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Como Flamengo e Palmeiras ‘cortaram na carne’ e saíram do fundo do poço ao protagonismo

Ricos, estruturados e finalistas da CONMEBOL Libertadores, que será decidida neste sábado (29), às 18h (de Brasília), com transmissão ao vivo do Disney+, Palmeiras e Flamengo nadam de braçadas há anos no futebol brasileiro e sul-americano. No entanto, esse cenário era algo imaginável se voltarmos para 2013.

Exatos 12 anos antes da final que acontece em Lima, no Peru, os dois clubes estavam no buraco. Salários atrasados, pouca estrutura e dívidas enormes faziam parte do cotidiano de Palmeiras e Flamengo. Até que dois presidentes até então desconhecidos do grande público foram eleitos e iniciaram um trabalho de reconstrução dos clubes.

Do lado alviverde, Paulo Nobre foi quem teve a missão de assumir um Palmeiras que estava na segunda divisão e que nem dinheiro para pagar uma conta de luz tinha. Na diretoria rubro-negra, Eduardo Bandeira de Mello tinha apenas a caneta para tocar um Flamengo afundado nas dívidas, sem credibilidade e que teve que devolver até mesmo Vagner Love, estrela da equipe, ao CSKA por não ter condição de pagar o acordo firmado no ano anterior.

No imaginário do torcedor, estar no patamar que os clubes ocupam hoje era praticamente inimaginável. No entanto, depois de um trabalho onde foi preciso “cortar na carne”, Palmeiras e Flamengo vivem “um outro patamar”.

Para falar detalhadamente sobre esse processo, o ESPN.com.br procurou os então presidentes Paulo Nobre (que preferiu não falar sobre o assunto) e Eduardo Bandeira de Mello. Pelo lado alviverde, Luciano Paciello, CFO da época, e Ricardo Galassi, diretor de Arena, homens de confiança de Nobre, atenderam à reportagem, assim como Bandeira. Eles contaram os bastidores sombrios dos clubes, algo bem distante da realidade atual.

“A dívida do Flamengo era cerca de R$ 800 milhões, com faturamento pouco maior de R$ 200 milhões. Era uma situação muito difícil, mas quem tem 40 milhões de torcedor encontra uma solução”, conta Bandeira sobre o cenário, bastante parecido com o do Palmeiras.

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Bandeira diz quanto era dívida do Flamengo e desabafa: ‘O clube não se respeitava’

Ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello falou em entrevista exclusiva à ESPN

“O total dos deveres e obrigações (total do passivo registrado na contabilidade no encerramento do ano de 2012) era da ordem de R$ 542 milhões. Obviamente, a situação era assustadora, não apenas pelo saldo da dívida em si, mas também pela baixa capacidade de pagamento, uma vez que a receita projetada era reduzida e a entidade não tinha crédito junto ao mercado financeiro”, recorda Galassi.

“O grande desafio era que o Palmeiras operava como uma empresa dos anos 1980, de forma manual, arcaica e tudo que precisava fazer era complexo. Foi grande choque onde tive que dar dois passos para trás, arregaçar as mangas e fazer com suor essa estruturação”, diz Paciello.

Além de ter a corda no pescoço com uma alta dívida, havia algo pior na visão das duas diretorias: a falta de credibilidade. Flamengo e Palmeiras não conseguiam sequer negociar dívidas, já que a falta de crédito no mercado impossibilitava o clube que engatilhava no processo de reestruturação. Sem moral com credores, cariocas e paulistas sofriam na hora de contratar atletas.

“Mas o passivo ético e moral eram maiores do que o financeiro. O Flamengo era um clube que não se dava respeito, não passava um exemplo positivo para os torcedores. Flamengo era um clube que não pagava em dia seus funcionários e atletas. Era um clube que você via no jornal que tinha sido despejado do CT por falta de pagamento, conta Bandeira.

“Isso é uma coisa que machuca muito o torcedor: a gente não gosta de perder em campo, mas não gostamos também de ser achincalhado. Na minha posse, falei que faria o esforço total para transformar o clube em um clube cidadão. E conseguimos”, completa o presidente que comandou o Flamengo de 2013 a 2018.

