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Belmonte fala sobre saída do São Paulo, futuro e opina sobre voto de sócio-torcedor: ‘Por que não?’

Carlos Belmonte, diretor do São Paulo até a última sexta-feira (28), deixou o cargo após diversas desavenças políticas e uma goleada de 6 a 0 sofrida pelo elenco Tricolor. O placar foi apenas o elemento final que motivou a decisão. Existe uma possibilidade que o ex-dirigente concorra às eleições presidenciais do time do Morumbi em 2026. Por isso, a reportagem da TNT Sports foi até o escritório de Belmonte entrevistá-lo. Dentre diversos temas, buscamos entender sua visão sobre os 5 anos de gestão de futebol do profissional no clube e também sobre o que podemos esperar do seu futuro.

Confira abaixo a transcrição da entrevista completa de Carlos Belmonte para a nossa setorista do São Paulo, Priscila Senhorães:

Avaliação da gestão de Belmonte no CT da Barra Funda

“No meu caso, estava tudo dentro da expectativa do que eu esperava. Claro que há momentos melhores, há momentos piores, isso é natural, né? Eu fiquei cinco anos no futebol. Não é pouco tempo, é muito tempo num clube de futebol. Você sabe o quanto é difícil gerir nesses cinco anos. A gente fez cinco finais, conquistou três títulos, um time que estava há nove anos sem ganhar nenhum título. Então a gente fez uma trajetória de conquistas, mas não é uma trajetória fácil num clube que tem pouco dinheiro e pouco recurso. Então a gente sempre teve essa dificuldade. E, claro, as redes sociais são complexas, são difíceis, mas eu não ligo muito pra essa questão. Eu tinha uma convicção e essa convicção era melhorar as condições do CT, e a gente conseguiu fazer reformas importantes, deixar o CT muito mais adequado do que o que eu encontrei, com vestiários novos, refeitório novo, todos os equipamentos de fisioterapia novos; Montar um elenco comprometido, trazer jogadores com comprometimento. Isso é o que eu acreditava: Que eu não tinha dinheiro, mas tinha que trazer jogadores comprometidos. A gente tentou buscar uma relação clara com os atletas. Isso a gente também conseguiu. Então eu acho que era tudo o que eu esperava. Eu esperava, claro, ganhar mais títulos. A gente sempre quer ganhar. Mas veja, mesmo num ano como esse, todo mundo está vendo o ano muito difícil do São Paulo, um ano complicado, a gente está em oitavo no Campeonato Brasileiro e terminou em quinto na Libertadores. Não é algo que a gente tenha que considerar como o pior ano da história do São Paulo. Um ano difícil em que a gente não teve nenhum investimento, enquanto outros times fizeram muitos investimentos. A gente não brigou nenhum momento contra o rebaixamento. Isso não é o que eu quero pro São Paulo. Acho que o São Paulo precisa de investimento. O São Paulo precisa ter time forte. Mas eu estou muito tranquilo com o que a gente fez, com o que a gente construiu. Eu saí com essa tranquilidade. Eu acho que com quem está chegando agora, fora os que estão ficando, que são muito competentes, tenho certeza que vamos buscar um 2026 melhor. Vamos lutar nessas duas últimas rodadas. Eu tenho muita confiança nos atletas para pegar o oitavo lugar e aí esperar que Fluminense ou Cruzeiro vençam a Copa do Brasil para abrir mais uma vaga na Libertadores do ano que vem”.

A dificuldade de gerir sem dinheiro e como recuperar o São Paulo da crise financeira

