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Brasil acelera verticalização com arranha-céus de luxo

O cenário de arranha-céus de luxo no Brasil tem se expandido para além dos grandes centros urbanos: já alcança cidades do interior e tem mudado o perfil arquitetônico nacional. O crescimento do setor é impulsionado por empreendimentos de alto padrão, apartamentos com valores que chegam a centenas de milhões de reais e uma clientela formada por empresários, profissionais liberais e investidores do agronegócio.

A Talls Solutions, empresa do grupo FG dedicada a consultorias para projetos de grande altura no país, fechou 25 contratos em menos de um ano, segundo a apuração da revista Veja. Agora, a empresa negocia outros 30, o que sinaliza forte demanda pelo segmento.

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O Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano aponta que existem pelo menos 21 edifícios com mais de 200 metros em construção ou projeto no Brasil. Em São Paulo, há quatro empreendimentos desse porte previstos, sendo três residenciais e um comercial, este último no complexo Alto das Nações, Zona Sul, com entrega prometida pela WTorre para o início de 2026.

Foto: Reprodução/Revista Veja

“As lajes estão 100% vendidas e o trabalho agora é atrair empresas para a locação desses espaços”, afirmou Marco Siqueira, presidente da WTorre.

Entre os edifícios residenciais paulistanos, destacam-se duas torres da Cyrela em parceria com a J. Safra Properties, ambas com 210 metros, e um projeto de 209 metros da One Innovation, programado para ser lançado em 2026. O avanço das construções depende de legislações flexíveis, como as adotadas em Balneário Camboriú (SC) e no novo plano diretor de São Paulo, que liberou edificações altas em regiões movimentadas.

Mesmo com normas favoráveis, a viabilidade econômica exige um mercado imobiliário aquecido e valorização dos imóveis. O índice FipeZAP indica que, nos últimos 16 anos, os preços subiram dez vezes acima da inflação.

A verticalização, embora alvo de críticas por possíveis impactos urbanos, pode trazer benefícios se bem planejada. “Planejadores impõem limites de altura por associarem densidades altas a externalidades negativas”, explicou à Veja Gabriel Ahlfeldt, economista da Universidade Humboldt.

Os edifícios mais altos são acessíveis a uma parcela restrita da população. Tatiana Cequinel, presidente da Embraed, comentou sobre o perfil dos compradores: “É um público muito bom de trabalhar, que não traz problemas como inadimplência e não sofre tanto com ciclos econômicos.” A Embraed já lançou torres de destaque, como o Armani Casa Residences, com 270 metros.

Foto: Reprodução/Revista Veja

Desafios técnicos e custos elevados na construção de arranha-céus

O custo elevado das obras se deve, em parte, às exigências técnicas. Prédios com mais de 28 andares demandam medidas de segurança específicas, o que faz o metro quadrado até 30% mais caro em construções acima de 150 metros, segundo Paulo Petrin, vice-presidente da One Innovation.

A complexidade dos projetos também impacta elevadores, que podem pesar até 12 toneladas. “Um arranha-céu está para a construção civil como um carro de Fórmula 1 está para o automobilismo”, disse Sérgio Wriedt, diretor da Atlas Schindler.

Além de ostentação, o endereço em torres de luxo atrai figuras do esporte, como o jogador Cristiano Ronaldo, e principalmente investidores ligados ao agronegócio, responsáveis por parte significativa do crescimento vertical. Cidades como Rondonópolis (MT), Rio Verde (GO) e Chapecó (SC) registram projetos de mais de 200 metros.

Em Palmas (TO), o edifício Excalibur Residence já comercializou 81 das 91 unidades. “Já vendemos 81 das 91 unidades do edifício”, relatou Kleber Rodovalho de Souza, presidente da cooperativa responsável pelo empreendimento.

Histórico e tendências internacionais

A trajetória da verticalização no país inclui períodos de avanço e estagnação. Nos anos 1940, o Edifício Altino Arantes, em São Paulo, foi pioneiro fora dos Estados Unidos, mas regulamentações rígidas frearam novos projetos durante décadas.

“Planos diretores com regras rígidas dificultaram a construção de prédios mais altos”, explicou o arquiteto Luis Henrique Villanova. Experiências internacionais, como Londres e Toronto, mostram que diretrizes flexíveis favorecem o diálogo entre construtoras, mercado e sociedade.

No ranking global, a China lidera com 1.271 arranha-céus acima de 200 metros, seguida pelos Estados Unidos, com 247. O Brasil possui apenas cinco, mas a tendência é de crescimento.

O Burj Khalifa, com 828 metros, mantém o título de edifício mais alto do mundo, enquanto a Jeddah Tower, na Arábia Saudita, deverá ultrapassar 1.000 metros em 2030, após a retomada das obras em 2024.

O prefeito de Sorocaba (SP), Rodrigo Manga (Republicanos), propõe construir uma torre com mais de um quilômetro de altura como parte do plano de revitalização do centro da cidade. O projeto, que depende de parcerias público-privadas, ainda não possui detalhes definidos. Enquanto isso, o movimento de verticalização segue em ritmo acelerado e mostra que, para o setor de arranha-céus no Brasil, os limites continuam a ser desafiados.


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