Pelo menos quatro autoridades, entre elas os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF), utilizaram aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para participar do Festival de Parintins, no Amazonas, no último fim de semana de junho. Nenhuma delas informou compromissos oficiais ligados diretamente à viagem.

Segundo os registros da FAB, o ministro do Turismo, Celso Sabino, voou ao lado de Davi Alcolumbre (União-AP), Hugo Motta (Republicanos-PB), do corregedor do CNJ, Mauro Campbell, e outras autoridades, partindo de Brasília para Parintins na sexta-feira, 27 de junho. No domingo seguinte, 29 de junho, a aeronave transportou 20 pessoas de volta à capital federal.

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O senador Eduardo Braga (MDB-AM) recebeu o grupo no Amazonas e usou uma entrevista em rádio local para comemorar o “compromisso arrancado” dos visitantes. Ele afirmou, em tom bem-humorado, que garantiu com os parlamentares e com o ministro do Turismo a liberação de R$ 17 milhões para recapear a pista do Aeroporto de Parintins.

Um decreto autoriza presidentes dos Três Poderes, ministros e comandantes das Forças Armadas a usar aeronaves da FAB. A norma permite o uso em casos de emergência médica, questões de segurança ou missões oficiais.

Na prática, porém, autoridades têm usado os aviões para participar de festas, sem apresentar justificativa formal.

Barroso também voou pela FAB para participar da festa folclórica

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, também viajou em aeronave da FAB. Ele saiu de Brasília na quinta-feira 26, fez uma escala em Rio Branco (AC) e seguiu para Parintins. Depois do festival, foi para São Paulo.

Em nota, Barroso afirmou que tem feito reuniões com presidentes de tribunais estaduais em todo o país e, no caso do Amazonas, o presidente do TJ, Jomar Fernandes, estava em Parintins. O STF também informou que o ministro compareceu à cidade a convite do governador Wilson Lima (União-AM).

Presidente da Câmara usou avião da FAB em circuito de festas juninas

Não foi a única ocasião em que Hugo Motta recorreu aos jatos da FAB. Em junho, ele participou da festa de São João de Petrolina (PE), seguiu para Salvador e depois para Campina Grande (PB), sua base eleitoral. No trajeto, compartilhou o voo com Alcolumbre, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), e pelo menos dez acompanhantes.

Em Parintins, Motta apareceu em vídeo ao lado de Sabino e afirmou que visitava o festival pela primeira vez, atendendo a um convite do ministro. A FAB, por regra, não divulga o motivo dos voos nem a lista completa de passageiros, apenas os trajetos e horários.

Interpelado sobre a parada em Salvador e o uso da aeronave durante o período, Motta não se manifestou.

Eventos culturais viram pretexto recorrente para deslocamentos oficiais

A assessoria do Ministério do Turismo justificou a viagem alegando apoio institucional ao festival, responsável por movimentar mais de R$ 180 milhões na economia local.

Já a equipe de Alcolumbre alegou motivos de segurança e reforçou que o senador tem orgulho de divulgar o evento, agora reconhecido como patrimônio cultural.

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Apesar das declarações, as agendas oficiais de Alcolumbre e Motta não incluíam compromissos em Parintins. O episódio reacende o debate sobre o uso político dos aviões da FAB e a falta de transparência em deslocamentos pagos com recursos públicos.