“Sim, eu acho que o trabalho foi ficando mais difícil ao longo do tempo, porque também houve um pouquinho de mudança na trajetória do que a gente estava fazendo. Eu acho que o São Paulo, isso é uma questão minha, cada um pensa de um jeito, mas o meu pensamento é o seguinte: futebol você requer sempre investimento. Você só vai reduzir efetivamente a dívida de uma forma mais pesada se você conquistar títulos, se você for longe nos campeonatos. Aí entra mais dinheiro, você vende melhor seus atletas, o patrocínio é melhor, tudo é melhor. E aí você começa a trabalhar a redução da dívida. A gente está buscando um caminho de redução de dívida. O regime é presidencialista e o presidente conversou comigo, eu aceitei. Eu nunca jogo nenhuma culpa no presidente Júlio, porque, na verdade, o que aconteceu lá foi sempre de comum acordo. Muita gente diz ‘ah, o presidente vendeu jogadores’, todo mundo vendeu junto, todo mundo comprou junto. As decisões foram sempre coletivas. Então não quero culpar ninguém. O que eu quero dizer é que o presidente, no início do ano, pediu para que a gente não fizesse investimentos para que tivesse no final do ano um superávit, que a gente não gastasse em contratações. É um desejo do presidente, é o que ele acredita, e eu era o diretor de futebol dele. Então eu tinha que seguir as orientações do presidente. Eu acho que a gente pode buscar outros caminhos. Eu acho que todos estão vendo que há outros caminhos. Eu acho que até o presidente está percebendo que há um outro caminho para vencer e eu espero que tenha realmente um outro caminho. Eu acho que é possível a gente diminuir essa dívida ao longo do tempo. Essa dívida não está incontrolável. É possível reduzir, mas a gente precisa investir em futebol”.

Auto-avaliação sobre a sua gestão

“Eu nunca me arrependo das coisas que eu falo quando eu tenho convicção do que eu falo. O que eu disse lá e eu repito, não tenho a menor dúvida disso, é que eu sou um bom gestor. Minhas empresas vão muito bem. Eu fui um bom gestor na Rádio Jovem Pan, onde eu trabalhei. Eu sou um bom gestor nas minhas empresas. Eu fui um bom gestor no São Paulo diante do quadro que eu encontrei. Eu não tenho o menor receio de falar isso. Quem acha que eu não sou um bom gestor, qualquer um tem o direito de achar que eu não sou bom gestor. Eu me acho um bom gestor e continuarei me achando um bom gestor. Eu fiz uma gestão no São Paulo num momento sem nenhum recurso, praticamente sem dinheiro nenhum. Eu montei times competitivos, eu ganhei a Copa do Brasil, eu estava lá, eu comandei o time que ganhou a Copa do Brasil inédita no São Paulo, eu ganhei a Supercopa, eu ganhei o Campeonato Paulista, eu levei o time às finais. Quando eu falo eu, eu falo do ponto de vista de gestão, porque a minha importância dessas conquistas é muito menor diante dos jogadores. Porque quem ganha o jogo são os jogadores. Eu acho que é sempre assim. Quem ganha são os jogadores e o técnico, eles ganham. Quando perde, a gente tem que observar que eles perdem, o técnico perde, mas a gente também perde. Onde a gente está errando para que eles percam? Quando eles ganham, 99% dos méritos são deles. Eles é que fazem o jogo, eles que jogam. A gente tem que fazer o melhor para eles, tentar dar o máximo para eles. Mas eu sou bom gestor, não tenho o menor receio de dizer isso. Minha vida prova isso. Minha vida fora do São Paulo prova que eu sou um bom gestor. Quem acha que eu não sou, talvez nem conheça minha vida fora do São Paulo e também conhece muito pouco de São Paulo. É muito fácil, atrás de uma tela de computador, escrever o que quiser, e é isso que acontece nas redes sociais. Isso não me preocupa, nunca me preocupou. Eu sou autoconfiante, tenho convicção do que eu faço”.

