A Fórmula 1 chega ao Hungaroring para o GP da Hungria neste domingo (03). Com mais da metade da temporada já tendo passado, o grande destaque da competição até aqui tem sido a McLaren, que não só lidera o Campeonato de Construtores, como tem Oscar Piastri e Lando Norris em primeiro e segundo lugar no de Pilotos, respectivamente.
Quem escolheu 2025 para começar a acompanhar a Fórmula 1 pode imaginar que a equipe sempre esteve no topo do mundo do automobilismo, considerando a performance avassaladora e ainda os nove títulos de construtores já ganhos e mais 12 de pilotos. Mas quem assistiu os anos seguintes à saída do heptacampeão mundial Lewis Hamilton sabe que a realidade não é bem assim.
A McLaren vivia até recentemente nas sombras, sua gloriosa época de ouro com campeões mundiais em quatro décadas consecutivas desmoronou em 2013, quando começou uma seca de vitórias que beirou a vergonha. A outrora poderosa equipe era motivo de piada na Fórmula 1.
A partir daí, as estatísticas negativas começaram a se acumular, como mais de oito anos e nove meses sem vitórias, apenas 11 pódios em dez anos ou o penúltimo lugar no Campeonato de Construtores em 2015 e 2017.
Mas como a McLaren saiu desses números e retornou ao topo do esporte? A resposta disso não é simples mas começa com uma pessoa: Zak Brown
Zak Brown, o arquiteto do renascimento da McLaren
Paradoxalmente, e como costuma acontecer, as soluções para os grandes problemas vêm dos lugares mais inusitados. A equipe fundada pelo neozelandês Bruce McLaren e que viveu sua glória mais esplendorosa sob a batuta do inglês Ron Dennis encontrou sua redenção nas mãos de um norte-americano.
Foi Zak Brown, um ex-piloto, publicitário e empresário que chegou à McLaren em 2017 e, frente às ruínas de uma “civilização” histórica, reconstruiu a equipe da base ao topo.
Em uma entrevista recente ao podcast “How Leaders Lead”, Brown comentou que, quando chegou como diretor executivo à McLaren, encontrou uma cultura tóxica, na qual não havia confiança entre os membros da organização e se buscava culpados, em vez de respostas.
“A equipe tinha uma cultura de arrogância. Quando a Honda chegou, lutou muito, mas nos convencemos de que tudo era culpa dela. Deixamos a Honda, colocamos um motor Renault e, de repente, foi: ‘Oh! Acho que temos muita culpa em nosso fracasso’. Isso foi um grande alerta para nós”, disse ele.
“O que era grande era a nossa marca e a paixão do nosso pessoal e só precisava ser recalibrada”, disse Brown, que depois se dedicou a conseguir o talento adequado para que a McLaren voltasse a ser vencedora.
Primeiro, a McLaren mudou sua cara, voltou às cores do laranja de seus primórdios e se tornou mais bem-sucedida comercialmente. Os patrocínios inundavam, de forma organizada, os carros de Fórmula 1, mas ainda faltava vencer.
“Tudo o que é feito na equipe leva a um melhor desempenho na pista”, é a teoria de Zak Brown, mas faltavam os elementos que tecnicamente levariam essa máquina de negócios bem lubrificada ao primeiro lugar na tabela de pontos. E ele iria encontrá-los.
Os pilotos são o ponto crucial
Depois que a McLaren perdeu Lewis Hamilton, seu mais recente campeão mundial (2008), passaram por Woking Heikki Kovalainen, Jenson Button, Sergio Pérez, Kevin Magnussen, Fernando Alonso e Stoffel Vandoorne, antes de Zak Brown assumir o cargo de CEO.
Então, Zak começou a busca, e foi o jovem de 19 anos Lando Norris o eleito como dono do assento. Na época uma grande aposta, o inglês continua até hoje na McLaren.
Ao lado de Norris, desfilaram Carlos Sainz e Daniel Ricciardo, mas foi Oscar Piastri que, com o carro certo, consolidou a McLaren como tendo a melhor dupla do grid.
Ter Norris e Piastri é um acerto de Brown, mas talvez não seja o maior.
Andrea Stella, o chefe de equipe técnico e pragmático
Embora o líder indiscutível da McLaren seja Brown e seu conhecimento vá além do marketing, negócios e contratos, porque ele tem formação como piloto e conhece bem a parte técnica, ele precisava de um chefe de equipe que diagnosticasse, resolvesse, liderasse e harmonizasse o time na fábrica e na pista.
Os maus resultados levaram a que, em 2019, o comando fosse transferido para o experiente Andreas Seidl, mas quem concretizou os desejos de Brown de dar o último salto de qualidade foi Andrea Stella.
O engenheiro italiano, que trabalhou com Fernando Alonso na Ferrari, foi promovido ao cargo de diretor da equipe com um amplo conhecimento dos bastidores da McLaren.
Stella é direto, pragmático e focado em resultados e em como alcançá-los. Ele é transparente com os pilotos, diz claramente que eles podem correr, mas não podem desrespeitar aqueles que lhes dão o melhor carro possível.
Rob Marshall foi o trunfo que mudou a McLaren
O calcanhar de Aquiles da McLaren era o design do carro. Em 2021, ficou claro que o departamento de aerodinâmica e conceito mecânico precisava de mudanças ou, pelo menos, de acréscimos.
O melhor projetista da F1, Adrian Newey, não estava disponível, então Brown se dedicou a “roubar” alguém de sua equipe de trabalho na Red Bull.
A Aston Martin tentou fazer o mesmo ao recrutar Dan Fallows, o que deu errado, já que o engenheiro era apenas um operador e não um criador. O verdadeiro braço direito de Newey era Rob Marshall.
A experiência de Marshall como engenheiro da Benneton em 1994 e com sucesso na Renault de 2000 a 2005 levou-o à Red Bull, onde chegou em 2006 para crescer com Newey como chefe de design até 30 de maio de 2023, quando anunciou que se mudaria para a McLaren.
Após um período de “pausa” obrigatório, Marshall começou a trabalhar em janeiro de 2024 com a McLaren e a mudança foi repentina.
Antes de 30 de maio de 2023, a McLaren tinha 17 pontos em oito Grandes Prêmios, nos 14 restantes fez 285. Obviamente, esse progresso não é atribuído a Marshall, porque, teoricamente, ele não poderia contribuir com seu trabalho até janeiro.
Em 2024, o MCL38, com as atualizações que chegaram no GP de Miami, se tornou o melhor carro da F1.
Marshall, junto com seu segundo em comando Peter Prodromou, forneceram a ferramenta que faltava e a mais importante para o sucesso esportivo da McLaren: o carro de corrida.
No final, o cérebro por trás dessa transformação é Zak Brown, que não só tem olhos para a F1, mas também está em processo de tornar a Arrow McLaren uma competidora na IndyCar e, em 2027, participará com a United no WEC em busca da vitória nas 24 Horas de Le Mans.