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Kaique Lopreto, de São Paulo, e Yasmin Torres, de Teresópolis (RJ)
6 de set, 2025, 02:00
Carlo Ancelotti ainda pensa em qual a melhor formação para o Brasil encarar a altitude de mais de 4 mil metros de El Alto, na próxima terça-feira (9), contra a Bolívia. Se aprovou a atuação de João Pedro contra o Chile, no Maracanã, o italiano sabe que na reserva terá alguém pronto para entrar caso necessário – e um velho conhecido, por sinal.
Após a Copa do Mundo de 2022 no Qatar, em que foi titular e marcou três gols com a pesada camisa 9 amarela, Richarlison sofreu grandes problemas na carreira. Além das diversas lesões, que o tiraram dos campos por vários meses, ele também conviveu com uma forte depressão. Tudo isso parece fazer parte do passado.
Richarlison soma dois gols em quatro partidas na temporada, um sinal de que a retomada está em andamento.
“Início de temporada está sendo muito bom, consegui fazer bons jogos no Tottenham. Entrei só 10 minutinhos, mas deu para dar uns piquezinhos bons, voltar para marcar, atacar também. Que eu consiga fazer uma temporada boa para me firmar”, falou o atacante, na saída do Maracanã.
Para entender essa volta por cima do artilheiro, a ESPN ouviu dois profissionais que fizeram parte de sua formação: Régis Masarin, que trabalhou com o jogador nas categorias de base, ainda em Nova Venécia, e Abel Braga, técnico que o lançou ao cenário nacional no Fluminense.
Quem o conheceu muito cedo lembra uma característica que o destacava sobre os companheiros: a perseverança. E isso surpreendeu Régis durante os treinamentos.
“O diferente dele é o que permanece até hoje, que é a dedicação, a vontade, aquela coisa de nunca desistir. Foi só melhorando com o decorrer do tempo. A diferença do Richarlison é o empenho”, afirmou.
O ex-treinador também relembrou um momento de incerteza no início da carreira do atacante, que retornou ao Real Noroeste sem perspectivas, mas seguiu treinando mesmo após estourar a idade do sub-15 e não ter um clube definido.
“Tive uma conversa bem direta com ele, dizendo para ele não desistir, continuar, que ele tinha condições e que ele tinha futuro. Ele nunca deixou de trabalhar. E um dia surgiu a oportunidade no América-MG. Ele foi, e foi para não voltar”, lembrou.
Na análise do técnico, a chegada de Carlo Ancelotti à seleção foi determinante para a nova fase do atacante. Afinal, o italiano já o dirigiu nos tempos de Everton, da Inglaterra, um dos momentos de maior destaque de Richarlison na Europa.
“Com certeza o caminho dele ficou bem mais aberto. Ele já conhece o Richarlison e teve a oportunidade de treiná-lo. Acredito que, com essa ida do Ancelotti para a seleção, o leque de opções para o Richarlison abriu muito”, explicou.
Abel Braga conheceu o Pombo um pouco mais maduro e destacou o comportamento extracampo, mostrado na rotina de treinos entre os jogos do Fluminense, como o principal diferencial do atacante.
“O treino começava às 9h e ele estava no campo às 8h20, 8h30. Todos os dias. Finalizava depois, pedia para treinar mais. Era um cara que queria aperfeiçoar”, relatou Abel, que também apontou um aspecto psicológico que o camisa 9 conseguiu evoluir na Europa.
“O que ele precisava melhorar era o mental. Ter consciência de quem ele era, de onde poderia chegar. E isso nós conseguimos com ele. Esse momento que ele está passando, depois de uma série de contusões, de mudança de clube, é mais um motivo para se entender o quanto ele é forte”, revelou.
Poucos dias após Ancelotti ser anunciado como treinador da seleção brasileira, Richarlison comandou o Tottenham na conquista da inédita taça da Europa League. E ele segue impressionando neste começo de Premier League. Anotou dois golaços na estreia, contra o Burnley, e deu uma assistência na vitória sobre o Manchester City, na partida seguinte.
Deste modo, a volta à seleção em 2025 é vista por Abel como importante e necessária. O ex-treinador brasileiro acredita que ele será peça fundamental para Ancelotti na Copa do Mundo do ano seguinte.
“Com certeza, ele vai ser um trunfo, ainda mais por essa adaptação ao futebol extremamente difícil, competitivo, com uma intensidade muito grande. Ele vai ser um cara com uma utilidade enorme para a seleção brasileira”, finalizou.