Mais que apenas um puxão de orelha constrangedor para o destinatário, a carta enviada pelo Departamento de Justiça dos EUA a Alexandre de Moraes foi uma parábola: ela demonstra o que acontece quando o Estado jaguncial de direito colide com o Estado de direito. Do primeiro, restou pouca coisa para contar história depois da colisão. E a Globo terá que usar a criatividade para remediar o estrago. Talvez não seja um caso para William Bonner e seu Jornal Nacional, mas para Luciano Huck e seu Lata Velha.
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No centro da ação movida em fevereiro pelo Rumble e pela Trump Media & Technology Group (TMTG) contra o magistrado brasileiro estava uma tentativa insólita: a crença de Moraes em poder impor sua própria versão da ideia de jurisdição universal aos Estados Unidos. Logo aos Estados Unidos! Nada menos que isso. Como se o voluntarismo jurídico que reina hoje no Brasil — cujas instituições falidas cederam ao STF um poder localmente ilimitado e praticamente irrefreável — pudesse ser exportado à terra da Constituição pétrea e da soberania inegociável.
A ideia de jurisdição universal, tão cara aos burocratas de Bruxelas, sempre foi repelida pelo espírito americano. Nos EUA, a Constituição é mais que um documento legal — é um pacto civilizacional, imune à ingerência de potestades globalistas com complexo de grandeza. Mas isso não impediu Moraes de tentar. Inflado por elogios domésticos e por uma imprensa dócil, julgou-se capaz de submeter empresas americanas às suas ordens, como faz rotineiramente por aqui — mediante abuso de autoridade e lawfare. Confundindo Washington com Brasília, e os consortes americanos com jagunços, pôs-se a disparar suas ordens autoritárias aos quatro ventos, tal qual uma Rainha de Copas.
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Sim, movido por húbris, e autossatisfeito em fazer das leis brasileiras o seu brinquedinho particular, o magistrado tupiniquim tentou sobrepor a sua vontade também à Constituição americana. Lula e a GloboNews fizeram-no acreditar que daria certo. Obviamente, não deu. Cada vez mais isolado, visto como um pária aos olhos do mundo, Moraes enredou-se num problema que ia muito além de uma mera disputa judicial com uma empresa estrangeira privada, tocando em questões de soberania e defesa nacional americanas. Plantou a jurisdição universal, mas colheu a universal humilhação.

