Hotéis Villa Real.
Assista aqui o Fórum na íntegra.