Pelo lado do Palmeiras, a situação era semelhante. Se o Flamengo teve de abrir mão de Vagner Love, o time alviverde perdia o seu artilheiro Hernán Barcos para o Grêmio. Na época, sem condições de pagar pelo atacante que estava valorizado, o Palmeiras receberia cinco atletas do tricolor. No entanto, um recusou o clube: Marcelo Moreno.

“Esse caso (envolvendo Barcos) foi bastante emblemático. Ele foi para o Grêmio, que mandaria cinco jogadores em troca. Só que um (Marcelo Moreno) em específico não quis vir”, recorda Paciello.

“No futebol, todos os jogadores se conversam. O Palmeiras não pagava em dia, renegociava dívidas com os atletas e não cumpria”, completa.

“A imagem do Palmeiras no mercado era uma desgraça em todos os aspectos: esportivo, administrativo, financeiro e institucional. Existia grande dificuldade em contratar bons jogadores e em se estabelecer relações com parceiros de negócios. Não havia credibilidade face as ações das gestões anteriores, principalmente as duas últimas. A instituição estava falida não só financeiramente, mas moralmente também”, afirmou Galassi.

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‘O dinheiro acabou’: os bastidores de um Palmeiras pobre e como clube deu volta por cima

Ex-CFO do Palmeiras, Luciano Paciello falou em entrevista exclusiva à ESPN

Novos tempos após muito trabalho

Em 2013, no primeiro ano da gestão Bandeira, o Flamengo foi campeão da Copa do Brasil. No entanto, a realidade financeira era bastante distante do ideal, assim como o Palmeiras, que conseguiu o acesso à primeira divisão naquele ano.

Apesar do choque inicial, Palmeiras e Flamengo começaram a trilhar novos caminhos após dois anos contendo gastos e priorizando as dívidas. A temporada de 2015 começava a trazer de volta o sorriso no rosto do torcedor.

Na Academia, a parceria com a Crefisa trazia o combustível que faltava para ter um time competitivo. Daquele elenco, Dudu e Zé Roberto foram as contratações mais badaladas da gestão e que acabaram determinantes na conquista da Copa do Brasil de 2015.

Estruturado, consciente nos gastos e saudável financeiramente, o Palmeiras ainda conquistou o Brasileirão no ano seguinte. No Rubro-Negro, os títulos de expressão, com exceção da Copa do Brasil de 2013, chegaram depois. Antes disso, contratações de impacto mostravam que o Flamengo seria outro em pouquíssimo tempo.

Em 2015, o clube carioca tirou Paolo Guerrero do Corinthians. No ano seguinte, Diego Ribas. Em 2017, Diego Alves e Everton Ribeiro, nomes que, com exceção do peruano, fizeram história no mágico time de 2019 e que depois enfileirou diversos títulos.

Para Bandeira de Mello, valeu a pena “cortar na carne” para mudar o patamar do Flamengo no futebol brasileiro.

“Tenho certeza que a partir do sacrifício que fizemos, associado a um choque de gestão, levou o Flamengo a um outro patamar como diz o Bruno Henrique. Multiplicamos a receita por quatro, reduzimos a receita e a partir de 2015 nunca mais você viu alguém falar de dívida. Dívida deixou de ser um problema e está assim até hoje”, lembra Bandeira.

“Como todo um clube grande, existe a cobrança, a busca por resultado. O torcedor vinha muito machucado. Foi importante que gestão tinha claro o que deveria ser feito. A responsabilidade com a instituição eram tomadas no Palmeiras. Isso era bom para o clube. Reestruturação não é corrida de 100 metros e sim uma maratona. Hoje é fácil falar do Palmeiras, mas para quem estava lá atrás… se falassem que o trabalho iria acontecer dessa forma, iria falar ‘é impossível isso acontecer’. Aconteceu porque a convicção no trabalho era grande”, finalizou Paciello.

Em outro patamar, Palmeiras e Flamengo agora duelam na final da Libertadores. Quem vencer no dia 29 de novembro se tornará o primeiro tetra do Brasil. Você acompanha a decisão a partir das 18 (de Brasília), no Disney+.

Onde assistir a Palmeiras x Flamengo?

Você acompanha Palmeiras x Flamengo pela final da CONMEBOL Libertadores, neste sábado (29), a partir das 18h (de Brasília), com transmissão do Disney+.

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