O vocalista do The Smiths, Morrissey, construiu uma carreira musical inquestionável. A banda britânica pavimentou o caminho do Rock Indie para todas as que vieram – praticamente fundando o gênero musical, junto a outras da época. Morrissey, além de cantor, é compositor e já foi considerado o melhor letrista de música popular britânica da história, no livro Morrissey: The Pageant of His Bleeding Heart (“Morrissey: A encenação de seu Coração que Sangra”, em tradução livre).

O acadêmico escocês Gavin Hopps, professor sênior da Universidade St Andrews (frequentemente considerada a terceira melhor do Reino Unido nos rankings), é especialista em romantismo britânico e defendeu que a produção artística de Morrissey pode ser equiparada aos escritos de figuras literárias renomadas como Samuel Beckett e Oscar Wilde, além de se alinhar ao humor de icônicos comediantes britânicos, como Frankie Howerd e George Formby. Definitivamente, existe uma profundidade nas suas composições, que costumavam ser anti-establishment, abordando questões como marginalidade, exclusão e solidariedade com os desfavorecidos.

Porém, analisando a personalidade e as atitudes do cantor em si, atualmente, pode-se dizer que existe uma grande disparidade com relação ao que era cantado. Depois que o The Smiths acabou, Morrissey não mediu as suas palavras para criticar e ofender músicos, inteiras populações de um país (em 2010, chamou os chineses de “subespécie”, ao jornal The Guardian) além de fazer acenos públicos à extrema direita, principalmente no que diz respeito às temáticas de imigração e nacionalismo.

Ademais, ele já cancelou incontáveis shows de última hora com alegações como “estar muito frio para se apresentar” (2017, Paso Robles, Califórnia) e saiu no meio por estar sentindo cheiro de carne (2009, Coachella). De acordo com um levantamento do portal We Heart Music, o cantor cancelou mais de 300 shows em sua carreira solo, a partir de 1988.

Todos esses acontecimentos foram gerando um sentimento coletivo de aversão com relação ao vocalista, principalmente por parte de outros músicos. A revista Far Out reuniu cinco músicos que abertamente fizeram comentários negativos sobre Morrissey. Confira:

1. David Bowie

Durante os anos 70, Bowie desafiava as convenções sobre a aparência e o som que se esperava de um artista de rock, algo que impactou Morrissey profundamente. À época, ele era um fã declarado do Starman. Tanto que, em 1991, ambos se apresentaram juntos para fazer um dueto da icônica canção do T. Rex, ‘Cosmic Dancer’, em um show em Los Angeles.

Porém, em 1993, uma atitude interromperia essa amizade bruscamente. Bowie fez uma interpretação da canção “I Know It ‘s Gonna Happen Someday”, lançada por Morrissey um ano antes. Porém, o camaleão do rock não tinha a intenção de homenageá-lo com o cover. Na verdade, em um depoimento resgatado pela Far Out, Bowie disse: “Ocorreu-me que ele estava parodiando uma das minhas músicas anteriores, e pensei: não vou deixá-lo escapar impune”.

Essa paródia se refere ao riff de saxofone feito na canção “I Know It ‘s Gonna Happen Someday”, de Morrissey, que lembra o fim da faixa “Rock and Roll Suicide”, de Bowie. Depois disso, a admiração de Moz acabou. Em 2004, ele disse que “Você tem que adorar David quando entra em seu templo. Hoje ele dá às pessoas o que acha que as deixará felizes, enquanto elas estão bocejando. Ao fazer isso, deixa de ser relevante, embora só o tenha sido por acidente mesmo.”

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2. Os outros integrantes do The Smiths

Nem mesmo o fato de Morrissey e Johnny Marr considerarem a última obra dos The Smiths, “Strangeways, Here We Come”, a melhor de todas da banda, não foi suficiente para que eles pudessem continuar ou manterem-se em boas relações. Depois de encerrarem as atividades da banda, o baterista Mike Joyce e o baixista Andy Rourke recorreram ao tribunal ao descobrirem que Marr e Morrissey ficavam com 80% dos royalties dos Smiths.

