A Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado realizou nesta terça-feira, 15, uma audiência pública extraordinária para discutir as medidas adotadas pelo governo norte-americano que impõem tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.
A reunião, presidida pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), reuniu representantes do Executivo, da indústria, do setor agropecuário e da Associação Brasileira dos Importadores, e culminou com a articulação de uma missão parlamentar aos Estados Unidos.
O encontro foi convocado com base no Requerimento nº 17/2025, de autoria de Trad e do senador Esperidião Amin, para debater “a estratégia do Brasil diante da recente tarifa de importação imposta pelo Governo dos EUA”.
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Ao abrir os trabalhos, Trad destacou a necessidade de equilíbrio e pragmatismo diante da crise. “Não buscamos protagonismo, muito menos pretendemos transformar uma divergência comercial num espetáculo no campo político”, disse.
O presidente da comissão reiterou a disposição da Casa em contribuir com “um plano de ação eficaz, pragmático, equilibrado, para enfrentar este momento com inteligência, sabedoria, equilíbrio e diplomacia”.
Durante os debates, o embaixador Philip Fox, do Ministério das Relações Exteriores, detalhou os esforços prévios do governo federal. “Desde março, o Governo brasileiro engajou-se ativamente na defesa da preservação dos fluxos de comércio bilateral com os EUA”, relatou.
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Ele lembrou que, entre 6 e 28 de março, foram realizados contatos de alto nível e uma missão diplomática a Washington, como reuniões com o Departamento de Comércio e parlamentares norte-americanos.
Segundo Fox, os EUA mantêm superávits com o Brasil há 15 anos consecutivos. “Na balança de bens e serviços, os EUA acumularam US$ 410 bilhões em superávit com o Brasil nos últimos 15 anos”, afirmou.
Ainda assim, em 9 de julho, a administração Trump anunciou a tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras a partir de 1º de agosto, medida classificada como “de magnitude imprevisível”.
Senado ouve setor industrial sobre riscos econômicos
No papel de representar a Confederação Nacional da Indústria (CNI), Jefferson de Oliveira Gomes alertou que a tarifa “praticamente inviabiliza uma grande quantidade de negócios industriais”.
Ele informou que os setores mais afetados incluem metalurgia, máquinas e equipamentos, químicos, madeira e o setor aeroespacial. “Só o setor aéreo é consolidado o suficiente para resistir com mais força, mas empresas de médio porte terão dificuldades graves”, avaliou.
Michel Platini Juliani, presidente da Associação Brasileira dos Importadores, denunciou o risco de efeitos colaterais caso o Brasil adote medidas de reciprocidade. “Se houver reciprocidade ampla e irrestrita, vamos atingir frontalmente todo o mercado de importação do Brasil”, alertou, ao pedir que a Receita Federal seja envolvida nas discussões.


O representante do Ministério da Agricultura, Luis Rua, destacou o impacto nas exportações do agronegócio. “Só no ano passado, os EUA compraram US$ 12 bilhões do Brasil em produtos agropecuários”, ressaltou.
Itens como café, carne bovina, suco de laranja e celulose estão entre os mais prejudicados. Rua afirmou que o ministério já abriu 393 novos mercados desde 2023 e pretende acelerar a diversificação da pauta exportadora.
Entre os membros do Senado, houve consenso sobre a importância de uma ação coordenada. Hamilton Mourão (Republicanos-RS) defendeu uma “estratégia do mingau quente”, com ações discretas e diplomáticas. “Vamos utilizar nossas empresas e nossa diplomacia para abrir caminho pelo diálogo”, afirmou.
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O senador Carlos Viana (Podemos-MG) criticou o alinhamento geopolítico do governo brasileiro e o associou à deterioração das relações com os EUA. “O Brasil escolheu o lado errado, e isso está trazendo consequências para nós”, disse, ao defender uma missão parlamentar. “Já temos a possibilidade de agendas com os senadores Rick Scott, Jim Risch e Marco Rubio.”
A senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura, também apoiou a proposta da missão. “É hora de baixar a temperatura, levantar a cabeça, mas com serenidade e firmeza”, disse. Ela reforçou que a Lei da Reciprocidade Econômica deve ser usada “com responsabilidade, como último recurso”.
Ao final da reunião, o presidente da comissão confirmou que será formalizado um requerimento para oficializar a criação de um grupo de trabalho e a realização de uma missão parlamentar ao Congresso norte-americano. “Essa será transformada em requerimento que vai ser votado pelo colegiado do Senado”, anunciou Trad.