Acertos e erros no processo de contratações

“Tem diversas situações. Vamos falar um pouco de contratações. Por exemplo, têm contratações que eu acho que nós acertamos muito e não gastamos nada. Goleiro Rafael, acertamos demais. Rafinha. A importância do Rafinha na Copa do Brasil é enorme, e é um jogador que estava no Grêmio rebaixado. Alisson, titular nosso na Copa do Brasil. Trazer o Calleri de volta, acho que acertei muito em trazer o Calleri de volta, não só pelo jogador que ele é, mas pelo homem, pelo caráter dele e caráter que ele traz para o time. Renovar com Luciano. Lucas, ter trazido o Lucas. Aí tem jogadores, e eu não vou dizer, claro, que a gente errou, teve jogador que não deu certo e aí tem vários. Eu não estou dizendo que eu só acertei nas contratações, eu também errei nas contratações, porque a gente atua num valor de mercado que você está muito mais sujeito ao erro. Se você pode comprar grandes jogadores, a chance de você errar é menor. Quando você tem que trazer de um mercado que a gente chama de secundário, é mais difícil. Mas a gente acertou muito. Por exemplo, têm alguns jogadores que eu prefiro não citar o nome, que eu tive na mão e porque as vezes um treinador não gostava, eu não trouxe. E depois esse jogador se transformou num jogador muito grande em outros clubes, então isso dá um pouquinho de dor. O Juvenal dizia ‘quem contrata é a diretoria, técnico treina’. Mas não é bem assim. Você tem que ouvir os treinadores, e no fim, às vezes, ouvindo um ou outro, você deixa de trazer um jogador. Então, esses são alguns arrependimentos que a gente tem. Mas na média, eu fui muito feliz. E quando eu falo trazer um jogador, a gente sempre trouxe junto. Eu tenho o Muricy, tem o Rui, o Nelson, Fernando, o Júlio também participando. Então acho que tem acertos e tem erros, como qualquer diretor de futebol”.

Personalidade de Rogério Ceni e Hernán Crespo de desabafar em entrevistas

“Bom, eu respeito sempre a opinião das pessoas. O Rogério tem esse perfil de falar mais diretamente, até porque o Rogério no São Paulo, principalmente, é a casa dele. O Rogério é o ídolo máximo do clube, então ele também se sente parte integrante. Eu tenho uma relação muito boa com o Rogério. Você tem que entender também que o momento da coletiva do técnico é um momento difícil. Ele também está sendo pressionado, às vezes está ali depois de uma derrota difícil. Então eles também têm as dores deles. Você tem que entender. Eu acho que isso não pode gerar nenhum tipo de atrito interno. Você tem que entender o que o técnico está falando, tem que conversar com ele sobre o que ele está falando, explicar para ele o quadro. E levando a relação o melhor possível. Não adianta. Você tem que entender que todo mundo tem o direito de expressar a sua opinião sobre uma situação e essa opinião é expressada internamente e externamente. Eu prefiro sempre que ela seja internamente, porque é mais fácil de resolver, mas tem que entender que às vezes para o técnico está bem difícil. Então tem que respeitar e conversar. Com o diálogo tudo se acerta, tudo se resolve”.

Alto número de lesões na temporada

“Primeiro eu não gosto da palavra azar. Eu acho que a palavra azar acaba escondendo as situações, né? Vamos ao quadro. Nós tivemos algumas lesões que são traumas. Então, Calleri, André, Ryan Francisco, Hugo, são traumas. Você não tem controle sobre um trauma, né? O próprio Wendell, depois ele também machucou uma região diferente. O Pablo foi trauma. E aí você tem dois atletas, o Oscar e o Luiz, que foram problemas de saúde, então é um pouco diferente. E aí você tem as lesões musculares. Na minha visão, as lesões musculares estão muito equiparadas com o que a gente tem tido. Eu tenho algumas avaliações sobre lesão muscular, isso não é da minha cabeça, é conversando com especialistas. A primeira, claro, é a idade mais elevada. O atleta com mais idade tem mais riscos de lesão, isso é normal. Bem como o atleta bem jovem. O atleta bem jovem não está maturado fisicamente ainda. Então, quando ele sobe do sub-20 para jogar no profissional, muda completamente o ritmo de treinamento, a força do jogo, eles tendem no começo a ter alguns problemas de lesão, e o atleta com mais idade também, aí já pelo desgaste físico natural dele. Então nós temos um elenco com alguns jovens e outros jogadores um pouco mais veteranos. Outra coisa que é muito comum é a dificuldade da troca de treinador. Troca de treinador também gera lesão porque as metodologias dos preparadores físicos são diferentes. Tem preparador físico de um treinador que aposta mais em velocidade. Tem o outro que aposta mais em força. Os músculos utilizados nesses treinamentos são diferentes. Então, quando há mudança de treinador também gera uma mudança, o atleta está trabalhando menos uma musculatura do que outra. Isso também gera contusão. Eu acho que tudo isso é um problema. Eu fiz alguns relatórios para o presidente Júlio e entreguei de coisas que eu acho que a gente tem que trabalhar no São Paulo. Eu sempre defendi algumas situações que a gente tem que melhorar. Eu acho que a gente tem que melhorar dentro lá da instituição. O Júlio sabe quais são as coisas que são. Eu não sou mais diretor, então não me sinto confortável de dizer o que eu entreguei para o Júlio do ponto de vista do que eu acho que deveria ser feito em relação ao que nós podemos melhorar no interno do nosso corpo para diminuir lesões. Tem alguns pontos que eu já vinha verificando e vinha alertando o Júlio, que eu acho que tínhamos que fazer algumas mudanças, algumas alterações, seja de processo, seja de pessoas. Eu dei ao Júlio o meu parecer, isso já há três, quatro meses. O Júlio também sabe. Eu acho que ele tem trabalhado nisso”.

