Qual o peso de uma medalha olímpica? Para Caio Bonfim, vai muito além de uma conquista pessoal. A prata inédita nos Olimpíadas de Paris mudou a vida do atleta brasiliense, mas também foi uma virada de chave para uma modalidade antes marginalizada.
No dia 1º de agosto de 2024, Caio Bonfim entrou para a história ao conquistar a primeira medalha do Brasil na marcha atlética. Ao cruzar a linha de chegada dos 20 km em Paris, o atleta não sabia que, a partir daquele momento, sua vida iria mudar.
Em entrevista à ESPN.com.br, Caio Bonfim admitiu que não esperava que um objeto de apenas 525 gramas (peso da medalha de prata) poderia causar tanta transformação. As mudanças foram sentidas nos dias seguintes, ainda nas ruas de Paris, e se estenderam para Sobradinho-DF, onde nasceu e se desenvolveu como atleta.
“Minha vida mudou depois da linha de chegada, o pódio já veio diferente. É o sonho de todo atleta olímpico subir no pódio. A primeira medalha você não sabe o peso, você sonha tanto com esse resultado, mas não sabe o valor, o peso que é uma medalha. Eu que venho de um esporte que não é muito popular no meu país, nunca tive audiência no nível de furar a bolha”, destacou.
“Sair nas ruas de Paris, as pessoas querendo tirar foto. Quando nossa vida muda completamente, muda todos os lados. Uma vida bem diferente, voltar para casa, ser recebido com festa, no carro de bombeiro. Aconteceu maior visibilidade e muita gratidão por poder ser conhecido pelo trabalho”, completou o atleta.
Até o som das buzinas mudaram depois de Paris. Antes, o barulho vinha carregado de ofensas e preconceitos por “andar rebolando”.
“Essa parte da buzina eu sempre brinco, porque é uma medalha que eu ganhei que não está na prateleira. A buzina da ofensa, do xingamento, para dar um susto, é trocada pela buzina do “vamos lá”, “é campeão”. Pessoal aqui de Sobradinho ainda brinca “cuidado, está tirando os dois pés do chão”. O que mudou? Eles estão acompanhando, é muito legal. Parece que quebrou um pouco aquela vergonha, de andar rebolando. Isso é muito legal, porque traz uma identificação e as próximas gerações vão crescendo com novo olhar”, comemorou.
Mais do que conquistas pessoais, Caio Bonfim quer deixar um legado e transformar a marcha atlética em um esporte reconhecido nacionalmente. O objetivo é inspirar e abrir portas para novos talentos.
“A medalha é uma chave, ela abre muitas portas. Você poder sentar, conversar, até sobre políticas públicas, patrocínio, veio mais recurso. Pessoas que a gente já estava conversando, fica mais fácil depois do resultado. Para mim melhorou bastante, acredito que tem muito para evoluir e estamos lutando bastante para que a marcha atlética e o atletismo ganhem com isso”, disse.
“A gente sabe que tem um hype, vai esquecendo, vai tendo novas histórias, novas narrativas, mas ainda sou medalhista olímpico. A gente tem que entender esse poder de influenciar as pessoas e mostrar o que é legal na marcha atlética. Tem melhorado bastante, novos praticantes. A marcha atlética não fazia parte dos Jogos da Juventude desde 2023 e agora você vê duas baterias. Fico feliz com isso”, reforçou.
Integrante do Bolsa Atleta, programa do Governo Federal que oferece apoio financeiro para atletas de alto rendimento, Caio Bonfim sabe da importância que os projetos sociais têm no esporte.
Os pais de Caio Bonfim, que também são seus treinadores, são fundadores do Centro de Atletismo de Sobradinho (CASO). A medalha olímpica fez o local ser mais reconhecido e trouxe melhorias.
“Foi muito bacana. Nosso clube, que é o CASO, cresceu mais o projeto social, a procura, pessoas querendo ajudar mais, a gente está tendo mais pessoas para trabalhar junto nessa parte administrativa. O objetivo do meu pai é dar a base, ele gosta de criar os atletas dele. Aí quando ele vê aquela meninada lá, brilham os olhos dele. Eu sempre falo que meu pai gosta de fazer campeões, mas ele fez muito mais cidadãos do que campeões. A pista de atletismo é minha segunda casa, mas do meu pai é a primeira. Essa medalha trouxe muitos frutos para nossa paixão”, contou o atleta.
Mas Caio Bonfim quer mais. Aos 34 anos, o atleta espera estar novamente no pódio em Los Angeles. Antes de 2028, porém, o brasiliense tem outros desafios.
“Nosso foco é Los Angeles, a gente pensa esses quatro anos de ciclo como se fosse uma escada. Esse ano tem Campeonato Mundial de Atletismo em setembro, ano que vem tem Campeonato Mundial de Marcha Atlética, vai ser em Brasília, depois o ano pré-olímpico que é super importante, com Jogos Pan-Americanos, outro Campeonato Mundial. É assim que você vai se preparando”, contou Caio Bonfim.
“Esse ano já bati meu recorde, fui campeão de uma etapa do circuito em Portugal, fui prata na Polônia, em Madrid. É ir trabalhando para ver até onde o talento vai. Ano passado foi meu auge e sempre falo que meu auge é o próximo ano. Vamos trabalhando para chegar nesse auge e representar bem nosso país”, finalizou.
E é assim que Caio Bonfim continua marchando, no esporte e na vida!