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‘A um povo acovardado só resta a submissão’

Para que a censura avance, são necessárias boas doses de hipocrisia, desfaçatez e covardia de um povo. Dizem que, quando Winston Churchill finalmente foi chamado a ser primeiro-ministro britânico, sendo praticamente um dos poucos políticos daquela nação a notar o perigo nazista e comunista desde a manjedoura dessas ideologias, ele teria entrado no táxi do lado de fora do Parlamento, com os olhos marejados, e dito ao motorista: “Espero que não seja tarde demais”.

Os britânicos, após uma primeira guerra dolorosa, custosa, sangrenta e psicologicamente danosa, não conseguiam enxergar como o enfrentamento moral e político a novos déspotas poderia trazer paz duradoura. Após testemunharem uma amostra do inferno em 1914, eles achavam que seria melhor negociar com o demônio, e ceder benesses e direitos, do que correr o risco de um novo tour nas trevas. O que Churchill via com clareza impressionante era que negociar liberdades em troca de favores de submissão não era garantia de paz, era antes escravidão com retóricas e paredes enfeitadas.

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O século 20 passou por uma tentação específica que estamos enfrentando agora. A tentação do conformismo com o mal; não são poucos os que prefeririam — assim como Neville Chamberlain — negociar com o demônio ao invés de enfrentá-lo; esses, outrora apoiados numa esfarelante “dignidade diplomática”, acreditavam que Hitler e Stálin eram confiáveis para negociações, que, quando fossem pesadas as ânsias ideológicas dos ditadores e os acordos por eles firmados, os déspotas escolheriam a cortesia do trato ao avanço de suas agendas. Um misto de ingenuidade e burrice untada com covardia e canalhice.

Apesar de toda violência empregada pelos alemães, o Reino Unido, liderado por Winston Churchill reage e consegue impor dificuldades ao avanço nazista | Foto: Wikimedia CommonsApesar de toda violência empregada pelos alemães, o Reino Unido, liderado por Winston Churchill reage e consegue impor dificuldades ao avanço nazista | Foto: Wikimedia Commons
Apesar de toda violência empregada pelos alemães, o Reino Unido, liderado por Winston Churchill reage e consegue impor dificuldades ao avanço nazista | Foto: Wikimedia Commons

O povo não deve confiar em tiranos

Déspotas, tiranetes e autoritários não são confiáveis em nenhum nível e cargo — e, se eu preciso lembrar alguém disso, essa pessoa só pode ser um completo idiota. As estratégias deles são apenas duas: forçarem as regras para servirem a seus propósitos; ou negarem as regras existentes em nome de um suposto bem maior, que basicamente trata-se da sua agenda ideológica. Ditadores não recuam, tiranos não hesitam em calar opositores, seja pelo fuzil, pela toga ou pela retórica midiática, seja por qual for o método, eles não retrocedem. Um ditador só para quando é enfrentado e destituído. Essa é a lição do século 20 que precisamos lembrar agora.

Enquanto a sombra do leviatã avança sobre o Brasil, fazendo-se notar por seus odores, uma multidão de hipócritas não esconde mais suas opções pela omissão. Os covardes, por sua via, migram suas posições entre a crítica velada e o consentimento aberto. Caminham sem olhar para cima para não verem o sol sendo tapado, fingem não sentir a escuridão avançar e o ar rarear. Arrumam sempre uma desculpa para os espaços cada vez menores, em vez de enfrentar quem os encurta. Ao contrário dos britânicos, não espere que surja um Churchill para se opor de dentro da máquina à burrice de sua classe. A questão aqui em terras brasileiras é que a máquina já é deles. A única maneira efetiva é uma oposição real da população; mas, para isso, é necessária uma conscientização do problema real que enfrentamos — e aí está o papel dos conservadores e liberais brasileiros: dar um tapa na cara dos adormecidos, tirar do torpor os relapsos.

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Como rejeitar as ditaduras

Não esperem apoio para isso, até o momento que Hitler cutucou os quintais dos britânicos, muitas pessoas pediam prudência, calmaria e as suas xícaras de chá para resolverem todos aqueles problemas com palavras e biscoitos Digestive. Ontem, perdemos a liberdade na internet, amanhã será nas praças, depois em nossos jardins, sacadas, salas, quartos e banheiros, e quando o Estado não deixar nem mais a possibilidade da dúvida interna, aí nem mesmo a diplomacia será possível. Afinal, todos concordarão, nem mesmo a palavra liberdade fará mais sentido.

Parece tenebroso, não é? Talvez me chamem até de “apocalíptico” e “sensacionalista”, mas a história humana é marcada, basicamente, pela capacidade de alguns de notarem certos padrões gerais de ação; e, no terreno da tirania, vá por mim, trocaram-se as embalagens e as vestimentas dos bonecos, mas o jogo ainda é o mesmo. Mas pode ser que eu seja um mero catastrofista. Porém, por via das dúvidas, olhe pela janela hoje antes de dormir e deixe a pólvora seca. Pode ser que mais uma vez a diplomacia falhe, que os acordos dos especialistas não corrijam os autoritários, e, se isso acontecer, pode ser que você tenha que vestir seu coturno.

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