(J.R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 20 de julho de 2025)
O regime Lula-STF dá a impressão, a cada dia que passa, de gostar mais e mais do seu último brinquedo: se fazer de inimigo-chefe dos Estados Unidos (EUA) e de Donald Trump. É uma briga à distância e, portanto, segura.
Sai de graça para os gatos gordos de Brasília: quem vai pagar até o último centavo da conta, que tem tudo para sair pelos olhos da cara, é o povo brasileiro, e não eles. Em suma: você finge que é valente e não corre risco nenhum.
A última salva de artilharia leve disparada pelo governo (o Brasil não tem artilharia pesada) não acertou ninguém em Washington, mas pegou em cheio o pomo da discórdia — ou pelo menos da discórdia na sua fase atual. Jair Bolsonaro, condenado antes da sentença por “tentativa de golpe” e transformado por Trump numa causa mundial dos EUA, foi ferrado por Alexandre Moraes com uma tornozeleira, expulso da internet e proibido de falar com o próprio filho.
Tome essa Trump, e mais essa — e fique sabendo, de uma vez por todas, que a cada pressão sua para ajudar Bolsonaro, o Brasil vai bater direto de volta. É de potência a potência. Tarifa de 50% nas exportações brasileiras? Pois então o Brasil vai socar tarifa nas importações que faz de lá. Temos 1% do comércio mundial dos americanos, e eles provavelmente nem vão perceber que foram taxados — mas reciprocidade é isso.


É uma dessas brigas em que, se os contendores chegarem às vias de fato, o Brasil deve passar metade do tempo por baixo; na outra metade os EUA vão estar por cima. Do GPS aos equipamentos de tomografia, da Apple à Microsoft, das peças de avião às tecnologias do agro, o Brasil precisa importar pesado dos americanos; vai ter aumento de custo direto na veia. Nos EUA a guerra não fará subir nem o preço do cafezinho.
Não há nenhum aspecto nessa disputa, nem um que seja, capaz de dar ao cidadão brasileiro um único e miserável benefício concreto. Se estava à procura do melhor jogo de perde-perde disponível hoje na praça, o governo Lula encontrou — uma guerra comercial com a maior potência do mundo e o seu PIB de US$ 30 trilhões. Mas o presidente e a sua propaganda nunca pareceram tão felizes. Acabaram-se, em suas cabeças, todos os problemas. Estamos brigando com Trump; somos heróis.
As punições a Bolsonaro, que no Brasil de hoje tem menos direitos que um tamanduá-bandeira, são um monumento ao desprezo da lei, à mesquinharia e à perversidade das ditaduras. Vem junto com a anulação do Congresso — a vontade de 383 deputados na derrubada do IOF foi extinta por 1 voto. A censura das redes sociais acaba de ser imposta pelo regime. O governo é uma ruína. Mas sempre teremos Trump.
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