O agronegócio brasileiro gerou US$ 165,13 bilhões em receita de exportação em 2024. Apesar do recuo de 1,2% na balança comercial em comparação com 2023, o número representa o segundo maior faturamento do setor em termos de embarques de commodities agropecuárias.
De acordo com levantamento da consultoria Datagro amparado em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a China se manteve como o principal destino dos produtos nacionais ao longo do ano passado. As vendas ao mercado chinês somaram US$ 49,7 bilhões, retração de 17,5% ante 2023, ou US$ 10,54 bilhões a menos.
Com isso, a participação chinesa saiu de 36,2% em 2023 para 30,2% em 2024. Como já era de se esperar, a soja em grão foi a protagonista nessas transações: vendas de US$ 31,5 bilhões (queda anual de US$ 7,4 bilhões). Assim, o gigante asiático comprou 73,4% do total da oleaginosa exportada pelo Brasil.
Em seguida, aparece os Estados Unidos, com embarques de US$ 12,1 bilhões (+23,1%), adquirindo, principalmente, café verde, celulose, carne bovina in natura e suco de laranja.
Estimativas para 2025
Para a Datagro, o ano de 2025 guarda maiores oportunidades para as exportações do agronegócio brasileiro por quatro principais fatores, na visão da Datagro:
- Valorização do dólar frente ao real
- Eleição de Donald Trump e a tensão comercial entre Estados Unidos e China
- Recuperação da safra de grãos
- Investimentos logísticos
O contexto de valorização do dólar frente ao real e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos são fatores que devem reacender a perspectiva de tensões comerciais, tendo em vista os planos do novo presidente de taxar as importações, sobretudo de produtos chineses.
Ademais, a empresa diz que, no lado da oferta, há a expectativa de recuperação das safras de grãos e provável maior oferta de cana-de-açúcar em função das boas condições climáticas desde outubro do ano passado.
Para a soja, principal commodity agrícola exportada pelo país, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima produção de 166,33 milhões de toneladas na safra 2024/25, aumento de 12,6% ante à temporada anterior.
“Cabe pontuar que há a probabilidade de maior abertura de janela de oportunidade para as exportações de grãos do Brasil uma vez que a possível tensão comercial entre os Estados Unidos e a China pode ampliar a compra de Pequim da soja e do milho brasileiro em detrimento ao produto norte-americano”, diz o levantamento.
Desaceleração chinesa
Em contrapartida, a Datagro pontua que, apesar da preferência pelo grão brasileiro face ao cenário de guerra comercial com os norte-americanos, a expectativa de desaceleração da economia chinesa impõe cautela quanto ao desempenho das exportações do agronegócio em 2025.
“Adicionalmente, após registrar recordes, há preocupações quanto ao excedente exportável de café em 2025 em razão dos impactos da seca e dos incêndios nos cafezais em 2024, enquanto o setor de suco de laranja deve enfrentar mais um ano de desafios com pomares envelhecidos e maior propagação de doenças, como o greening“.
Investimentos logísticos
A Datagro enxerga com bons olhos o campo logístico brasileiro. “O setor tem investido na expansão e modernização dos portos, a exemplo dos investimentos na infraestrutura do Porto de Santana, no norte do país, o que fortalecerá o Arco Norte como hub estratégico para o escoamento de grãos”.
Outro exemplo pontuado pela consultoria, ainda que de longo prazo, é o Porto de Chancay, no Peru, que está recebendo investimentos significativos para permitir uma rota mais ágil em comparação com os portos tradicionais do Atlântico.
“Embora ainda existam desafios logísticos no Peru, como o trajeto de 800 quilômetros pelos Andes, o investimento em infraestrutura, somado à redução no tempo de navegação, representa uma oportunidade promissora para os produtores da região Norte e Centro-Oeste do Brasil”.
A consultoria ainda destaca que, apesar dos investimentos em rotas alternativas, o Porto de Santos, em São Paulo, também tem recebido aportes para aprimorar o escoamento de produtos do agronegócio. Como exemplo, ressalta que em novembro de 2024 foi inaugurado o terminal T-32 e a conclusão da segunda fase do terminal da DP World Brasil (DPW), que são estruturas responsáveis por comportar as cargas de celulose e papel.
“Em paralelo, a Cofco investiu em um terminal no Porto de Santos com capacidade para movimentar 14 milhões de toneladas de grãos por ano. A inauguração do terminal está prevista para 2025 e deve quadruplicar a capacidade portuária da companhia no Brasil, permitindo o embarque de até 200 navios por ano”.
O terminal conta com conexão direta a ferrovias, promete reduzir custos logísticos e otimizar o escoamento de soja, milho e açúcar, principais produtos exportados pelo Brasil para a China.