O terceiro mandato de Lula registra a maior taxa de infidelidade da base aliada na Câmara dos Deputados em três décadas. Apenas 72% dos votos de parlamentares de partidos à frente de ministérios foram alinhados com os interesses do Palácio do Planalto em votações com orientação oficial do governo.
O dado ajuda a explicar uma série de derrotas recentes, como a aprovação do projeto que revogou o decreto do IOF — que teve apoio de siglas como União Brasil, MDB, PSD, Republicanos, PP, PDT e PSB, que juntas controlam 12 ministérios.
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Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo, com base em registros da Câmara, analisou todas as votações nominais em que houve orientação explícita do governo sobre como a base deveria se posicionar.


O resultado revela o pior desempenho de uma coalizão ministerial desde 1995. O cenário é semelhante apenas ao segundo mandato de Dilma Rousseff, durante a crise que culminou no impeachment, que também atingiu 72% de fidelidade.
Quanto aos demais antecessores do petista, Fernando Henrique Cardoso contou com 95% e 93% no primeiro e segundo mandatos, respectivamente; Michel Temer, 93%; e Jair Bolsonaro, 90%. O próprio Lula teve 91% e 92% nos dois primeiros mandatos, enquanto Dilma registrou 81% em seu primeiro.
Entre as recentes derrotas do Planalto, destaca-se a aprovação do projeto que suspendeu o decreto presidencial sobre o IOF. A proposta contou com apoio de 63% dos deputados de partidos com ministérios.


A articulação foi impulsionada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que colocou o tema em votação de surpresa — atitude incomum no Congresso. Em quatro décadas, apenas dois decretos presidenciais haviam sido derrubados até então.
Especialistas ouvidos pelo Estadão afirmam que o baixo desempenho da base e as derrotas do governo são fruto de fatores conjunturais e estruturais. Entre eles, o avanço de uma maioria associada à direita no Congresso, o fortalecimento do Legislativo diante da institucionalização das emendas parlamentares e a consequente mudança na lógica de negociação com o Executivo.


Parlamentares da base aliada também apontam falhas de articulação, como a relutância de Lula em participar diretamente das negociações, a escassez de diálogo com o Planalto e a lentidão na liberação de emendas.
Segundo o deputado Mário Heringer (PDT-MG), líder do partido na Câmara — que comanda o Ministério da Previdência —, Lula tem mantido distância do Congresso neste mandato. “É o período em que Lula está mais distante do Legislativo de verdade”, afirmou.
Também de acordo com o Estadão, Lula é o presidente que menos se reuniu com congressistas em agendas oficiais desde Dilma.