Decisão de entregar o cargo de diretor de futebol

“São vários fatores. Eu vinha trabalhando neste ano, um ano muito difícil, um ano sem investimento no elenco, com lesões, com traumas, com elenco muito modificado, a gente sofrendo bastante com o elenco. E eu digo porque falei para o presidente, então não tem nenhum problema. E de novo, quero dizer duas coisas que tem que estar muito claro quando eu falo isso. Eu sou muito grato ao presidente Júlio, foi ele que me escolheu para o futebol e eu fiquei cinco anos no futebol. Então eu tenho gratidão pelo presidente ter me colocado, confiado no meu trabalho. E hoje o Márcio (Carlomagno), que é o superintendente que tem estado lá, é alguém que eu tenho uma excelente relação, conheço o Márcio há muitos anos, então não tem nada a ver com a pessoa o que eu vou dizer aqui, porque se não fica parecendo que eu não gosto de um ou outro, e não tem nada. Mas depois do jogo contra o Mirassol, o presidente nos comunicou que o Márcio estaria mais presente no CT. Eu disse ao Júlio que eu não gostei dessa decisão. Era um direito meu não gostar da decisão. Mas eu respeitava, ele é o presidente. E naquele momento eu tomei a decisão pessoal que eu sairia no final da temporada, mas sairia de forma muito tranquila, sem nenhuma crítica a ninguém, porque não é esse o meu perfil, e eu estava preparado para sair no final da temporada. Quando o São Paulo acaba perdendo de 6 a 0 do Fluminense, eu achei que seria o momento ideal de eu sair, porque desviaria um pouco o foco dos atletas, criaria um novo assunto, que é o que eu queria, tirando um pouco do foco deles, porque eles precisam de tranquilidade. Eu comuniquei ao presidente que eu iria sair naquele momento e também ajudar o próprio presidente a iniciar um planejamento, já que eu sabia que eu não ia estar em 2026 por uma decisão minha, eu saindo um pouco antes eu também ajudo na necessidade que o São Paulo tem de se planejar, com pouco recurso, para a próxima temporada. Então foi uma decisão tranquila. Eu repito, sou grato ao presidente Júlio, torço por ele. Não tem nenhum problema. Torço por eles. Não preciso nem dizer o quanto eu torço pelo Muricy, pelo Rui, pelos jogadores e por toda a comissão que está lá. Então agora com a saída eu acho que eu obtive o que eu queria. Eu tirei um pouco o foco de uma derrota muito dolorosa, pra deixar os atletas em paz para que eles possam nos dois últimos jogos conquistar a oitava posição, que para nós é importante, para que o São Paulo esteja na Libertadores no ano que vem, tanto pela questão financeira quanto pela grandeza do São Paulo. Sabe, no começo de 2022 eu estive na Conmebol para o sorteio da Sul-Americana. Lá senta do lado esquerdo quem está na Libertadores, e do lado direito quem está na Sul-Americana. Eu disse ao Rui, e ele pode te confirmar isso: ‘Eu nunca mais quero estar sentado aqui do lado direito, o lado do São Paulo é o lado esquerdo’. E desde então nós sentamos do lado esquerdo em 2023, 2024 e 2025. Então o meu grande desejo é que em 2026, seja quem estiver lá, esteja sentado do lado esquerdo, que é o lado do São Paulo. Um time da grandeza do São Paulo tem que estar na Libertadores. A Sul-Americana, com todo respeito, não é um torneio do tamanho de São Paulo. A gente tem que estar na Libertadores. Estou torcendo demais para que o time esteja lá, porque acima de tudo está o São Paulo e eu sou são-paulino”.

