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Como mental forte ajudou Arthur Gomes a superar drama com lesão na Rússia: ‘O que não nos mata, nos fortalece’

Nizhny Novgorod e Dinamo Moscou se enfrentavam pela 24ª rodada do Campeonato Russo, em 12 de abril deste ano.

Aos nove minutos do segundo tempo, aberto pela ponta direita, Arthur Gomes posicionou o pé esquerdo no gramado para arrancar – e sentiu uma dor enorme. Imediatamente pediu auxílio médico e caiu no chão.

Naquele momento, o ex-jogador de Santos e Cruzeiro ainda não tinha a real dimensão do problema. Arthur rompeu o tendão de Aquiles e, sete meses depois, segue em recuperação, já em transição para voltar a correr.

“Quando aconteceu, fiquei sem acreditar. Depois fui assimilando quão grave foi a lesão. Não esperava que seria tanto tempo sem jogar futebol”, admitiu em entrevista exclusiva ao podcast Futebol no Mundo, da ESPN.

O problema afastou o atacante da temporada russa, na qual o Dinamo está distante da luta pelo título nacional. Os meses de tratamento fizeram com que o jogador brasileiro fortalecesse outro lado de sua formação.

“Para o mental é muito difícil. Precisa estar muito forte. Usei esse momento para crescer mentalmente, me cuidar melhor nesse sentido também. O que não nos mata, nos fortalece. Estou com essa frase na cabeça”, explica. “É preciso ter muita resiliência. Estive mais próximo do meu filho, da minha família nesse período”.

Trajetória e relação com Ruben Amorim

Arthur foi contratado pelo Dinamo Moscou, que pagou seis milhões de euros ao Cruzeiro, em setembro de 2024. Revelado pelo Santos, passou também por Chapecoense e Atlético-GO antes de sair do Brasil pela primeira vez, negociado com o Estoril.

Apenas uma temporada na liga portuguesa foi suficiente para chamar a atenção do Sporting e de seu treinador à época, Ruben Amorim.

“O Ruben Amorim falou que me queria lá. Disse que, desde meu primeiro jogo em Portugal, ele não tinha tirado os olhos de mim. Minha estreia foi contra o Sporting”.

Arthur chegou a Alvalade para a temporada 2022/23. Ao todo, disputou 38 jogos em todas as competições, somando quatro gols. “Quando cheguei, no primeiro dia, o Ruben me chamou na sala dele e conversou comigo: ‘Vou te puxar todos os dias, exigir muito, você é uma aposta minha’. Ele me encheu de elogios e me deu muita confiança”.

O atacante se lembra muito bem da estreia na Champions League, no dia 13 de setembro de 2022, contra o Tottenham. Paulinho, aos 45 minutos do segundo tempo, fez 1 a 0 para o Sporting. Ele e os companheiros correram para celebrar, quando, de repente, foi chamado.

“Eu estava em êxtase, só feliz de já estar no banco na Champions. Ele me chama, eu vou e quase ninguém percebeu que eu ia entrar, por causa da euforia no estádio. Nem minha esposa, que estava na arquibancada, viu”.

Arthur recebeu a bola e partiu para cima da zaga inglesa. Ao fundo, ouviu os companheiros de defesa pedindo para ele segurar. O gol marcado está em sua memória até hoje. “Foi incrível”.

Mas a situação de Arthur no Sporting mudou radicalmente na preparação para 2023/24.

“Quando acabou a temporada, o Ruben me chamou e disse que contava comigo. Explicou como ia jogar e minha posição. Eu estava feliz no Sporting, aprendendo muito com ele e com a comissão técnica. Fui para as férias e então recebi uma ligação do diretor do clube, que me informou que o Ruben Amorim tinha mudado de ideia e iria mudar a tática do time. Disse também que eu era um jogador que precisava jogar e que era o único que ele via que não podia ficar no banco. Na hora eu tomei um baque, porque 15 dias antes ele tinha dito isso e agora eu não vou ser muito utilizado?”.

Arthur fez questão de ligar para o próprio Ruben Amorim, que lhe deu todas as explicações. Ao final, foi perguntado sobre o que achava. “Disse que não queria mudar a opinião dele, agradeci pelo tempo que passei com ele e agora ia ver o que faria”.

Naturalmente, os empresários do jogador receberam muitas sondagens, principalmente do Oriente Médio. A opção pelo Cruzeiro – presidido por Ronaldo e treinado pelo português Pepa – foi, acima de tudo, esportiva.

Base e dificuldades no Santos

Na infância, Arthur passou em um teste para a base do São Paulo e, por dois anos, viveu na estrada entre sua cidade natal, Uberlândia, e a capital paulista, já que ainda não tinha idade para viver no alojamento do Tricolor.

“Confesso que eu não gostava. Primeira vez que cheguei em São Paulo, assustei. Parecia que as pessoas estavam a 200 por hora o tempo todo. Uberlândia era mais tranquila, então eu falava para minha mãe que não queria ficar”.

Nilda, mãe de Arthur, decidiu então ligar para o Santos em busca de um teste para o filho, sem que ele soubesse. No entanto, não se identificou na chamada como mãe: apenas disse que conhecia um garoto muito talentoso. Após muita insistência, conseguiu.

“Ela ligou e disse que tinha um garoto no bairro dela, jogando na rua, que era muito bom. Conseguiu falar com o Bebeto, que era o diretor da base na época – e não sei como ele acreditou na história da minha mãe”.

Logo no primeiro dia da semana de testes, Arthur foi aprovado. A partir dali, começou sua trajetória na Baixada Santista.

Ao lado da mãe e dos irmãos, mudou-se aos 11 anos para Santos. Nilda deixou o salão de cabeleireiros onde trabalhava para apoiar o sonho dos filhos. Alguns meses depois, quase desistiu pelos altos custos.

A família Gomes morava em uma pousada e precisava se sustentar com uma pequena ajuda de custo do clube. Nesse período, Nilda trabalhou também na limpeza e na cozinha de uma das pousadas onde viveram, para ajudar a pagar as diárias do pequeno quarto com uma cama de casal, onde todos dormiam.

A ascensão de Arthur na base do Peixe e o primeiro contrato profissional, finalmente, deram estabilidade para a família.

Vida na Rússia

Aos 27 anos, Arthur tem contrato com o Dinamo Moscou até junho de 2029. A fase final de recuperação da lesão no tendão de Aquiles já acontece no rigoroso inverno russo – que não traz grandes lembranças para o brasileiro, que até chegar ao país jamais tinha visto neve.

“Eu estava ansioso quando falaram que ia nevar, porque eu nunca tinha visto neve. No dia que nevou, saí de casa e fiquei brincando. Depois foram passando os dias, o tempo cinza, nevando muito, aí falei: ‘Chega, não se vê o sol’.”

Banidos pela Uefa dos torneios continentais, os clubes russos têm oferecido excelentes salários para atrair talentos internacionais. A guerra com a Ucrânia está muito distante para quem vive em Moscou, e, em conversas com o futuro companheiro Bitello, Arthur se tranquilizou para concluir a transferência.

“Não foi uma decisão fácil, porque eu gostava muito do Cruzeiro, mas para dar uma segurança financeira para minha família foi muito importante. O futebol te dá essas oportunidades, de ganhar dinheiro e poder ajudar a família”.

Para quem já viveu os altos e baixos não apenas do futebol, mas da vida no Brasil, a citação utilizada por Arthur, sem necessariamente conhecer a original de Friedrich Nietzsche, cabe bem: “O que não me mata, me torna mais forte”.

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