Currículo pode ajudar — mas nada supera network. O contato certo vale muito mais que o MBA. Título de PhD não é nada perto do predicado “companheiro da Presidência da República”. Salário é o mínimo do holerite. O plano de carreira é de dar inveja a qualquer barão, mostra o contracheque de Aloizio Mercadante, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
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Petista da gema, Aloizio Mercadante recebeu o comando do banco assim que Lula tomou posse para o terceiro mandato em Brasília. Os privilégios no contracheque começam com penduricalhos que superam a renda de muitas famílias brasileiras inteiras.
Holerite de barão no BNDES
Com o vale-alimentação, dá para comprar muitas picanhas e mortadelas de primeiríssima linha: são R$ 2,6 mil por mês. De vale-moradia, vão outros R$ 4,7 mil — aluguel suficiente para não depender do Minha Casa, Minha Vida. O plano de saúde de R$ 6,4 mil o deixa bem longe de qualquer UPA ou UBS no Brasil — e nada de médico cubano para diagnosticar virose.
A conta dos privilégios passa de R$ 13 mil por mês. Embora seja mais que a renda média de 99% dos brasileiros, não passa de uma fração da maior fatia no contracheque: o salário de R$ 102.278,91. A cifra aparece no holerite de maio, o mais atual no site do banco.
É mais do que o dobro do teto do funcionalismo público. A Constituição fixa o salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal como o limite (cerca de R$ 46 mil). Nem mesmo o presidente da República pode ganhar mais. Contudo, a regra não se aplica às estatais. Por serem empresas, têm a permissão de pagar mais.
Além disso, os números não mentem: o companheiro de Lula recebeu ao menos três aumentos depois de chegar ao cargo. É algo que nenhum antecessor teve durante os quatro anos antes de ele tomar posse no BNDES.
Antes da posse de Aloizio Mercadante
No governo de Jair Bolsonaro, houve apenas um reajuste no salário da presidência do banco. Aconteceu logo em janeiro de 2019, no início do mandato — e não foi aumento. Em vez disso, o valor caiu de R$ 87 mil para R$ 80 mil — quantia ainda hoje suficiente para fazer parte da nata nacional.
Aloizio Mercadante recebeu esses mesmos R$ 80 mil por mês até março de 2023. No contracheque seguinte, os valores subiram para R$ 88 mil. Daí por diante, todo abril virou mês de aumento. É uma espécie de dissídio anual capaz de garantir muito mais que a vida de barão ao presidente do BNDES. E os privilégios revelam: o Brasil não é para amadores, mas é especial para quem tem contatos.