O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, classificou como “um absurdo” a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que impõe o uso de tornozeleira eletrônica ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
A declaração foi feita durante entrevista coletiva nesta terça-feira, 22, depois de reunião com empresários e representantes do setor produtivo para discutir os impactos da sobretaxa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
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Segundo Caiado, a medida judicial contra Bolsonaro é desproporcional e não encontra respaldo legal, uma vez que o ex-presidente “não foi julgado, não é condenado, não responde por nenhum crime”.
Ele argumentou que a imposição da tornozeleira viola direitos fundamentais. “O direito para a pessoa falar, opinar, ter direito ao contraditório, isso aí é um direito que você tem”, afirmou o chefe do Executivo goiano, ao reforçar que esta medida “não se impõe a quem não foi julgado”.
O governador destacou que a decisão afeta a imagem de lideranças políticas e compromete a credibilidade das instituições. Segundo ele, a tornozeleira eletrônica é uma medida reservada a criminosos já condenados. “Você põe um bandido que está em progressão de pena, maloqueiro, não se utiliza tornozeleira eletrônica?”, perguntou.


Caiado também expressou preocupação com os “excessos” do Judiciário e cobrou isonomia na aplicação da lei. “Temos que entender os excessos que têm sido praticados”, disse. “O Supremo julga, não vinga.”
Ele ainda disse que todo político “tem que ser julgado dentro dos princípios da legalidade, independente de ser de direita ou de esquerda”, e comparou com o tratamento dispensado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando o petista esteve preso. “O Lula falava o tempo todo preso, então você não pode ter dois pesos e duas medidas.”
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Durante a mesma fala, o governador ampliou suas críticas ao governo federal e acusou Lula de utilizar o embate com os Estados Unidos como estratégia política. Segundo Caiado, a crise gerada pela sobretaxa norte-americana é consequência de uma “queda de braço” promovida por Lula, e não de uma disputa comercial legítima.
“O presidente convive com a Venezuela, com o Irã e outros países onde se tem os maiores líderes do terrorismo mundial, não tem direito algum de poder falar em soberania”, declarou, em referência ao discurso em que Lula atua como guardião da soberania nacional.


Para o governador, a retórica do petista tenta mascarar sua “incompetência como governante” e desvia o foco da crise econômica nacional. “A única motivação disso é política, Lula cria uma situação para se dizer soberano e esconder sua incapacidade de governar”, afirmou.
Caiado, que se apresenta como pré-candidato à Presidência da República, sugeriu que o modelo brasileiro favorece esse tipo de crise. “É a única situação em que eu vejo a prevalência do parlamentarismo sobre o presidencialismo”, analisou. “Estaria dissolvido o governo, dissolvido o Congresso, eleições novas, todo mundo, pronto, decidiria o que é que o Brasil quer”, disse.
Ao ser perguntado se o povo brasileiro apoiaria a atual postura do governo federal, o governador respondeu: “Pergunta ao povo brasileiro: você quer ser aliado comercial dos Estados Unidos ou quer ser aliado comercial da Rússia?”, propôs. “Aí você vai ver quem é que o povo decide.”
Goiás prepara reação às tarifas norte-americanas
Caiado reiterou que Goiás, por iniciativa própria, adotou medidas preventivas para minimizar os impactos da nova tarifa norte-americana. Durante a coletiva, detalhou os três instrumentos que seu governo pretende utilizar: o Fundec (fundo de equalização de juros), o Fundo de Direitos Creditórios e o Fundo de Estabilização Fiscal.
Além disso, ele defendeu a exclusão do setor de saúde da lista de produtos atingidos pela tarifa. “É um gesto humanitário, não é possível a inclusão da área de medicamentos que são fundamentais para a vida das pessoas”, afirmou, ao citar a dependência brasileira de peças e equipamentos hospitalares dos Estados Unidos.
Caiado ainda se comprometeu a levar as demandas do setor produtivo ao Fórum de Governadores e criticou o governo federal por não ter, até o momento, apresentado soluções concretas. “Goiás está à frente”, declarou. “Um Estado sai à frente do país no momento em que sinaliza como poder minimizar as consequências que poderão advir desta taxação.”


A reunião desta terça-feira no Palácio das Esmeraldas marcou o começo das atividades de um grupo de trabalho que vai ouvir, até quinta-feira, representantes de setores diretamente afetados, como carne, pescados, mineração, açúcar orgânico, soja, citricultura e couro.
O objetivo é apresentar uma radiografia do impacto potencial da tarifa norte-americana e identificar empresas em risco iminente de insolvência, que poderão ter acesso prioritário aos fundos emergenciais.
Ao final da entrevista, Caiado reforçou sua crítica à condução do governo federal diante da crise: “O importante para ele [Lula] é poder ter: olha, aumentou minha pesquisa, melhorou a minha condição de disputa”, avaliou. “E você viu, a partir daí, jogar rico contra pobre, é nós contra eles.”
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