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Como curar um STF narcisista? — Por Andre Marsiglia

*Por Andre Marsiglia

Na última semana, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), entrou para o rol dos pretensos civilizadores da nação brasileira ao dizer que pretende deixar como legado recivilizar o Brasil. Em uma tacada só, sua frase pressupõe que ele seja civilizado, e nós não, que ele  saiba o que é melhor para nós, e nós não. 

A pretensão de civilizar o outro geralmente faz parte daquelas ambições que expõem mais quem quer civilizar do que o objeto da varinha mágica civilizatória. No melhor estilo “quando Pedro me fala de João, sei mais de Pedro que de João”.

“A pretensão civilizatória, nesse sentido, é narcísica e egóica”

Andre Marsiglia

Diversos capítulos da nossa história foram cruéis e violentos em nome da pretensão de civilizar o outro, em nome da ambição dos que se julgam a última bolacha do pacote e querem ver no outro o espelhamento de si. A pretensão civilizatória, nesse sentido, é narcísica e egóica.

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E caso o civilizador, além de narcisismo, possuir também poder, o resultado de seu desejo pode ser trágico. A diferença entre Napoleões de manicômios e o imperador da França é muitas vezes o poder dado a um e a outros não. Ter poder é muitas vezes o que faz um ser levado a sério e outros serem levados a uma sessão de terapia. 

A pretensão barroseana não se destina, naturalmente, às salas de aula, livros ou debates públicos. Por se tratar do legado de uma Corte com muito — talvez todo —  poder, a coisa pode acabar ainda muito pior do que está hoje.

STF versus Twitter/X

Ministro Luís Roberto Barroso preside sessão plenária do STF, que discute descriminalização do porte de maconhaMinistro Luís Roberto Barroso preside sessão plenária do STF, que discute descriminalização do porte de maconha
Barroso durante sessão plenária do Supremo | Foto: Gustavo Moreno/STF

Nossos ministros do STF, decerto cientes disso, pretendem o quê? Ver o Brasil queimar em uma indesejável guerra como a promovida pelo Estado contra o arraial de Canudos, desta vez, um arraial virtual, que responde pelo nome de Twitter/X, e seus novos Antônios Conselheiros? Não percebem os danos e o ridículo histórico que pretensões como essa impuseram à nação? Não percebem que declarações como essa desestabilizam o país?

“Juízes que contribuíram com a civilização do país civilizaram, antes, a si mesmos e a seus colegas”   

Andre Marsiglia

Os grandes juízes que o Brasil já teve foram grandes por não se preocuparem com legados, por entrarem e saírem satisfeitos de terem cumprido sua função de forma discreta, sem sua assinatura ou grife terem sido mais relevantes que o conteúdo de seus votos. Juízes que contribuíram com a civilização do país civilizaram, antes, a si mesmos e a seus colegas, curando as ambições narcísicas com que o poder lhes acenou.

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Leia também: “O legado de Barroso”, artigo de Rodrigo Constantino publicado na Edição 237 da Revista Oeste


Andre Marsiglia é advogado constitucionalista especialista em liberdade de expressão. Professor de Direito Constitucional e doutorando pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Especialista do Instituto Millenium

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