Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Beatriz Souza se apega a visibilidade da medalha olímpica para combater racismo

Ao pisar no tatame da Arena Champ-de-Mars, no dia 2 de agosto de 2024, Beatriz Souza tinha apenas um pensamento: vencer a israelense Raz Hershko e conquistar o primeiro ouro do Brasil nas Olimpíadas de Paris.

Mal sabia a judoca que o waza-ari aos 44 segundos da luta significaria muito mais do que a medalha de ouro na categoria acima de 78 kg. O golpe significou o início de uma nova vida para a atleta nascida em Itariri, no interior de São Paulo.

O impacto foi imediato: palestras, campanhas e ações com patrocinadores passaram a fazer parte da rotina de Beatriz Souza. Em entrevista exclusiva à ESPN, a judoca admitiu ter sido surpreendida com o pós-medalha.

“A gente fica só na imaginação, com a conquista da medalha, mas não esperava esse “boom” todo depois. Antes das Olimpíadas eu tinha só a Petrobrás e hoje eu tenho quatro, cinco patrocinadores. A questão de palestras… Nunca tinha me imaginado dando palestras e hoje em dia é o que eu mais faço”, contou.

“É surreal como as coisas mudam. Eu fico muito feliz que o resultado está trazendo excelentes patrocinadores, a gente está conseguindo crescer bastante nessa parte. Eu fico muito feliz a cada contrato que a gente fecha. Não tem nem como comparar o antes e depois (das Olimpíadas)”, completou.

Assim como a fama, as responsabilidades também aumentaram. E Beatriz Souza sabe disso. Consciente de que suas atitudes ganharam um peso maior desde as Olimpíadas de Paris, a judoca quer ser um bom exemplo para as crianças não só dentro do tatame. Mas na vida.

“Eu fico muito feliz de poder estar nessa posição hoje, a criançada adora, não perde a oportunidade de tirar foto, é uma loucura. Mas é muito bom poder ser referência, poder ser um exemplo ainda mais para a criançada, que é o futuro do nosso país, que é o futuro do nosso esporte. O que eu puder fazer para continuar sendo exemplo eu quero fazer. A dedicação no tatame vai continuar por conta deles também, eu quero continuar sendo essa excelente referência. Como eu tive as minhas referências, eu quero ser uma boa referência para eles também”, comentou.

“Antes era só o público do judô que acompanhava. Agora são todas as crianças, então a responsabilidade triplicou em continuar sendo um exemplo. Um exemplo não só para o judô, mas para a vida também, em questão de superação, de enfrentar os desafios, de continuar persistindo, de continuar acreditando no progresso, acreditando em um sonho. Vai além do mundo esportivo”, afirmou a judoca.

E o futuro? Aos 27 anos, Beatriz Souza não se dá por satisfeita e tem como principal objetivo repetir o feito de Paris em Los Angeles, sede dos Jogos Olímpicos de 2028. Mas ela sabe que o desafio será ainda maior.

Número 2 do mundo no ranking acima de 78 kg, Beatriz Souza conquistou duas medalhas de ouro no Campeonato Pan-Americano e Oceania, em Santiago, e terminou em quinto lugar no Grand Slam de Astana.

No Mundial disputado em Budapeste, na Hungria, a judoca acabou derrotada nas oitavas de final na disputa individual e venceu suas três lutas na disputa por equipes, ajudando o Brasil a chegar até a decisão da medalha de bronze, quando a seleção acabou derrotada pelo Japão, grande potência da modalidade.

“A gente tem um ciclo até Los Angeles, então os cuidados vão aumentar, todo o planejamento vai ser checado mais de uma vez para ver se a gente está fazendo tudo direitinho. Zerar o “game” é maravilhoso, mas zerar duas vezes é incrível. Vou em busca disso, em busca desse grande sonho. A dedicação é redobrada, mas é continuar acreditando, continuar batalhando, treinando cada vez mais, cada dia mais”, disse.

Mas Beatriz Souza sabe que não vai lutar judô a vida inteira. Mesmo praticando a modalidade desde os 7 anos e com o foco na carreira de um atleta de alto rendimento desde 15 anos, a judoca também está cursando administração, pensando na sua vida fora dos tatames.

“Eu quero trabalhar a parte financeira o melhor possível, porque eu realmente quero um pós tranquilo, um pós onde eu consiga relaxar, que eu consiga me dedicar aos estudos, onde eu quero realmente me aprofundar. Trabalhar em outras áreas, ter outras visões de mundo”, explicou

Preparando-se para o seu pós-carreira, Bia também tem consciência de que enfrenta um desafio ainda maior fora das competições: a luta contra o racismo.

“Infelizmente, a gente continua recebendo ataques pela internet e as pessoas tentam disfarçar com um simples comentário, mas é preconceito, não tem como. A gente não pode aliviar e passar a mão sob isso. Ainda mais pela forma pela qual minha visibilidade cresceu de forma tão repentina e foi algo tão grande, em relação ao preconceito, ele infelizmente aumentou um pouco”.

Mesmo diante desses adversários desleais, Bia está determinada a enfrentá-los, com o objetivo de continuar inspirando e transformando a vida de muitos brasileiros.

“Eu fico feliz em estar nessa posição, em ter essa visibilidade porque é algo que a gente pode mostrar cada vez mais nossa luta e mostrar como que a gente pode enfrentar o preconceito e vencer a cada etapa, mostrando para o mundo que não é esse preconceito que vai nos parar e vai ser uma luta que nós vamos ganhar. ”, concluiu.

Compartilhe:

Veja também: