Após o tarifaço dos Estados Unidos contra o Brasil completar um mês, a constatação é que os impactos na economia são ambíguos. Quem explica melhor é o economista Sillas Cezar, pesquisador da Universidade de São Paulo. Segundo ele, por um lado há uma enorme incerteza que tem se traduzido na queda do ritmo dos investimentos. Por outro, o país conta com um superávit comercial, que é um bom indicador e representa alívio inflacionário.
Os efeitos no longo prazo, no entanto, não devem se sustentar. Se no IPCA-15 de agosto, alimentos como manga, arroz e carnes acumulam recuo, esse movimento pode ser reajustado pela redução da produção no campo. “No agronegócio, o cenário mais provável é de ajuste: produtores tendem a reduzir a produção para conter perdas, o que diminui a oferta e eleva os preços novamente em algum prazo não muito longo”, explica.
Impactos do tarifaço na economia
Os primeiros reflexos do tarifaço começaram a aparecer no resultado da balança comercial de agosto. No mês passado, as exportações do Brasil para os Estados Unidos caíram 18,5%, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Neste ponto, Cezar não descarta um efeito em cadeia a partir dos impactos das tarifas norte-americanas em outros países. De acordo com ele, isso poderia levar a uma queda mais generalizada dos preços internacionais. “Somado a um dólar menos pressionado, haveria espaço para aumento do poder de compra interno”.
Mesmo assim, o especialista diz que ainda é cedo e que o cenário tem que ser monitorado.
Alívio inflacionário: até quando?
Mas afinal, as tarifas impostas pelos Estados Unidos devem se prolongar? Para o pesquisador da USP, o cenário segue incerto e dominado por disputas políticas. Ele afirma que qualquer previsão categórica seria precipitada.
“Se alguém disser que sabe essa resposta, estará mentindo. Os cenários vão desde uma melhora em prazo relativamente curto até uma crise mais prolongada”, resume.
Cezar também destaca que a estratégia de Donald Trump está diretamente associada ao enfraquecimento econômico de outros países, o que amplia as incertezas. “O sucesso de Trump hoje está ligado ao declínio econômico de muita gente. Quem sairá vencedor dessa disputa? Ainda não sabemos. Eu não sei.”
Linha do tempo do tarifaço
Após adiamento e exclusão de quase 700 produtos da lista original, a cobrança das alíquotas que chegam a até 50% sobre produtos como carne bovina, café e frutas, começou oficialmente em 6 de agosto. De lá para cá, houve diversas tentativas de negociação por parte do governo brasileiro, mas sem sucesso.
Uma semana depois do anúncio das tarifas, em 13 de agosto, o Brasil lançou um pacote de ações a fim de reduzir os impactos nas empresas que dependem das exportações para os Estados Unidos. Intitulado de Brasil Soberano, a principal medida anunciada inclui R$ 30 bilhões em crédito.
Já no começo de setembro, empresários brasileiros estiveram em Washington para mais uma tentativa de convencer os norte-americanos a rever o tarifaço contra os produtos do Brasil. No entanto, a comitiva, que contou com mais de 100 empresas envolvidas e entidades do setor produtivo, voltou sem acordo.