Joyce e Rourke ganharam o processo e receberam a quantia justa de dinheiro, alegando que haviam sido reduzidos a “facilmente substituíveis como as peças de um cortador de grama”. Então, Morrissey chamou-os de ineptos musicalmente. Além disso, recentemente brigas entre Johnny Marr e o ex-vocalista vieram à tona. Quando falaram sobre um retorno do The Smiths e Marr rejeitou a oferta, Morrissey deu a entender através de uma postagem que ele estaria com uma carreira muito mais bem-sucedida do que a de seu ex-companheiro de banda. “Morrissey irá fazer uma turnê pelos EUA que está majoritariamente com ingressos esgotados em Novembro.

Marr continua excursionando como um convidado especial do New Order.”

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3. Robert Smith (The Cure)

A rivalidade entre Morrissey e o The Cure começou quando a banda de Robert Smith mergulhou no universo do rock gótico. Morrissey, vocalista do The Smiths, criticou o grupo, alegando que faltava profundidade à sua música. Em resposta, Robert Smith deixou clara sua própria opinião sobre o cantor. Na época, enquanto o cenário underground britânico se tornava cada vez mais sombrio, o The Smiths mantinha influências dos anos 60, mas Morrissey minava a leveza do som com letras melancólicas. Para ele, havia espaço para apenas um “jovem deprimido” na cena inglesa, e a ascensão do The Cure acabou acirrando ainda mais essa disputa.

Smith falou em 1989, em entrevista ao The Quietus, o seguinte sobre Morrissey:

“Ele é um idiota miserável. Ele é tudo o que as pessoas pensam que eu sou. Morrissey canta a mesma música toda vez que abre a boca. Se ao menos as pessoas soubessem o quão fácil é estar em grupos como os Smiths…”

Apesar de Smith ter feito algumas tentativas de manter as coisas amigáveis ao longo dos anos, ele ainda comenta que não se importa muito com a música do The Smiths, considerando-a carente da profundidade que Morrissey uma vez alegou faltar nas músicas do The Cure. A cena musical pode ter se enriquecido com o The Cure e o The Smiths, mas não é de surpreender que um romântico gótico e uma das personalidades mais ácidas do cenário musical não conseguissem se entender.

4. Matt Berninger (The National)

A presença de The Smiths foi fundamental para inspirar bandas como The National, banda estadunidense de indie rock e post-punk, evidente na forma como Matt Berninger adota um estilo vocal emotivo que lembra o tom trêmulo de Morrissey. No entanto, com o tempo, Berninger se distanciou da admiração pelo ícone, especialmente devido às declarações controversas de Morrissey.

Em entrevista ao The Guardian, Berninger mencionou que já faz um bom tempo desde a última vez que ouviu Morrissey, explicando que é “difícil separar a repugnância das coisas que ele disse” de sua influência musical. Mesmo que ainda toque faixas clássicas como “The Queen is Dead”, Berninger já não se vê tão ligado ao artista como antes. “Eu tenho um amor genuíno por ele. Mas estou no mesmo barco que todos os fãs de Morrissey, tipo: ‘Aff, por favor!’”, finalizou o artista.

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5. Warlock Pinchers

A banda punk americana Warlock Pinchers expressou duramente seu desprezo por Morrissey na música “Morrissey Rides a Cockhorse”. No início, eles não apenas criticam “Suedehead” — uma das canções de maior sucesso do artista — classificando-a como tediosa, mas também partem para insultos diretos, chamando Morrissey de “chorão sem talento” e “idiota bastardo”.

Em uma entrevista de 2019 ao Westword, o vocalista Andrew Novick explicou que a inspiração para a faixa, lançada no final dos anos 80, veio da crescente popularidade de Morrissey e do que a banda percebia como sua postura calculada e exageradamente melancólica. Para Novick, essa atitude tornava o cantor um alvo fácil, e a banda não hesitou em criticar sua personalidade e seu estilo, vistos por eles como “pomposos e calculados”.

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