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Avanços, tensões e a nova doação da UE ao Fundo Amazônia

O terceiro dia da COP30 foi marcado por um equilíbrio delicado entre boas notícias e frustrações. Belém amanheceu com um anúncio relevante, a União Europeia confirmou uma nova doação ao Fundo Amazônia, reforçando a parceria com o Brasil e a prioridade internacional da floresta. O gesto tem forte peso simbólico e diplomático e dá ao país mais margem nas negociações, ao mesmo tempo em que aumenta a cobrança por resultados concretos.

A conferência também apresentou a Global Initiative on Jobs & Skills for the New Economy, que pretende formar profissionais para a economia verde e projeta até 375 milhões de novos empregos na próxima década. É a COP tentando deixar de ser um palco de metas abstratas para se tornar um espaço de construção de capacidades reais.

Mas a realidade rapidamente mostrou seus limites. Apesar da boa vontade política, o financiamento climático continua travado. Programas essenciais, como os ligados à saúde e adaptação climática, seguem sem os recursos necessários, revelando que o mundo ainda hesita em abrir o cofre na escala que o problema exige.

Ao mesmo tempo, um protesto de indígenas que romperam barreiras de segurança e entraram na zona azul expôs um ponto sensível, a sensação de exclusão das decisões que impactam seus territórios. O ato foi pacífico, mas simbólico, e deixou claro que inclusão não pode ser apenas retórica.

Para o Brasil, o dia reforçou duas mensagens centrais. A primeira é que a Amazônia se consolida como ativo geopolítico estratégico. A segunda é que a pressão internacional por resultados, transparência e governança será cada vez maior. Para o setor produtivo, o recado também é evidente: cadeias agropecuárias, industriais e de bioenergia terão de incorporar novas tecnologias, rastreabilidade e práticas de baixa emissão, porque a economia verde deixou de ser tendência e se tornou requisito de mercado.

Mesmo com sinais positivos, o saldo do dia mostra que a COP30 ainda vive entre o mundo das promessas, cheio de anúncios e metas, e o da prática, limitado por conflitos sociais, disputas territoriais e escassez de recursos. A transição climática está avançando, mas ainda não no ritmo que o planeta exige.

Miguel DaoudMiguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

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