A Universidade Federal do Paraná (UFPR) fez um estudo para entender como as alterações nos padrões climáticos afetarão a distribuição geográfica das abelhas.
De acordo com a pesquisa, algumas espécies do sudeste da América do Sul podem deixar o Norte do continente, onde em geral é mais calor, e se deslocar para o Sul.
Os cientistas selecionaram 18 espécies de abelhas de uma das regiões mais diversas do mundo e usaram projeções climáticas computacionais para o ano de 2050, para identificar os possíveis efeitos das mudanças climáticas na distribuição desses insetos.
De acordo com o biólogo Felipe Walter Pereira, com o aumento das emissões de carbono e das consequentes mudanças de temperatura, essas espécies tendem a deixar a América do Norte, porque essa região deve ficar com temperaturas acima da média.
O professor Rodrigo Gonçalves conta que fizeram a seleção de espécies que vivem no Sudeste da América do Sul (Argentina, Uruguai e estados do sul do Brasil) por serem adaptadas a climas mais amenos.
Também foram escolhidas espécies com modos de vida e comportamentos sociais diferentes para entender como cada uma pode reagir às mudanças climáticas.
“Com base nessas informações, usamos modelos para prever como essas condições vão mudar no futuro e, assim, estimar quais áreas continuarão adequadas e quais serão perdidas. Comparando esses cenários, conseguimos prever deslocamentos ou redução na distribuição das espécies”, afirma.
Distribuição geográfica das abelhas em 2050
Apesar de cada espécie ter sua própria condição climática adequada para sobreviver em determinado local (chamada nicho climático), de modo geral as abelhas são insetos que preferem climas mais amenos, em ambientes mais secos, e são mais diversas em locais de campos abertos.
Além disso, são seres ectotérmicos, ou seja, sua temperatura corporal é influenciada pela temperatura do ambiente, o que pode fazer com que estes insetos não resistam às temperaturas mais altas.
Considerando estes fatores, os pesquisadores buscaram testar a hipótese de que, com as mudanças climáticas, as abelhas devem buscar locais mais adequados e podem desaparecer de áreas que se tornaram menos favoráveis.
Para isso, um dos primeiros passos foi construir modelos de nichos ecológicos para encontrar as áreas climaticamente favoráveis para as espécies no presente.
Os modelos foram projetados para 2050, utilizando um cenário definido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em língua inglesa).
Estes cenários representam previsões de mudanças climáticas futuras com base em diferentes níveis de emissões de gases de efeito estufa, avaliando o que os governos estão fazendo para combater o problema e apresentando dados sobre temperatura, umidade e eventos extremos.
No estudo sobre as abelhas, os pesquisadores selecionaram o cenário pessimista SSP585, que apresenta maiores emissões de carbono e ações nulas ou limitadas para a mitigação das mudanças climáticas.
“Para realizar este trabalho, temos determinadas as posições geográficas das espécies em latitude e longitude. Fazemos várias perguntas com as variáveis climáticas, encontrando as características do ambiente que são importantes para as abelhas. Com isso, temos um recorte de condições favoráveis para aquela abelha de hoje”, afirma Moura.
Cenários futuros
A pesquisa concluiu que o padrão de deslocamento para o sul foi observado em todas as 18 espécies analisadas, mas também foi identificado que as espécies de abelhas eussociais da região podem ser mais afetadas pela perda de áreas adequadas para a sobrevivência do que as espécies solitárias.
O artigo reforça que, além do clima, mudanças no habitat e particularidades comportamentais das abelhas podem também influenciar na vulnerabilidade dos insetos.
Pereira conclui que a ideia desta e outras pesquisas sobre as abelhas é juntar vozes para fortalecer a luta pela mitigação dos problemas acarretados pelas mudanças climáticas.
“Nós usamos esses planos de conservação para pensarmos em cenários futuros adequados para produção de alimentos, para o bem-estar, para simplesmente a gente ter um planeta habitável nas próximas décadas”, afirma.
*Sob supervisão de Victor Faverin