Declaração de Luiz Gustavo e relação com os atletas ao longo da gestão

“O Luiz é um líder. O Luiz é um cara fantástico, um cara que só agrega dentro do elenco, jogador que cobra muito. Esse tipo de fala, que você ouviu externa, eu já vi o Luiz cobrando jogadores do mesmo jeito, porque o Luiz é um cara direto. Esse é o jeito do Luiz. Pra quem foi, eu não faço a mínima ideia se tinha alguém, especificamente, uma pessoa. O que eu sei é que o Luiz sempre foi muito positivo, é um líder nato, alguém que sempre quis ajudar o São Paulo. Então assim, você sai do jogo com um resultado péssimo também, o atleta está com a cabeça quente, talvez pode colocar alguma coisa um pouco a mais até do que gostaria. Eu não sei para quem foi, mas assim, eu acho que o mais importante disso é que a gente observe que o atleta falou algo que é importante. Então se ele falou algo importante, temos que ouvi-lo. Por que eu criei uma relação muito boa com os atletas? Porque eu nunca apontei dedo nas derrotas difíceis. As derrotas são de todos nós. Todos perdemos. E eu sempre tomei a frente, por iniciativa minha, nos momentos difíceis. Então quando a gente foi eliminado da Copa do Brasil por 3 a 0 para o Fortaleza, fui lá e dei uma coletiva. Perdemos de 4 a 0 a fiinal contra Palmeiras no jogo de volta em 2022, fui eu que fui falar. Eu sempre falei e sempre falei em defesa dos atletas, porque é verdade o que eu estou dizendo. O torcedor de São Paulo tem que se orgulhar desse elenco, porque esses caras são muito comprometidos, não são pouco comprometidos, são muito. São caras que querem dar o máximo por São Paulo. A gente só ganhou a Copa do Brasil sendo inferior tecnicamente a outras equipes porque esses caras se doam demais. Então acho que é por isso que eu tenho uma relação muito boa com eles, porque eu admiro a doação deles. Eu entendo quem eles são. Eu sei que todos lá têm caráter. Eu não tenho nada a falar de nenhum atleta do São Paulo. Por isso que eu disse a eles na minha despedida que eu vou torcer muito por eles onde eles estiverem, seja no São Paulo ou seja em outro clube. E pedi a eles na minha despedida também, porque estava muito esse papo que aquela derrota para o Fluminense por 6 a 0 era histórica, esse é um papo que eu ouvi muito, eu pedi para eles esquecerem o 6 a 0 e lembrarem que histórico é ganhar do Flamengo uma Copa do Brasil inédita para o São Paulo. Vocês têm dois jogos. Lutem nesses dois jogos para que a gente esteja na Libertadores, porque é onde vocês merecem estar. É como eu trato as pessoas. Não são só os jogadores, eu trato as pessoas assim. Eu acho que a gente tem que ter uma relação humana com as pessoas. Eu sou o primeiro diretor de futebol da história do São Paulo que colocou no bicho o jardineiro, o ajudante da cozinha. Eu coloquei eles dentro do processo de premiação dos atletas por conquista. Eles fazem parte e nunca estavam nele. É assim que eu trato as pessoas no São Paulo. Eu acho que por ter essa relação humana com as pessoas, entender que são seres humanos, é que eu sempre me dei bem com eles todos”.

