O Decreto 526, publicado pelo governo da Argentina em 30 de julho, indicava que os impostos retidos na fonte sobre exportações de grãos e, posteriormente, de carne bovina e de frango seriam temporariamente eliminados até 31 de outubro, ou seja, retornariam apenas em 1 de novembro.
Contudo, as chamadas retenciones foram reestabelecidas já nesta quinta-feira (25), portanto, mais de um mês antes do prazo. Agora, voltam a vigorar as alíquotas anteriores: 26% para a soja e 9,5% para o milho e o trigo. Por enquanto, as proteínas animais continuam isentas.
De acordo com o governo argentino, a decisão de retomar a cobrança veio após a meta de arrecadação de US$ 7 bilhões em Declarações Juradas de Vendas ao Exterior (DJVE) ter sido alcançada em menos de 72 horas.
De acordo com a AFP, o anúncio encerra uma semana em que o governo do presidente Javier Milei, enfraquecido por turbulências financeiras, recebeu o apoio de Washington. O Tesouro dos Estados Unidos anunciou na última quarta-feira (24) que está negociando uma linha de financiamento temporária com o Banco Central argentino no valor de 20 bilhões de dólares (R$ 107 bilhões), além de possíveis facilidades de crédito ou compra de dívida argentina.
Além da ajuda, também houve pressão de setores produtivos norte-americanos. A Associação Americana da Soja, por exemplo, se disse apreensiva com os impactos no mercado da isenção argentina sobre os embarques do grão.
Em nota, a entidade afirmou que “os preços da soja americana estão caindo, a colheita está em andamento, e os agricultores leem manchetes que não falam sobre fechar um acordo comercial com a China, mas sim de que o governo dos EUA está oferecendo US$ 20 bilhões em apoio econômico à Argentina, enquanto esse país reduz os impostos de exportação da soja para vender 20 carregamentos de soja argentina à China em apenas dois dias”.
Do lado argentino, a isenção de imposto havia recebido opinões mistas. O presidente da Sociedade Rural Argentina (SRA), Nicolás Pino, por exemplo, elogiou o anúncio e pediu que a isenção fosse permanente.
Já a presidente da Federação Agrária Argentina (FAA), Andrea Sarnari, disse que os pequenos e médios produtores não seriam beneficiados, uma vez que já venderam a sua produção e que o impacto positivo do fim provisório das retenciones se concentraria apenas nos grandes exportadores capazes de estocar grãos à espera de melhores preços.
Reação de Chicago à medida argentina
Diante da volta das retenciones argentinas, os contratos da soja em grão com entrega em novembro fecharam com alta de 3,25 centavos de dólar, ou 0,32%, a US$ 10,12 1/4 por bushel. Já a posição janeiro teve cotação de US$ 10,31 1/4 por bushel, com alta de 2,75 centavos ou 0,26%.
Nos subprodutos, o vencimento de dezembro do farelo fechou com baixa de US$ 2,90 ou 1,05%, a US$ 273,20 por tonelada. No óleo, os contratos com vencimento em dezembro fecharam a 50,27 centavos de dólar, com ganho de 0,47 centavo ou 0,86%.
De acordo com analistas, a alta se deve ao fato de a China ter conseguido se abastecer com soja argentina durante o tempo em que o país não cobrou impostos de exportação. Agora, a tendência é que o gigante asiático só volte ao mercado com força em meados de janeiro, quando o Brasil já estiver iniciando a colheita da safra 2025/26.