O jornalista freelance Osman Ahmed não será mais contratado pela BBC depois da divulgação de publicações nas redes sociais com conteúdo de antissemitismo e mensagens ofensivas a israelenses. A decisão ocorreu depois que diversas entidades, como a embaixada de Israel no Reino Unido, manifestaram repúdio às postagens e cobraram providências da emissora pública britânica.
Ahmed trabalhou em diferentes veículos de imprensa, como ITN e CNN, além de ter atuado como produtor nos programas Newsday e no noticiário radiofônico da BBC voltado ao público da África e da Ásia. As informações foram publicadas pelo jornal britânico The Telegraph neste domingo, 29.
Ele também colaborou com a BBC Arabic, serviço em língua árabe alvo de críticas por viés contrário a Israel. Entre as publicações atribuídas ao jornalista, destacam-se comentários em que ele afirma que Israel deveria “ser desmantelado” e que os judeus “na verdade não deveriam ter uma terra”.
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Uma das postagens mais repercutidas mostrava um grupo de judeus ortodoxos de uma seita minoritária tentando atear fogo na bandeira de Israel. Na legenda, Ahmed escreveu: “Judeus que realmente entendem sua religião reconhecem que Israel é um Estado terrorista e que os judeus na verdade não deveriam ter uma terra”, acusou.
Outro vídeo compartilhado exibia passageiros correndo para um abrigo no aeroporto Ben Gurion, durante um ataque com mísseis iranianos. O conteúdo foi publicado junto ao comentário: “Caos no Aeroporto Ben Gurion enquanto israelenses correm para fugir ‘da terra prometida’”.
As manifestações de Ahmed sobre o conflito em Gaza também chamaram atenção desde outubro de 2023, quando integrantes do grupo Hamas mataram mais de 1,2 mil israelenses. Além disso, ele publicou imagens que comparavam a chegada de refugiados judeus à Palestina antes de 1948 à destruição de Gaza pelos bombardeios israelenses, com sugestão de relação de culpa.
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Antissemitismo e críticas ao conflito
Ao comentar a decisão da secretária do Interior, Yvette Cooper, de banir a organização Palestine Action, Ahmed compartilhou uma frase que dizia: “Para saber quem manda em você, simplesmente descubra quem você não pode criticar”, frase atribuída ao ativista neonazista Kevin Alfred Strom.
Entidades que acompanham o noticiário árabe criticaram a conduta do profissional. O Comitê para a Precisão nas Informações sobre o Oriente Médio declarou que os tweets de Ahmed “ficaram disponíveis publicamente por meses” e pergunta se a demora do canal nacional em agir “se deveu a conivência ou pura incompetência”.
A embaixada de Israel no Reino Unido já havia registrado queixas anteriores sobre as publicações de Ahmed, sobretudo durante sua passagem pela BBC Arabic. A porta-voz da embaixada, Orly Goldschmidt, afirmou: “A BBC já nos pediu desculpas anteriormente pelas ações deste jornalista enquanto trabalhava na BBC Arabic”, recordou. No entanto, sua atitude não mudou.


O Conselho de Deputados dos Judeus Britânicos reconheceu avanços pontuais por parte da BBC, mas ressaltou a necessidade de priorizar o enfrentamento ao discurso antissemita. Em nota, um porta-voz declarou que “a questão do antissemitismo precisa ser uma prioridade máxima” para a emissora.
A BBC informou que começou em maio uma revisão independente sobre sua cobertura do Oriente Médio, o serviço em árabe e o tratamento geral do conflito entre Israel e Gaza. A investigação ocorre depois da publicação de um relatório da Câmara que denuncia “antissemitismo chocante e viés anti-Israel” na emissora.
Em comunicado oficial sobre o caso, a BBC declarou: “Osman Ahmed é um freelancer que não está mais vinculado à BBC”, decretou. “Não voltaremos a trabalhar com ele. Deixamos claro que não há lugar para antissemitismo em nossos serviços.”
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