À medida que o Brasil se prepara para sediar a COP 30 em novembro deste ano, o momento não poderia ser mais oportuno para refletir e debater sobre o que o país precisa enfrentar para se firmar como líder climático.
Sendo historicamente o sexto maior emissor de Gases de Efeito Estufa (GEE) e outros poluentes, o Brasil carrega a responsabilidade e a oportunidade de moldar o futuro no combate às mudanças climáticas.
Há alguns elementos-chave para que a transição ecológica se concretize, sendo o engajamento internacional o primeiro deles. O Brasil é um ator relevante nas discussões globais sobre mudanças climáticas.
A recente apresentação da nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) para 2035 representa um compromisso importante de reduzir as emissões em até 50% em relação aos níveis de 2019, alinhando-se à meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
Essa ação não apenas reafirma o objetivo de zerar o desmatamento ilegal, como também anuncia a intenção de transferir Resultados de Mitigação Transferidos Internacionalmente (ITMOs), fomentando a participação ativa do Brasil no mercado internacional de carbono.
Além disso, a presidência brasileira do G20 reuniu importantes atores públicos e privados em torno do financiamento climático, expandindo a agenda nacional. Assim, o Brasil se coloca no centro da liderança climática, especialmente ao sediar a COP 30 em Belém — um evento que será decisivo para as negociações globais.
Redução do desmatamento no Brasil
Os dados recentes sobre desmatamento refletem um avanço significativo. A redução da destruição na Amazônia e no Cerrado, com quedas de 30,6% e 25,7%, respectivamente, entre 2023 e 2024, é um claro indicador de sucesso no combate à principal fonte de emissões do país.
Essa diminuição evitou a emissão de mais de 400 milhões de toneladas de CO₂ equivalente. A consolidação de uma matriz elétrica majoritariamente renovável, com destaque para a energia hidrelétrica, somada ao reconhecimento do Brasil como o sexto maior produtor de energia solar do mundo, demonstra o potencial do país em liderar a transição energética.
Essas conquistas, junto com a aprovação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), criam um ambiente regulatório favorável à redução de emissões e provam que a economia brasileira pode crescer de forma sustentável.
Além da mitigação, o Brasil reconhece a necessidade urgente de adaptação às mudanças climáticas. O lançamento da Estratégia Nacional de Adaptação (ENA), primeira etapa do Plano Clima, é uma resposta aos eventos climáticos extremos aos quais o país é vulnerável. Permanecer inerte diante dessa realidade é um luxo que o Brasil não pode se dar, especialmente considerando o custo estimado de R$ 1,8 trilhão no PIB até 2050.
Inovação e responsabilidade
Ao investir em projetos concretos que somam pelo menos R$ 100 bilhões nos próximos cinco anos para adaptação e resiliência, o Brasil terá a chance de apresentar essa meta ousada na COP 30 como um marco de inovação e responsabilidade.
Instrumentos financeiros criativos, como títulos sustentáveis e mecanismos de financiamento combinado, serão fundamentais para garantir recursos e estimular o investimento privado em adaptação climática.
A construção do Plano Clima, que busca tornar o Brasil uma economia de emissões líquidas zero até 2050, é um pilar central da governança climática. Paralelamente, o Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) desenvolve a Estratégia Brasil 2050, que avalia os impactos das mudanças climáticas e promove o alinhamento entre União, estados e municípios por meio da criação do Conselho da Federação.
Esse espírito de cooperação é essencial para enfrentar os desafios climáticos de forma conjunta, pois o conceito de “federalismo climático” reconhece que a ação climática deve ser responsabilidade compartilhada entre todos os níveis de governo.
Mesmo diante de desafios internos, como o aumento das emissões em alguns setores, o Brasil vem consolidando uma base robusta de políticas, estratégias e instrumentos financeiros para enfrentar as mudanças climáticas. Com metas ambiciosas, avanços no combate ao desmatamento, investimentos em energia renovável e um foco estratégico em adaptação e financiamento, o país está pronto para atuar como um influente protagonista no cenário climático global — especialmente com a proximidade da COP 30.
Mais do que nunca, o mundo precisa que o Brasil exerça sua liderança e sirva de exemplo sobre como enfrentar a crise climática com determinação e inovação, não apenas em benefício próprio, mas pelo futuro de todo o planeta.


*Ana Paula Abritta é diretora de Estratégia e Inovação da BMJ Consultores Associados, onde atua desde 2016 liderando equipes de Relações Governamentais, Inovação e Comércio Internacional. É mestra em Poder Legislativo (Câmara dos Deputados), com MBA em Comércio Internacional (FGV) e graduação em Relações Internacionais (UCB). É cofundadora da rede Women Inside Trade (WIT).
O Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.