
A trégua comercial firmada no fim de outubro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder chinês Xi Jinping já dá sinais de fragilidade. É o que indica uma análise publicada pela agência Dow Jones, destacando que as duas potências intensificam movimentos internos para reduzir vulnerabilidades, e que parte dos compromissos assumidos pode não ser cumprida.
Segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a China comprou apenas 332 mil toneladas de soja norte-americana desde o final de outubro. O volume representa menos de 3% do que Washington afirma ter sido prometido por Pequim até janeiro. A retomada das compras era considerada um dos pilares do acordo após meses de tensão na disputa transpacífica.
Apesar do sinal de alerta, especialistas ouvidos pela publicação afirmam que ainda é cedo para considerar um colapso da trégua. Daniel Kritenbrink, sócio da consultoria The Asia Group e ex-secretário assistente de Estado para Assuntos do Leste Asiático e Pacífico, lembra que ambos os lados já mostraram disposição de “causar dor” quando necessário, o que, na visão dele, pode levar à cautela para evitar escaladas desnecessárias.
Medidas internas alimentam tensão
Enquanto o ritmo das compras chinesas frustra expectativas, China e EUA avançam em estratégias próprias para reduzir dependências, o que pode gerar novos atritos nos próximos meses.
Do lado chinês, embora Pequim tenha concordado em suspender a ampliação dos controles de exportação sobre terras raras, o Ministério do Comércio está acelerando contratações no maior ritmo desde 2002 para reforçar a fiscalização dessas restrições, segundo Jack Burnham, analista da Foundation for Defense of Democracies.
Nos Estados Unidos, o governo avança em frentes paralelas. Washington firmou parcerias com Malásia e Austrália no setor de terras raras, adquiriu participações em empresas estratégicas como a MP Materials e segue buscando novas rotas de suprimento.
Com cada país fortalecendo sua resiliência interna, especialistas alertam que o cenário pode reacender a pressão sobre commodities agrícolas, especialmente a soja, peça central na relação comercial entre as duas maiores economias do mundo.

