Um estádio novo, próprio, onde a torcida se sente em casa. O Atlético-MG sabe bem o que é isso desde a inauguração da Arena MRV. Seu adversário nestas oitavas de final da CONMEBOL Sul-Americana, o Godoy Cruz-ARG também está experimentando esse prazer, e o jogo da noite desta quinta-feira (21) contra o time mineiro, com transmissão pela ESPN no Disney+ a partir das 19h30 (de Brasília), será o primeiro duelo internacional do reformado Estádio Feliciano Gambarte, onde o clube argentino não jogava oficialmente desde 2005.
Mas há diferenças. A arena de Belo Horizonte é novíssima e moderna. Já o campo do Godoy Cruz foi inaugurado em 1959 e, apesar das novas instalações, manteve a estrutura e a arquitetura antigas. Com capacidade para 21 mil torcedores, tem cara e jeito de alçapão. E também o tamanho ideal para a torcida do Tomba, que não conseguia encher o maior estádio de Mendoza, o Malvinas Argentinas, no qual atuou nos últimos 20 anos. Lá, os azuis e brancos ocupavam apenas a curva atrás de um dos gols e não conseguiam pressionar o adversário.
Identificado com o bairro cujo nome carrega, o Godoy divide as paixões dos torcedores locais com vários clubes, como o vizinho Andes Talleres Sport Club, o Independiente Rivadavia (hoje também na primeira divisão), o Atlético San Martín e o Gimnasia y Esgrima, de Mendoza. Embora não seja tão grande, a torcida do clube é violenta e suas ações já renderam várias punições recentes ao time.
O poder público aproveitou a reforma do estádio para dar um banho de loja no bairro. Trocou o asfalto das ruas, melhorou a iluminação e tirou o lixo acumulado em terrenos próximos. O clube construiu camarotes; renovou toda a estrutura de vestiários e da área de imprensa; colocou iluminação de LED; refez o gramado – que agora tem um sistema moderno de irrigação – e reconstruiu um dos símbolos do lugar, a caixa d´água, conhecida como ‘El Tanque de Gambarte’. Os antigos dizem que o ‘Tanque’ foi construído antes do estádio. Com o tempo, virou um monumento à paixão dos torcedores e um dos símbolos do local.
O Brasil protagonizou um dos episódios marcantes da história do Gambarte. Em março de 1964, o Santos, de Pelé, jogou lá, em um amistoso contra uma seleção da cidade. E venceu por 3 a 2. Os mendoncinos exaltam a garra do combinado local contra o maior time do mundo.
O tempo passou, e o time cresceu muito depois que foi jogar no Malvinas Argentinas. Passou a disputar os primeiros lugares do Campeonato Argentino e a se classificar para Libertadores e Sul-Americana. Mas o local nunca foi aceito como sua verdadeira casa pela torcida, que fez vários protestos nas arquibancadas pedindo a volta ao Feliciano Gambarte, batizado em homenagem a um ex-jogador e dirigente que marcou a história do esporte de Mendoza.
Depois de alguns anos numa reforma que a gente chamaria ‘de igreja’, a praça esportiva foi reinaugurada no último dia 5 de julho com grande festa e presença do presidente da AFA, ‘Chique’ Tapia. No retorno do Campeonato Argentino, o Godoy Cruz perdeu lá para o Gimnasia La Plata por 2 a 1. E agora vai receber o Galo. É o batismo de fogo do novo caldeirão. E, para eles, o início de uma nova era. O time de Cuca que se cuide.