Papel do Rui Costa antes e depois da saída de Belmonte

“Primeiro eu quero dizer que o Rui Costa é um excelente executivo de futebol. É uma excelente pessoa, um cara de muito caráter, e um excelente executivo. O que eu tomei como decisão, e essa foi uma decisão que eu tive desde o princípio. Eu tenho muita força política no São Paulo, óbvio, eu tenho força. E eu achava que se eu falasse e deixasse o Rui um pouquinho atrás, eu pouparia de ter que trocar o executivo a cada vez que o resultado não viesse. Não é assim que as pessoas agem normalmente, elas preferem colocar o executivo na frente e quando o time perde, cai o executivo. Veja só, em qualquer clube, quando o São Paulo perde do Água Santa, numa competição do Paulista, o executivo poderia cair. Mas com a minha força política eu punha a cara na frente e conseguia poupar o Rui Costa. Por que eu queria poupar o Rui Costa? Por que sou amigo dele? Não, porque ele é um ótimo executivo. Então o melhor que eu podia fazer era poupá-lo. Eu ficava tomando as porradas da torcida. Não tem problema, mas eu poupava o Rui e ele continuava fazendo o trabalho dele, que é muito bom. O que eu acho que vai mudar e já mudou, basta ver as redes sociais, é que a partir do momento que o Rui vai à frente, porque eu não estou mais falando, vira o canhão para ele. Então agora ele vai ser atacado. O que eu queria era poupar que ele fosse atacado, porque esse ataque pode acabar desgastando o relacionamento e você acabar perdendo um profissional que é muito qualificado. Então era essa minha ideia. Eu acho que o que muda é isso, ele vai ter mais voz, mas também passa a ser mais vítima dos ataques. É natural. Quem fala, apanha”.

Posição contrária ao FIP de Cotia

“Eu tenho por característica pessoal ser sempre claro e direto. Eu não gosto do projeto conceitualmente. Meu grupo de forma orgânica também não gostava do projeto. A primeira coisa que eu fiz foi pedir para o presidente uma reunião e dizer ao presidente que eu não gostava do projeto, o que é simples, eu não gosto, não gosto, eu tenho o direito de não gostar. Meu grupo não gosta. Expliquei isso ao presidente, o presidente entendeu que o meu grupo também não queria votar. E por que eu sou contra? Eu sou contra conceitualmente. Veja, esse ano, num ano difícil, vendendo mal como dizem algumas pessoas, vendemos 230 milhões em atletas. O valor que ia entrar era 250 milhões por 30%. Se eu vendi 230, eu achava que não era o valor adequado 250. Mas mais do que isso, eu acho que lá é onde está o nosso negócio, onde a gente consegue recursos, onde a gente vai trazer esses meninos para o profissional, utilizá-los e depois vender. Eu acho que aquilo tem que ser nosso. Essa é a minha visão e eu disse isso ao Júlio. É claro que se desgasta (a relação), mas não tem problema desgastar. É muito melhor desgastar falando a verdade do que dizer que está tudo bem e quando chegar a hora de votar, votar contra. Eu falo a verdade. Eu disse ao Julio que não gostava. Se mudar o projeto, se o projeto for melhor, o valor for melhor, o percentual for melhor, o Julio pode apresentar e eu posso achar bom, mas naquele momento eu achava o projeto ruim e me coloquei contrário de forma muito tranquila”.

Possibilidade de candidatura à presidência

“Primeiro que ser candidato à presidência do São Paulo não pode passar uma vontade pessoal. Para que você venha a ser candidato do São Paulo, as pessoas têm que querer que você seja candidato do São Paulo. Ou seja, quem vota tem que querer que você seja presidente. Ninguém é candidato de si próprio. Se você é candidato de si próprio, você vai ter seu voto e você vai perder. Então as pessoas têm que querer. Eu tenho uma visão muito clara sobre a presidência do São Paulo. Primeiro, quem for ser o presidente do São Paulo tem que ser uma pessoa com bastante experiência, bem sucedido na vida, com bom resultado na sua vida profissional e muita experiência de entender o que é o São Paulo Futebol Clube. Quantas pessoas têm essa qualidade? Muitas no conselho do São Paulo. Tem muitas pessoas que têm sucesso profissional, experiência de vida, qualidade profissional, entendem o São Paulo. Então, há muitas pessoas com essas características. Quem vai ser o próximo presidente? Eu não sei, eu sei que há diversos nomes. E eu acho que o meu nome se encaixa nesse perfil, junto com todas essas outras pessoas. Agora é esperar o presidente Júlio. Eu e meu grupo continuamos na coalizão. Eu saí da diretoria de futebol, mas fiz questão de dizer que meu grupo não saiu da coalizão. O meu grupo continua na coalizão. Eu vou fazer parte das reuniões da coalizão. O presidente Júlio está falando que lá em março, abril, ele vai startar esse processo dentro da coalizão para se definir o nome. A partir daí, o presidente deve definir o nome que ele apoia. Se o nome que ele apoiar não me agradar, eu posso não concordar. Ele pode definir qualquer um dos nomes. É um direito dele a definição de que nome ele prefere”.

