
O Brasil conseguiu atravessar os casos de influenza aviária registrados em 2025 com impacto limitado na produção e nas exportações. A avaliação é do presidente da ABPA, Ricardo Santin, durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira (3), em São Paulo. Ele afirma que o país “está muito melhor preparado” para enfrentar novos episódios da doença e preservar mercados.
Além disso, concorrentes como União Europeia e Estados Unidos sofreram perdas bem maiores, enquanto o Brasil manteve estabilidade e participação de quase 40% do mercado global.
De acordo com os dados divulgados pela entidade, apesar da alta modesta de 0,5% nas exportações este ano, o país conseguiu sair do cenário de crise com integridade. A expectativa é que o embarques cheguem em 5,32 milhões de toneladas, com perspectiva de um avanço ainda maior em 2026, de 3,4%, com 5,5 milhões de toneladas.
Segundo Santin, a reação rápida da cadeia, aliada ao avanço da regionalização sanitária, foi decisiva para reduzir prejuízos e evitar interrupções mais amplas. “O cuidado valeu a pena. Nós trabalhamos bastante para chegar até aqui”, afirmou.
Santin destacou ainda que a União Europeia, um dos principais competidores do Brasil, enfrenta queda nas exportações, agravada pelo aumento dos casos de gripe aviária. Os Estados Unidos, segundo maior exportador global, também registram recuos expressivos e perderam espaço no mercado internacional. Nesse cenário, a Tailândia ganhou participação ao ocupar o vácuo deixado por europeus e norte-americanos.
Regionalização ampliada protege mercados
Para Santin, o trabalho técnico após o primeiro caso de influenza aviária foi determinante. “Eu rezo muito, bato na madeira, mas o que funciona mesmo é trabalhar bastante”, brincou. Ele explicou que o Brasil ampliou significativamente o número de mercados que adotam a regionalização, o que evita o fechamento total das exportações em caso de foco localizado.
Atualmente, o Japão já reconhece a divisão por município; as Filipinas adotam o mesmo modelo; Coreia do Sul e México seguem a regionalização por estado; e o Peru opera por município. Outros países, como Arábia Saudita, Argentina, Reino Unido (com raio de 10 km), Vietnã e Malásia, também avançaram nesse tipo de protocolo.
“Temos mais de 122 mercados que não fecharam no primeiro caso. Hoje, estamos muito melhor preparados para enfrentar 2026. Espero que não aconteça, mas, se acontecer, os impactos serão menores”, avaliou.
Impacto pequeno na receita e estabilidade da produção
O presidente da ABPA afirmou que a perda na receita cambial foi restrita, ficando entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões dentro de um universo de US$ 9,8 bilhões. “Quando vejo os Estados Unidos, que perderam mais de US$ 3 bilhões em um ano — e mais de US$ 10 bilhões em cinco anos —, essa também é uma vitória importante”, disse.
O recuo, segundo Santin, ocorreu principalmente pela troca de destinos. “Às vezes eu tinha um produto valorizado em dez em um lugar e tive que vender por oito em outro. Mas vendi”, afirmou. Apesar disso, o setor manteve estabilidade de produção, das empresas e das exportações, preservando o market share global de 38,6%.
Santin também destacou que nenhum produtor brasileiro perdeu lote em consequência da influenza aviária, diferente dos concorrentes, que enfrentaram redução de alojamentos, problemas na incubação e queda na oferta ao mercado interno.
Biosseguridade reforçada
Com a intensificação da doença no Hemisfério Norte, a ABPA ampliou as ações de prevenção. “Estamos reforçando o trabalho, levando essa mensagem ao produtor e à produtora. Valeu a pena o cuidado”, afirmou o o presidente da entidade.
Ele lembrou que a cadeia possui múltiplas barreiras de controle: acompanhamento nas granjas, assistência técnica, auditoria federal agropecuária, inspeção veterinária nas plantas e congelamento obrigatório a -18°C. “Dificilmente uma ave doente chega ao frigorífico”, ressaltou.
Santin também reforçou que não há transmissão da influenza aviária pelo consumo de carne e que muitos países fecham mercados por excesso de precaução.
Avanço nas negociações internacionais
A ABPA seguirá com missões técnicas para ampliar o reconhecimento da regionalização brasileira. Na próxima semana, representantes do setor participarão de agendas na África do Sul, um dos grandes compradores de carne de frango do Brasil. “A gente está trabalhando para mostrar a seriedade com que tratamos esse tema”, disse Santin.
Segundo ele, manter o Brasil em destaque no mercado global exige continuidade das ações de vigilância. “Além de rezar e bater na madeira, a gente trabalha”, afirmou. “Não podemos baixar a guarda.”


