A 20ª edição da feira Latin American Business Aviation Conference & Exhibition (Labace), maior evento de aviação executiva da América Latina, tomou conta da cidade de São Paulo no início do mês. Realizado no Aeroporto Campo de Marte, o evento reuniu diversos fabricantes e entusiastas da aviação, que ao longo de três dias fecharam negócios e trocaram experiências sobre um setor em plena expansão no Brasil.
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Entre os expositores da Labace, a norte-americana Textron Aviation ocupou parte do evento com seus jatos e helicópteros. Mas não por acaso. Trata-se de um reflexo da rica história das marcas que a empresa tem sob gestão: a Cessna Aircraft e a Beechcraft Aircraft.
Em entrevista exclusiva a Oeste, o vice-presidente de vendas da Textron, Marcelo Moreira, comentou o crescimento e o impacto do setor no Brasil.


“A aviação executiva brasileira é um mercado sólido”, afirmou Moreira. “A gente costuma vender muito para pessoas que já entendem da aviação de negócios e para pessoas que talvez tenham experimentado por meio de um parceiro ou de um familiar. Mas são pessoas que já conhecem nossas aeronaves e já conhecem os benefícios.”


Clyde Cessna, Walter Beech e o pioneirismo na aviação mundial
Mesmo com o atual sucesso das empresas ao redor do mundo, e com grande mercado no Brasil, as raízes da Cessna e da Beechcraft remontam ao século 20, na cidade de Wichita, no Kansas, Estados Unidos. No ano de 1925, o mecânico Clyde Cessna se juntaria a Walter Beech e Llyod Stearman para fundar a Travel Air Manufacturing Company. A parceria resultou na criação de duas pioneiras da aviação mundial.




Apesar de atuarem na mesma cidade, Cessna e Beech decidiram seguir caminhos diferentes. “Uma estava situada no lado oeste, que era a Cessna, e a Beechcraft no lado leste”, explicou Marcelo Moreira.
Clyde Cessna encerrou a operação em 1932 por causa da Grande Depressão dos Estados Unidos, uma crise financeira que assolou o país. Em 1934, no entanto, Dwane e Dwight Wallace, sobrinhos de Clyde, reabriram o negócio. O fundador voltou para as suas atividades na fazenda enquanto os sobrinhos expandiam a marca mundo afora.
“É muito bom trabalhar para uma empresa que muitas pessoas antes de mim já investiram bastante e que agora eu tenho a oportunidade de continuar esse legado”, disse Marcelo Nogueira. “Um legado que já foi construído lá atrás. Agora a gente cuida do futuro da marca e do futuro dos nossos clientes.”
Mercado brasileiro e a força do agronegócio na aviação executiva
Um dos motivos que impulsionam o crescimento da aviação executiva no Brasil é a pujança do agronegócio local. Responsável por quase 30% do Produto Interno Bruto (PIB), o agro, com milhares de fazendas espalhadas por um país de tamanho continental, exige uma cobertura com deslocamento rápido e contínuo dos seus fazendeiros.


A Textron reuniu um repleto portfólio de aviões na sua vitrine, com modelos que atendem aos mais variados tipos de clientes e demandas. O modelo Cessna Skyhawk, por exemplo, é uma aeronave a pistão amplamente usada em aulas de pilotagem.
O Grand Caravan, também da Cessna, é um monomotor que atua em diversas frentes: táxi aéreo, aviação executiva e até mesmo em algumas linhas aéreas. A aeronave comporta nove passageiros e pode operar em pista não pavimentada, pista preparada e até rios (quando equipado com o modo anfíbio). Atualmente, há uma frota de 200 unidades no Brasil.
Na linha Beechcraft, o mercado brasileiro é um forte consumidor do modelo King Air. Segundo Marcelo Moreira, vice-presidente da Textron Aviation, são cerca de 700 unidades em solo (e céu) brasileiro. Trata-se de uma aeronave versátil, bem-quista pelo agronegócio e que tem um alcance de mais de 3 mil quilômetros.
Na linha de jatos, a Textron Aviation também oferta diversos tipos de aeronaves. Os modelos introdutórios (light jets), como o Cessna Citation M2, J3 e J4, atendem os clientes que querem preservar a versatilidade, mas que também almejam uma maior autonomia e mais espaço para os passageiros.
“À medida que o negócio vai crescendo, que o passageiro precisa chegar à distâncias mais longas e precisa chegar mais rápido para cobrir um território em curto tempo, a gente vai crescendo junto”, explicou Moreira.
Aviação executiva e a infraestrutura no Brasil
O crescimento da aviação executiva do Brasil não impulsiona somente a compra de aviões, mas também a instalação de uma infraestrutura adequada para comportar estas máquinas.
No Brasil, a incorporadora de luxo JHSF cravou uma bandeira ao construir o São Paulo Catarina Aeroporto Executivo Internacional. Com uma pista de quase três quilômetros, o espaço tem 56 mil metros quadrados, dos quais 36 mil são de hangares. O cardápio do serviço de bordo do Catarina é assinado pelo luxuoso restaurante Fasano — também da JHSF.
Em Minas Gerais, o Aeroporto da Pampulha, na capital Belo Horizonte, liderou o tráfego de aviação executiva no primeiro semestre de 2025. Segundo o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea, foram 22,7 mil movimentações no período.
Em Cuiabá, o Grupo Bom Futuro, expoente do agronegócio brasileiro, investiu R$ 100 milhões para inaugurar uma ala de aviação executiva no aeroporto da empresa. Eles administram o espaço desde 2011. Trata-se do primeiro e maior aeroporto executivo do Centro-Oeste.


“Vender um produto é importante pra gente pra ter fatia de mercado e poder crescer, mas é importante fazer também a manutenção”, explicou Marcelo Nogueira. “O que adianta vender se o produto não pode operar da forma que ele foi prometido?”
Os centros de manutenção estão localizados nas cidades de Jundiaí (SP), Belo Horizonte e Goiânia. “Com essas três bases a gente tem atendido muito bem nossos clientes”, afirma o diretor da Textron Aviation.
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