Possibilidade de contratação do Rafinha para o futuro

“O Rafinha é o seguinte: No que dependesse de mim, o Rafinha trabalharia tranquilamente no São Paulo. Eu não conheci pessoa tão agregadora como o Rafinha dentro de um ambiente. Eu digo que a importância do Rafinha na conquista da Copa do Brasil é imensa, porque o Rafinha traz leveza para o ambiente. O Rafinha cobra como tem que cobrar os atletas e cobra a diretoria. Mas ele é, principalmente, um cara muito positivo dentro de um grupo. Então, eu não sei se o Rafinha voltará a trabalhar no São Paulo em outra função. Mas se eu tiver poder um dia, o Rafinha estará no São Paulo, porque eu acredito 100% que ele pode ajudar. Acredito que o telefone do Rafinha deve tocar sempre, é um cara fantástico de verdade, e são-paulino dos bons”.

Relação do São Paulo com as torcidas organizadas

“Com relação à torcida organizada, eu acho que a torcida organizada tem sua importância. Primeiro tem que dividir torcida organizada, tem várias torcidas organizadas e elas são diferentes entre si. A Independente tem um perfil, a Dragões tem outro, a Falange tem outro. Mas enfim, eu acho que a torcida organizada é muito importante porque ela vai nos momentos difíceis, está sempre junto com o clube, ela vai para as viagens, ela apoia o clube onde o clube estiver. Então acho que ela tem uma importância. Só que ela não é mais importante que o torcedor comum. O torcedor comum é mais importante que organizada, porque o torcedor comum também vai em todos os jogos, também paga seus ingressos e também é apaixonado pelo clube como um todo. Então todos os torcedores têm sua importância. E o torcedor tem a sua importância torcendo. Essa é a função do torcedor: torcer. Ele pode criticar, ele pode xingar, ele pode reclamar, mas ele não pode interferir no processo. A função do torcedor é torcer. Essa é a função do torcedor. Se ele quiser participar do processo, ele tem que entrar dentro do processo que existe. Quando a torcida organizada, do lado de fora, imagina que possa ter ingerência dentro do processo interno, aí eu acho que ela passa a não ter direito a isso. Ela tem que torcer, pode criticar, pode apoiar. Ela pode querer que A, B ou C seja presidente do São Paulo. Isso é um direito da torcida. Mas ela não pode interferir no processo se ela não estiver dentro dele. Se quiser, como a gente fala popularmente: ‘quer brincar, desce pro play’. Então compra o título, entra no clube, disputa eleição, vira conselheiro e entra na brincadeira. Eu acho que esse é o processo. Se você me perguntar ‘o sócio torcedor deve votar?’ eu defendo que o sócio torcedor, em algum momento, possa votar no processo. Tem que ter regras, regras têm que ser criadas, tem que ser estudado, porque as vezes com o valor do sócio torcedor pequeno, alguém com poderio econômico pode pagar diversos sócios torcedores. Então tem que ter um tempo de sócio torcedor. Mas eu acho que pode votar, por que não? Então o torcedor organizado vira sócio torcedor pra frente e pode, eventualmente, votar como sócio torcedor, como qualquer torcedor do São Paulo. Eu acho que esse é o caminho. Mas eu tenho o maior respeito pela torcida organizada, muito respeito mesmo. Eu acho que eles têm a importância deles.Talvez não tenha o mesmo respeito por algumas lideranças da torcida organizada, mas pela torcida organizada eu tenho o máximo respeito”.

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