-
Kaique Lopreto, de São Paulo, e Yasmin Torres, de Teresópolis (RJ)
7 de set, 2025, 00:03
A seleção brasileira terá um desafio que vai além das quatro linhas no último compromisso pelas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. O adversário em campo é a Bolívia, às 20h30 (de Brasília) desta terça-feira (9), mas o grande obstáculo é mesmo a altitude extrema de El Alto, algo que praticamente exige da comissão técnica de Carlo Ancelotti um esquema verdadeiramente especial.
O Estádio Municipal de El Alto fica a impressionantes 4.090 metros acima do nível do mar e tem sido uma fortaleza para a seleção local, que não perdeu nenhum dos seis jogos que fez no local (quatro vitórias e dois empates, o que ainda a mantém na briga por um lugar na repescagem.
Deste modo, na tentativa de se proteger ao máximo, o Brasil adotará uma preparação diferente para encarar o obstáculo da altura. O plano começou na convocação, com a ausência de Vinicius Jr.
Suspenso contra o Chile, o craque do Real Madrid só poderia enfrentar a Bolívia, mas, segundo apurou a ESPN, foi preservado por Ancelotti também por conta do impacto físico que a altitude tem no seu estilo de jogo, sempre veloz e explosivo no ataque.
Além disso, a comissão técnica do Brasil optou por uma agenda especial, baseada em minimizar a exposição à altitude. O grupo viaja no dia 8, véspera da partida, para Santa Cruz de La Sierra, cidade boliviana sem altitude, e só sobe para El Alto horas antes de rolar a bola.
Essa estratégia não é nova, mas ainda gera debates. Segundo o cientista do esporte Rodrigo Aquino, é a melhor opção no cenário atual, muito por conta do calendário apertado que a seleção tem.
“A combinação da chegada algumas horas antes do jogo com o recurso das tendas de hipóxia pode representar a estratégia mais viável e eficiente para minimizar os efeitos fisiológicos da altitude sobre o desempenho. Isso reduz o tempo de exposição e, consequentemente, os sintomas agudos da altitude, como dor de cabeça, fadiga precoce, tontura e queda de desempenho esportivo”, explicou o médico.
Até pouco tempo atrás, a seleção boliviana costumava jogar no Estádio Hernando Siles, em La Paz, que fica a 3.650 metros acima do mar. Contudo, com a mudança de mando para El Alto, e o acréscimo de mais de 400 metros na altitude, os locais conseguiram um pouco mais de vantagem durante as partidas.
Por mais que a diferença pareça pouca, os impactos no futebol de alto rendimento são enormes. Rodrigo Aquino explica como esses metros a mais podem influenciar ainda mais no jogo.
“Embora a diferença pareça pequena, o acréscimo é significativo do ponto de vista físico e fisiológico. Acima dos 3.000 m, cada elevação adicional de 300 a 500 metros intensifica a queda do consumo máximo de oxigênio, o que significa maior dificuldade de recuperação entre sprints e aumento do desgaste físico e cognitivo”, justificou.
A partida na altitude será também uma experiência nova para quem dirige o Brasil. Nos tempos de Europa, o italiano Carlo Ancelotti nunca precisou se preocupar com jogos em grandes alturas. Ele próprio admitiu que pediria ajuda a outros treinadores.
“Para preparar o jogo contra a Bolívia, falamos com a comissão e com os doutores. Creio que vamos fazer um programa ideal para jogarmos nessa altura. Temos que adaptar melhor a nossa estratégia de jogo para jogarmos nessa altura. Nos próximos dias eu vou falar com treinadores que já tiveram essa experiência na altitude para tentar fazer o melhor como sempre”, disse o italiano.