A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), marcada para novembro em Belém, terá pratos típicos da culinária paraense nos cardápios de seus restaurantes. Depois de críticas ao edital inicial, a Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) publicou uma errata nesta segunda-feira, 18, que libera o uso de ingredientes locais como açaí, tucupi, tacacá e maniçoba.
Na primeira versão, alimentos regionais estavam listados entre os itens de “alto risco de contaminação” e, portanto, proibidos. A justificativa era a possibilidade de contaminação por Trypanosoma cruzi, protozoário causador da Doença de Chagas, em produtos não pasteurizados como o açaí.
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A decisão gerou polêmica. O chef Saulo Jennings, fundador do restaurante Casa do Saulo e primeiro embaixador gastronômico da ONU Turismo, criticou a medida. “É um crime contra nosso povo, contra a nossa gastronomia, contra a comida que alimentou nossa ancestralidade toda, a gente só sobrevive por causa desse alimento”, disse em publicação nas redes sociais.
O recuo ocorreu depois de atuação do governo federal, representado pelo ministro do Turismo, Celso Sabino. Em reuniões com representantes do setor, o paraense ressaltou que Belém é reconhecida como Cidade Criativa da Gastronomia pela Unesco e que recentemente foi incluída por uma editora internacional de guias de viagem entre as dez melhores gastronomias do mundo.
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Na errata, a OEI informou que a mudança ocorreu através de “análise técnica” e que o edital passaria a “incorporar a culinária paraense”. A organização destacou que a seleção dos fornecedores vai priorizar empreendimentos coletivos, como cooperativas, associações, redes solidárias e grupos produtivos locais.
Também serão valorizados grupos ligados à produção de alimentos sustentáveis e à biodiversidade, entre eles povos indígenas, comunidades quilombolas, mulheres rurais, juventudes do campo e demais povos e comunidades tradicionais.
O edital estabelece que ao menos 30% do valor dos insumos adquiridos seja proveniente da agricultura familiar. As empresas deverão comprovar a origem dos produtos. No total, serão cerca de 90 pontos de alimentação no evento, segmentados em seis tipos de culinária.


As diretrizes também orientam os operadores a incluir opções veganas, vegetarianas, sem glúten e sem lactose, além de pratos adaptados a restrições religiosas. Há recomendação de “priorizar refeições à base de plantas” e de incentivar “a redução gradual do consumo de produtos de origem animal, dando foco especial na diminuição da carne vermelha”.
A comercialização de bebidas alcoólicas será autorizada apenas entre 15h e 21h, mediante solicitação prévia e apresentação de notas fiscais e declarações de cumprimento das regras, como a proibição de venda a menores.
A organização da COP30 esclareceu que as restrições e liberações definidas no edital são válidas exclusivamente para os espaços oficiais da conferência e não se aplicam a restaurantes e estabelecimentos da cidade de Belém ou do Estado do Pará.
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