O mundo assiste com crescente apreensão à escalada de tensões entre Irã e Israel, um conflito de alto risco que ocorre em um cenário internacional já instável, marcado por lideranças despreparadas, ideológicas e desconectadas da realidade econômica e social. A guerra, que parecia localizada, ameaça se espalhar e contaminar cadeias logísticas, rotas energéticas e, principalmente, os mercados globais de commodities, inclusive os agrícolas.
Nesse ambiente, o agronegócio brasileiro, um dos principais pilares da nossa economia, encontra-se vulnerável. Não apenas pelos reflexos externos que a guerra pode provocar, mas, sobretudo, pela crise interna que se agrava no Brasil. Temos um país em rota de colisão institucional, com Executivo, Legislativo e Judiciário travando batalhas que nada têm a ver com os reais interesses da população — e muito menos com os desafios do setor produtivo.
Enquanto o mundo começa a se preparar para os impactos econômicos dessa nova guerra no Oriente Médio — que pode pressionar ainda mais os custos logísticos, o preço do petróleo e os mercados financeiros —, o Brasil segue em marcha cega rumo ao abismo. O crescimento da dívida pública, o descontrole fiscal disfarçado sob o nome de “arcabouço”, o aumento da carga tributária e o desprezo por reformas estruturais, como a administrativa, criam um ambiente de asfixia para o empreendedorismo e o investimento.
No Congresso, a defesa de privilégios se sobrepõe à responsabilidade fiscal. No Executivo, programas sociais são multiplicados com viés eleitoreiro, enquanto o governo ignora os endividados produtores do Rio Grande do Sul, que clamam por socorro diante da maior crise climática da história recente. No Judiciário, ativismo e protagonismo exacerbado tomam o lugar da previsibilidade jurídica, essencial para o investimento de longo prazo.
Tudo isso ocorre em um momento em que o Brasil deveria estar se posicionando como uma potência estável e confiável no fornecimento global de alimentos. Com o mundo em conflito, o agro brasileiro deveria ser valorizado como ativo estratégico — mas aqui, é tratado como fonte de receita para cobrir rombos da má gestão pública.
O risco sistêmico global, combinado com a paralisia política e o despreparo interno, cria um cenário preocupante: estamos diante de uma tempestade perfeita. O agro, que representa um quarto do PIB brasileiro e responde pela geração de superávits comerciais em série, está sendo empurrado para o mesmo buraco fiscal, regulatório e político que sufoca outros setores.
Se nada mudar, o que nos espera é um país mais endividado, mais polarizado, menos produtivo e sem capacidade de reagir quando os ventos da geopolítica mudarem de direção — como já estão mudando.
Conclusão
O Brasil precisa retomar o senso de urgência. O mundo está em guerra — não apenas com armas, mas com ideias fracas, lideranças frágeis e economias em desequilíbrio. Se não acordarmos agora, corremos o risco de ser mais uma vítima da combinação entre irresponsabilidade externa e inconsequência interna. E nesse cenário, quem mais perde é o setor que mais dá: o agronegócio.


Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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