(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 18 de junho de 2025)
Há dois anos e meio o Brasil não tem nenhum tipo de política econômica ou, até mesmo, de qualquer atuação mais ou menos planejada de gestão nas suas finanças. Não existe ministro da Fazenda. Há, em seu lugar, apenas um diletante que está lá com a única e exclusiva função de concordar em tudo com um presidente semianalfabeto — e, sobretudo, de não atrapalhar ninguém com os perigos da racionalidade, do senso comum e das quatro operações da aritmética. Não existe plano nenhum — A, B ou C. Não existe, enfim, a peça. Só existem o cenário, os holofotes e a fantasia.
O Brasil tem uma economia de US$ 2 trilhões e resultados de anão — uma população sistemicamente pobre, níveis de ignorância que se destacam entre os piores do mundo e, para não alongar a história, índices de atraso tecnológico a cada dia mais irrecuperáveis. Sobrevive, hoje, à custa de um setor agrário detestado pelo governo, por seu partido e pela máquina estatal. A iniciativa privada responde por toda a produção útil, mas é tratada pelo mundo oficial como um inimigo que tem de ser reprimido, tratado sempre como suspeito, vigiado e utilizado como o governo colonial usava as minas de ouro de Vila Rica. A legislação regulatória, como um todo, é suicida.
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Os “resultados” oficiais que saem do Ministério da Propaganda e dos press releases publicados pela mídia são um cansativo conto do vigário; é o Juanito Caminante que mostra RG de Johnnie Walker e é fabricado em Ponta Porã. O desemprego, anuncia-se em Brasília, está em níveis baixos. Mas há um recorde absoluto no número de pessoas que vivem da esmola do Bolsa Família — mais de 50 milhões de pessoas condenadas à mendicância perpétua pelo governo.
O Brasil é um fracasso econômico
O crescimento de 3%, ou algo assim, é celebrado nas análises econômicas chapa-branca como um êxito de proporções chinesas — uma tolice, apenas, quando até uma criança com 10 anos de idade sabe que não existe um miligrama de aumento de produtividade neste porcentual, mas só consumo criado pelo próprio governo.
Os juros estão à beira dos 15% — coisa que esse mesmíssimo governo julgava crime de lesa-pátria até meia hora atrás, quando a gerência vinha do governo anterior. Os investimentos estrangeiros, já na casa dos trilhões de dólares com o fabuloso trabalho feito por Lula e Janja em sua viagem permanente ao redor do mundo, são de um tipo até hoje desconhecido — o investimento oral, que dispensa a utilização de dinheiro. O resto é pior.
O fato da vida real, quando se deixa de lado essa embromação toda, é que o governo Lula abandonou qualquer pretensão em matéria de administração da economia: a única “política” que tem, quando a palavra “economia” passa por sua frente, é aumentar os impostos. Não é um “modo de dizer”. É exatamente isso mesmo: fora o aumento de imposto, todo o programa econômico de Lula é um triplo zero ao quadrado. Não há vida no Lula-3 fora do Fisco. Pense numa medida qualquer ligada à economia: a reação automática do Palácio do Planalto, hoje, é chamar o chefe da Receita Federal, e não o ministro da Fazenda.
Que “política econômica” seria humanamente possível esperar de um secretário da Receita? Já se viu todo tipo de coisa na História Universal, menos uma: desde os tempos do faraó, nunca se saiu de alguma reunião com o Coletor-Geral que tenha terminado em redução de impostos. O presidente e a gataria gorda chamam o homem e dizem: “Está precisando de dinheiro aqui”. O que ele vai fazer? Sai por aí procurando uma alíquota. Sempre acha. Você sempre paga.
Mais impostos, menos cortes de gastos
Para piorar as coisas, Lula veio para este seu terceiro mandato com uma ideia fixa: o grande problema do Brasil, acha ele, é que o brasileiro paga pouco imposto. Engatou numa conversa esquisita de que “gasto é vida”. Convenceu a si próprio que a única função lícita das empresas é produzir renda para o Estado; podem até ter lucro, desde que entreguem o máximo desse lucro para ele. A mera menção de reduzir o gasto público é mecanicamente denunciada como prova de “fascismo”. Fora essas coisas, Lula não pensa nada.
O resultado concreto é que a população brasileira está sendo obrigada a pagar um novo aumento de imposto a cada 37 dias — algo jamais visto antes na história deste país. O governo, em todos os seus níveis, vai arrecadar R$ 4 trilhões neste ano, mas opera no cheque especial desde o primeiro dia. A produtividade se aproxima do estado de coma. Lula transformou o Estado brasileiro numa imensa Casa Grande sustentada por trabalho análogo à escravidão.
Num país em que há um Congresso aberto, por pior que seja ele, era inevitável que essa soma de primitivismo, irresponsabilidade e ganância levassem a problemas entre o Poder Legislativo e o consórcio Lula-STF. Não deu outra. Estamos aí em mais uma crise legislativa enjoada, com o governo querendo uma coisa, que é aumentar imposto, e o Congresso querendo outra. À essa altura, justo à essa altura, o ministro da Fazenda sai de férias. Aí fica difícil.
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