O setor cafeeiro brasileiro acompanha de perto as negociações em torno de uma possível revisão das tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos. Em setembro, conforme dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), os embarques de café ao mercado norte-americano registraram queda de 52,8% em relação ao mesmo mês de 2024.
Diante desse cenário, o Cecafé intensificou o diálogo com o governo federal para tentar reverter o quadro. Nesta quarta-feira (22), representantes da entidade se reuniram com o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, no Palácio do Planalto, para tratar das estratégias de retomada.
Café é prioridade nas negociações com os EUA
De acordo com Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, o encontro foi “muito importante e produtivo”. Segundo ele, Alckmin solicitou uma análise detalhada sobre produção, exportação e consumo de café no Brasil e nos principais países produtores e importadores, visando preparar o terreno para a reunião entre os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, prevista para ocorrer na Malásia.
De acordo com Matos, duas frentes estão em andamento. A primeira é a suspensão total das tarifas sobre produtos brasileiros, proposta que já foi encaminhada oficialmente ao senador norte-americano Marco Rubio e às autoridades do Departamento de Comércio e do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR). A solicitação está sob análise do governo norte-americano.
“Os ministérios do MDIC, MRE, Mapa, Camex e Fazenda estão trabalhando de forma integrada para preparar essa reunião. O vice-presidente relatou que fez um pedido direto ao presidente Lula para que o tema seja tratado pessoalmente”, afirmou Matos.
A segunda frente, caso a suspensão total não avance, prevê o processo de isenção produto a produto, com o café brasileiro como prioridade na lista de análise. “Seguindo a orientação do vice-presidente, o café é o primeiro produto a ser incluído na lista de isenção, tanto do lado do governo brasileiro quanto do lado dos EUA”, destacou o diretor do Cecafé.
Impacto e expectativa para o setor
O avanço nas negociações é considerado essencial para reduzir os efeitos das tarifas, que elevaram o custo de entrada do café brasileiro no mercado norte-americano — um dos principais destinos da bebida nacional.
Marcos Matos reforçou que o diálogo entre os países continua intenso e que há otimismo moderado quanto a um desfecho positivo. “O governo brasileiro tem demonstrado sensibilidade com o setor e disposição para defender a competitividade do café nacional”, afirmou.
Para o Cecafé, a isenção tarifária seria um passo fundamental para recuperar a participação do Brasil nos Estados Unidos e fortalecer a imagem do país como líder global em sustentabilidade e qualidade no café.
Força do Brasil no mercado norte-americano
De um lado temos o Brasil, maior produtor e exportador de café do mundo. De outro, os Estados Unidos, que são os principais consumidores do grão brasileiro. Além da redução nas exportações, outra preocupação é com uma possível mudança nos hábitos do consumidor norte-americano.
“A redução desse mercado tem afetado o setor como um todo e aberto espaço para outros países. Isso preocupa, porque o consumidor norte-americano pode se acostumar a cafés sem as características do produto brasileiro”, afirma Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.
Reunião entre Lula e Trump no radar
As conversas entre o presidente Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no início do mês, aumentaram as expectativas no setor. O clima de otimismo também foi reforçado pela reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado norte-americano, Mauro Rubio.
Agora, as atenções se concentram na Malásia, onde os dois líderes estarão para participar da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).