O Ministério Público de São Paulo denunciou Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, pelos crimes de apropriação indébita, lavagem de dinheiro e falsidade de documento tributário no âmbito das investigações sobre cartões de crédito corporativo do clube.
Roberto Gavioli, gerente financeiro e que também exerceu o cargo em gestões anteriores, também teve seu nome incluído na ação.
A denúncia foi feita na noite da última terça-feira (14) por Cassio Conserino, promotor do MP-SP.
Segundo cálculos do Ministério Público, os valores totais somam R$ 480 mil, com correções. O órgão solicitou ainda a ambos o pagamento de 75% do valor a título por danos morais ao clube.
“O cartão empresarial, não da pessoa física, de nenhum dirigente, era utilizado como se fosse privado. Houve uma inversão da propriedade e um dos denunciados, o ex-presidente, passou a dispor desse cartão como se proprietário fosse e fez inúmeras compras particulares. Não digo uma, digo inúmeras compras particulares”, disse Cassio Conserino em entrevista nesta quarta-feira (15).
“Não é necessário muito escrutínio para saber que um cartão corporativo não é utilizado numa drogaria, numa clínica laboratorial, no hospital de ponta, em duty free. Esse dinheiro é da entidade esportiva Corinthians e não daquele que momentaneamente ocupa o cargo de presidente, até porque o estatuto previu a não remuneração de qualquer dirigente que ali esteja”.
No caso de Roberto Gavioli, a denúncia feita pelo Ministério Público parte de uma suposta omissão quanto à gestão dos cartões corporativos do Corinthians no departamento financeiro.
“Roberto Gavioli tinha o dever jurídico de impedir. É o garantidor do bem jurídico, era obrigado a conferir nota fiscal, verificar a pertinência do valor do gasto. Ele era obrigado a confeccionar relatório para os órgãos superiores internos. Só que nada disso foi feito. Ele disse que não tinha o dever de fiscalização, só que ele era gerente financeiro. Ele era remunerado para tal. Fazia parte do trabalho dele”.
Corinthians afasta gerente financeiro
O Sport Club Corinthians Paulista informa que afastou de suas funções nesta quarta-feira (15) – por tempo indeterminado e sem remuneração- o superintendente financeiro do Clube, Roberto Gavioli, para que o mesmo possa defender-se da denúncia oferecida pelo Ministério Público.
O Corinthians esclarece ainda que acompanha com atenção a denúncia envolvendo o ex-presidente Andrés Navarro Sanchez, colocando-se à disposição para fornecimento de documentos e informações necessárias ao Ministério Público e órgão internos do clube como Conselho Deliberativo, CORI (Conselho de Orientação), Conselho Fiscal e Comissão de Ética.
A Diretoria Executiva do Corinthians reforça seu comprometimento na colaboração com as investigações do Ministério Público e dos órgãos internos do clube.
O que diz a defesa de Andrés Sanchez
“A defesa de Andrés Navarro Sanchez, representada pelo advogado Fernando José da Costa, informa que foi surpreendida com o oferecimento de uma denúncia distribuída em apartado, sem juntada ao procedimento investigatório ao qual possui acesso. O teor da acusação só se tornou conhecido após coletiva de imprensa convocada pelo promotor responsável, que anunciou a denúncia por supostos delitos de apropriação indébita, crimes tributários e lavagem de capitais. A defesa destaca, desde já, a inépcia da peça acusatória e o evidente excesso na imputação, reiterando que a inocência de Andrés será comprovada ao longo do processo, agora presidido pelo imparcial Poder Judiciário”.
Entenda o caso
O PIC (Procedimento Investigatório Criminal) foi instaurado pelo Ministério Público em meados de junho deste ano, pelo promotor Cassio Roberto Conserino. À época, o órgão também agendou oitivas com o atual presidente, Osmar Stabile, o vice Armando Mendonça e o presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Jr., a fim de entender o funcionamento dos cartões corporativos do Corinthians.
Inicialmente, a apuração do MP iria abranger somente o período das gestões de Andrés Sanchez (2018 a 2020) e Duilio Monteiro Alves (2021 a 2023). Porém, após ouvir alguns depoimentos, o órgão decidiu investigar também o mandato de Augusto Melo.
Além de uma suposta apropriação indébita, são apurados também os possíveis crimes de estelionato, furto qualificado, falsidade ideológica e associação criminosa.
O caso veio à tona no início do mês de julho, quando Andrés admitiu ter utilizado o cartão de forma indevida para pagamento de despesas pessoais em Tibau do Sul-RN, no fim de seu último mandato, em 2020.
Dias após a revelação dos gastos, ele ressarciu o Corinthians com juros e correção monetária. O ex-presidente, no entanto, responderá a um processo disciplinar na Comissão de Ética e Disciplina do clube. Os torcedores pedem punições e até a expulsão de Andrés.
Houve, também, uma acusação de supostos gastos pessoais durante a gestão de Duilio Monteiro Alves. As despesas, contudo, não estão necessariamente ligadas ao ex-presidente. Ele não reconhece as faturas e registrou uma notícia-crime na Drade/Dope (Delegacia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva), solicitando a inclusão desta no inquérito policial já em andamento, que denuncia a circulação de documentos falsos e manipulados.
No início do mês de setembro, o MP pediu à Justiça que Andrés, Duilio e Augusto Melo sejam temporariamente afastados dos Conselhos Deliberativo e de Orientação do Corinthians durante a investigação. Até o momento, no entanto, não houve uma manifestação do Poder Judiciário.
Além das supostas despesas pessoais, o MP também abriu investigação para apurar uma possível ligação do clube com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), motivada pelo depoimento de Romeu Tuma Jr., presidente do CD do Corinthians, colhido pelo órgão.