Por Marcos L. Susskind
Acabo de ler o manifesto organizado pelo “Coletivo Vozes da Fiocruz Pela Palestina”, com um apelo para que o Brasil suspenda toda a cooperação com Israel seja nas ciências, nas pesquisas ou em tecnologia. Assinado por menos de 3% dos funcionários, ainda assim teve repercussão na mídia.
Li as meias verdades e mentiras inteiras. E vi uma distorção incrível que merece ser confrontada, conforme segue.
1º — genocida
Termo usado por todos os inimigos de Israel, é tão absurdo como oco de significado. A Palestina é habitada por 5,4 milhões de pessoas. O Hamas, que usa de costumeiras mentiras, fala em 53 mil mortos, mas “esquece” de mencionar que 23,5 mil são terroristas a seu serviço.
Há, portanto, nos números inflacionados pelo Hamas, 29,5 mil não terroristas, 0,5% da população da Palestina. Na 2ª Guerra Mundial, 6 milhões dos judeus foram exterminados, 33%, não 0,5% — isto é genocídio.
Se Israel quisesse fazer genocídio, com 3 ou 4 incursões aéreas eliminaria 1 milhão de palestinos concentrados no sul. No entanto, a mentira faz muitos ingênuos repetir o mantra do “genocídio”.


2º — chamado ao BDS (boicote, desinvestimento e sanções)
Este é outro mantra, de resultados terríveis… para os Palestinos. O BDS conseguiu a façanha de fechar a fábrica da Soda Stream na Cisjordânia, obrigando-a a mudar-se para Idan HaNeguev, a um custo imenso. Resultados:
- os cerca de 850 palestinos perderam seu emprego;
- nenhuma empresa Árabe se estabeleceu na área, desde o fechamento em 2015; e
- transportadoras árabes com 250 funcionários perderam seu mais importante cliente e, provavelmente, muitos dos 250 motoristas ainda não conseguiram empregar-se. O BDS atua contra o interesse dos pobres palestinos.
3º — interrupção de cooperação e intercâmbio com instituições israelenses
Israel é um dos líderes mundiais em ciência e tecnologia. O Instituto Weitzman é considerado o 2º mais importante do mundo em pesquisas médicas e científicas. Technion, Universidade Hebraica e o Weitzman estão entre as cem melhores universidades do mundo.
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Ao dividir por cursos, 11 faculdades israelenses estão entre as 50 melhores. Israel tem 10 milhões de habitantes. O Brasil, com 215 milhões, não tem nenhuma entre as cem melhores universidades e nenhum curso entre os 50 melhores. Quem perde com este rompimento?
“O manifesto da Fiocruz chama Israel de neonazista. Mas é nos territórios da Palestina que os gays são atirados vivos, amarrados, do alto de edifícios”
4º — rompimento com o sistema hospitalar de Israel
Hospitais de Israel recebem palestinos de Gaza, da Cisjordânia e cidadãos sírios para tratamento inexistente em seus países. Milhares de vidas de palestinos foram salvas em hospitais israelenses. Centenas de médicos brasileiros estagiaram em hospitais de ponta de Israel. Algum foi aprender em Gaza ou na Cisjordânia? O fim da cooperação fere o Brasil ou Israel?
5º — patética designação de Israel como “nazista”
O manifesto da Fiocruz chama Israel de neonazista. Mas é nos territórios da Palestina que os gays são atirados vivos, amarrados, do alto de edifícios. É lá que as mulheres são pessoas de segunda classe. É lá que o governo é ditatorial e qualquer dissidência é executada.
Em Israel, cristãos, judeus, muçulmanos, druzos e circasianos — tanto homens quanto mulheres — têm exatamente os mesmos direitos políticos, econômicos, sociais e individuais. Pergunta-se: onde mesmo existe ditadura e restrições ao indivíduo?


6º — exigência de pressão sobre Israel, Estados Unidos, Reino Unido e os países da União Europeia
Este é mais um ponto interessante. Pedem pressão aos países acima, mas nem sequer mencionam Venezuela, Coreia do Norte, Cuba, Irã, Nicarágua, Congo ou Chade. Onde há mais liberdade, na lista em negrito ou nos aqui citados?
7º — o que ocorre hoje em Gaza é considerado a maior tragédia do século 21
Parece que os redatores do manifesto não sabem a tragédia que ocorre no Sudão (13 milhões de desabrigados, quase 190 mil mortos); no Iêmen (233 mil mortos, 1,3 milhão com risco de vida por fome); na recém terminada guerra civil na Síria (750 mil mortos, 6.5 milhões de exilados); e na guerra da Rússia contra a Ucrânia (2,7 milhões de mortos ou inválidos).
É um desrespeito a tantos mortos, feridos, exilados e deslocados esquecê-los em nome de um ridículo manifesto de cunho tão vergonhoso.
Leia também: “O desmonte do Itamaraty”, artigo de Adalberto Piotto publicado na Edição 275 da Revista Oeste