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Crânio de Lampião ficou guardado em casa por 20 anos

Por quase duas décadas, descendentes de Lampião e Maria Bonita mantiveram em segredo, dentro de casa, os crânios do casal. A família assim o fez porque temia que alterações no cemitério de Salvador colocassem em risco os restos mortais. A decisão foi tomada depois de um alerta recebido no começo dos anos 2000 sobre possíveis mudanças no local do sepultamento.

Gleuse Ferreira, neta dos líderes do cangaço, relatou ao portal g1 que os crânios eram guardados em caixas e, ocasionalmente, expostos ao sol, sem que a família soubesse como proceder.

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“Estavam os dois encaixotados”, disse Gleuse, de 69 anos. “Trouxemos na própria caixinha que estava na gaveta e guardamos. E de vez em quando tirava para tomar um sol. Até então a gente não tinha ideia do que fazer.”

Expedita Ferreira, 92 anos, filha única do casal, revelou ao g1 que o segredo era mantido apenas entre familiares. “Era segredo de família”, relatou. “Guardava em casa [os crânios], como se guarda uma roupa, como se guarda um sapato.”

Envio dos crânios de Lampião e de Maria Bonita para análise científica

Em setembro de 2021, os dois crânios foram enviados ao Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), onde especialistas tentaram extrair DNA para análise. Apesar dos esforços, não foi possível obter material genético viável em virtude da exposição dos ossos a produtos como querosene e à luz solar por muitos anos.

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, nasceu em Pernambuco e ingressou no cangaço aos 19 anos, motivado por conflitos familiares | Foto: Reprodução/Wikimedia CommonsVirgulino Ferreira da Silva, o Lampião, nasceu em Pernambuco e ingressou no cangaço aos 19 anos, motivado por conflitos familiares | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, nasceu em Pernambuco e ingressou no cangaço aos 19 anos, motivado por conflitos familiares | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

Mesmo sem confirmação genética, os pesquisadores garantiram a autenticidade dos restos mortais. O doutorando e historiador José Guilherme Veras Closs explicou ao g1 que certeza é muito forte, bem justificada e testada pelas evidências.

Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, nasceu em Pernambuco e ingressou no cangaço aos 19 anos, motivado por conflitos familiares. Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita, nasceu na Bahia e ficou marcada pela atuação como companheira de Lampião. Ambos foram mortos em Angicos (RN) em 1938, ao lado de outros cangaceiros, cujas cabeças foram exibidas publicamente.

Exposição e trajetória dos restos mortais

De 1944 a 1969, as cabeças ficaram expostas no Instituto Médico Legal (IML) Nina Rodrigues, em Salvador. Depois de 1969, a família conquistou o direito de sepultar os restos no Cemitério Quinta dos Lázaros. A guarda dos crânios foi transferida para Aracaju em 2002, onde permaneceram até o envio para análise em 2021.

Da esquerda para a direita: Vila Nova, não identificado, Luís Pedro, Benjamin Abrahão (à frente), Amoroso, Lampião, Cacheado (ao fundo), Maria Bonita, não identificado | Foto: Reprodução/Wikimedia CommonsDa esquerda para a direita: Vila Nova, não identificado, Luís Pedro, Benjamin Abrahão (à frente), Amoroso, Lampião, Cacheado (ao fundo), Maria Bonita, não identificado | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons
Da esquerda para a direita: Vila Nova, não identificado, Luís Pedro, Benjamin Abrahão (à frente), Amoroso, Lampião, Cacheado (ao fundo), Maria Bonita, não identificado | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

O relatório dos pesquisadores detalha o desafio na reconstrução dos ossos, especialmente do crânio de Lampião, que chegou fragmentado. “O alto grau de fragmentação dos restos esqueletais de Virgulino representou um grande desafio para a reconstituição”, apontou o documento. Também foram relatadas lesões decorrentes da decapitação e más condições de saúde bucal.

Leia mais: “Imagem da Semana: fim do cangaço”, reportagem publicada na Edição 279 da Revista Oeste

O próximo passo da família é viabilizar o Memorial do Cangaço. Alex Daniel, advogado dos familiares, explicou ao g1 que o Memorial do Cangaço conta com o aval e a curadoria da família Ferreira.

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