O governo norte-americano impôs tarifas adicionais sobre o Brasil na ordem de 40%, que seriam adicionadas à tarifa já anunciada em abril de 10%, ou seja, os produtos brasileiros contaram com uma sobretaxa de 50%.
Os rumores durante o mês de julho apontavam para a crescente possibilidade de uma lista de exceções, o que de fato acabou se concretizando, o anúncio aconteceu no último dia 30 de julho.
A perspectiva inicial era que determinados produtos que não são produzidos nos Estados Unidos entrassem nessa lista. Na prática, as escolhas foram diferentes, alguns setores importantes foram contemplados a exemplo do setor de citrus, madeira e celulose, petróleo e de aeronaves. No entanto, houve algumas surpresas em relação as ausências, podendo ser aqui citados café, cacau, frutas, pescados e carne bovina.
Outro ponto que foi esclarecido pelas autoridades norte-americanas foi o adendo de que produtos embarcados até o dia 5 de agosto, que desembarquem nos portos dos Estados Unidos até o dia 5 de outubro, serão aceitos sem o adicional tarifário de 40%. O que se observou nos mais diferentes setores impactados foi a corrida para atender essas especificações e conseguir despachar as mercadorias a tempo.
As organizações que regem os setores que não foram contemplados na lista de exceções já começam a se mobilizar, tentando mitigar os efeitos do tarifaço em seus respectivos setores. No caso do setor da carne bovina, as estimativas são preocupantes: organizações como a Abiec e a Abrafrigo indicam que o Brasil pode deixar de arrecadar entre 1 e 1,3 bilhão de dólares em vendas de carne bovina para os Estados Unidos.
No entanto, as informações de bastidores apontam que as negociações persistem, visto que o setor da carne bovina conta com apoio dos importadores norte-americanos, que entendem que a substituição do produto brasileiro não é necessariamente simples no mercado internacional.
Carne brasileira sem competitividade nos EUA
A imposição de tarifas adicionais de 50% reduz substancialmente a competitividade brasileira. O quadro de momento, considerando as tarifas brasileiras de 76,4%, é o seguinte:
- Brasil: US$ 8.415 por tonelada;
- Austrália: US$ 7.169 por tonelada;
- Uruguai: US$ 6.951 por tonelada;
- Argentina: US$ 6.733,70 por tonelada;
A questão é que antes do tarifaço os preços médios do Brasil eram de aproximadamente US$ 6.100 por tonelada, ou seja, muito mais competitivo que os concorrentes. Desta forma o fornecimento de carne bovina pelos demais players representa maior pressão inflacionária em um setor que já sofre com preços acentuados pela atual posição do rebanho norte-americano.


Outro aspecto importante no mercado global da carne bovina é que apenas o Brasil dentre os grandes produtores da proteína tem condições de atacar várias frentes de demanda simultaneamente.
Se Uruguai, Nova Zelândia, Austrália e Argentina priorizarem o mercado norte-americano, a tendência é que outros mercados deixem de ser atendidos na mesma intensidade, o que pode abrir boas possibilidades de exportação do Brasil para o mercado asiático e até mesmo União Europeia.
O setor ainda conta com a esperança de que a carne bovina brasileira seja inclusa em uma lista tardia de exceções. No mercado físico do boi gordo a boa notícia está no lento processo de recuperação dos preços da arroba nas principais praças pecuárias do país. Aparentemente a questão do tarifaço foi assimilada pelo mercado que agora já convive com espaço para a retomada.
Recorde de exportações
Apesar da ausência norte-americana, a expectativa de Safras & Mercado ainda aponta para recorde de embarques na atual temporada, com espaço para importante crescimento da receita.
Está é outra premissa básica do setor carnes em 2025, as exportações são o alvo prioritário, com o país desfrutando de uma posição privilegiada no mercado global, apesar dos sobressaltos apresentados nos últimos três meses (Influenza Aviária de Alta Patogenicidade em granja comercial e tarifaço).
A expectativa ainda é de novas aberturas de mercado e expansão daqueles que são cativos ao Brasil no restante da década. O governo brasileiro anunciou um pacote de ajuda, priorizando os setores mais vulneráveis ao tarifaço, para a fruticultura nacional e para o setor de pescados a medida será de grande valia.
Por sua vez, o setor carnes se mostra mais resiliente, encontrando alternativas ao mercado norte-americano, com boas condições para expandir vendas e estabelecer um novo recorde de embarques em 2025.


*Fernando Henrique Iglesias é coordenador do departamento de Análise de Safras & Mercado, com especialidade no setor de carnes (boi, frango e suíno)
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