
A entrada da nova safra de café coincidiu com um agravamento dos atrasos em portos brasileiros e aumento dos custos logísticos. Em setembro, cerca de 939 mil sacas deixaram de ser embarcadas, o que representa 2.848 contêineres. O prejuízo direto aos exportadores foi de R$ 8,9 milhões, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Esse foi o terceiro maior impacto financeiro da série histórica da entidade, atrás apenas dos meses de novembro e dezembro de 2024. A impossibilidade de embarque também impediu que o país recebesse US$ 348 milhões em receitas cambiais no período.
Logística travada e cobrança por investimentos
Para Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé, a situação expõe o esgotamento da infraestrutura portuária e reforça a urgência de investimentos. Ele defende a ampliação da capacidade de carga, a diversificação de modais e mais agilidade em processos burocráticos, especialmente no leilão do Tecon Santos 10 — terminal de contêineres no Porto de Santos.
Segundo Heron, a demora na realização do certame amplia os prejuízos e compromete o fluxo de exportações não só do café, mas também de outras cadeias do agronegócio, como açúcar, algodão e celulose. O Cecafé e a Associação Logística Brasil emitiram, em outubro, um comunicado público pedindo que o processo ocorra com ampla concorrência e sem restrições de participação.
Debate sobre o leilão do Tecon Santos 10
O tema é acompanhado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), cuja área técnica apontou que limitar a participação de empresas seria ilegal e contrária aos princípios da concorrência. O parecer recomenda que o leilão seja realizado em fase única e sem restrições, para evitar judicialização e novos atrasos.
Heron questiona o motivo de se restringir a entrada de operadores experientes em um momento em que o país busca aumentar a arrecadação e destravar gargalos logísticos. Ele defende que a decisão final do Ministério de Portos e Aeroportos e da Antaq seja técnica e priorize o interesse público.
Índices de atraso nos portos
O levantamento do Cecafé e da startup ElloX Digital mostra que 57% dos navios tiveram atrasos ou alterações de escala em setembro. No Porto de Santos, principal saída do café brasileiro, o índice chegou a 75%, com esperas que chegaram a 35 dias.
No Rio de Janeiro, segundo maior polo exportador, 44% das embarcações registraram atrasos, com casos de até 63 dias de intervalo entre os prazos de embarque.
Heron conclui que, enquanto a oferta de capacidade portuária não for ampliada, o Brasil seguirá perdendo eficiência e receita no comércio exterior, mesmo com o potencial crescente de exportação do agronegócio.


